A Nissan seguiu a receita japonesa ao lançar o novo Kicks. Posicionou a segunda geração do seu modelo no topo da cadeia alimentar dos SUVs compactos, tal qual faz a Honda com o HR-V e alguns outros competidores do segmento.
Apesar de atuar em uma faixa de preço em que convive com as mais variadas opções do mercado – entre carrocerias, marcas e até motorizações – o novo Nissan Kicks marcou bem território. Tanto que foi o carro eleito o Queridinho do Público, do Prêmio Lançamento do Ano 2026., além de ser apontado pelo júri de experiência como o vencedor na categoria Carros Familiar até R$ 200 mil.
Na votação aberta promovida pela Automotive Business, o novo Nissan Kicks superou outras estreias marcantes de 2025, como o Volkswagen Tera. Mas o que faz do SUV um carro tão especial para superar questões como seu posicionamento e o fato de não usar o motor mais forte da categoria?
AB teve contato por mais de uma semana com o novo Kicks em sua versão topo de linha Platinum. Foram mais de 200 km entre trechos na estrada e convívio na cidade, e agora vamos mostrar as qualidades e os defeitos do carro Queridinho do Público do Prêmio Lançamento do Ano.
Desempenho do novo Kicks

Quando se pensa em conjunto mecânico da Nissan logo vem à mente motor 1.6 aspirado e câmbio CVT. Isso mudou no novo Kicks, que adotou motor 1.0 turbo de três cilindros e caixa de dupla embreagem.
O motor é projeto da Horse, o mesmo que equipa do Renault Kardian, só que fabricado pela Nissan em Resende (RJ), onde também é feito o novo Kicks, e calibrado pela engenharia da montadora japonesa. São 125 cv com etanol e 120 cv, com gasolina.
O ganho nas arrancadas, se comparado ao velho Kicks 1.6 – que continua em linha com o sobrenome Play -, é bem tímido. Menos por culpa do motor, mais pelo porte do SUV, que cresceu e ficou pesado (1.366 kg). O 1.3 da mesma Horse talvez fosse mais adequado.
O câmbio de dupla embreagem banhado a óleo e seis marchas até tem certa agilidade, porém privilegia a tocada confortável. Isso fica evidente nas respostas mais cadenciadas do motor nas arrancadas.
Por isso, segundo a Nissan, o 0 a 100 km/h se dá em demorados 12,4 segundos.
Já as retomadas estão bem espertas nesse novo Kicks. Típicos de um motor turbo, o propulsor enche relativamente cedo. Com etanol, os 22,5 kgfm se apresentam nas 2 mil rpm – com gasolina, são 20,4 kgfm a 2.500 giros.
Neste caso, é pisar fundo que o câmbio engata rapidamente a marcha ideal – em vez de ficar gritando e segurando os giros como nos câmbios CVTs. O que torna as ultrapassagens bem mais certeiras.
Consumo

Pelos padrões do Inmetro para o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), o novo Nissan Kicks alcança as seguintes médias:
- Consumo etanol cidade: 8,3 km/l
- Consumo gasolina cidade: 11,7 km/l
- Consumo etanol estrada: 9,9 km/l
- Consumo gasolina estrada: 14,3 km/l
Na versão avaliada por AB, o computador de bordo marcou médias de 12,6 km/l em uso 80% urbano e com gasolina no tanque.
Dirigibilidade

O Kicks sempre foi um carro agradável de dirigir mas subiu bem a régua nesta segunda geração. Um aspecto que agradou muito aos jurados da categoria Carro Familiar Até R$ 200 mil do Prêmio Lançamento do Ano.
Feito sobre a plataforma modular CMF-B usada pela aliança com a Renault (e que serve a Kardian e Boreal), o novo Kicks está mais direto nas manobras e nas curvas. A carroceria tem boas rigidez e o SUV mergulha pouco nas frenagens.
Em altas velocidades na estrada, a direção também se mostra obediente. Lembrando que o novo Kicks tem assoalho vedado, para facilitar a aerodinâmica – as rodas aro 19” da versão Platinum também têm função aerodinâmica.
Um conjunto que revela o bom nível de construção desta nova geração. E sem comprometer o conforto no rodar, um dos principais predicados do Nissan Kicks desde seu nascimento.
Espaço e conforto
A base modular também permitiu um ganho nesse aspecto. O novo Kicks tem 4,36 metros de comprimento, 5 cm a mais que o Play. E entre-eixos maior que o de SUVs médios, com 2,65 m, 3 cm a mais que a antiga geração.
Isso se reflete em um banco traseiro bem menos acanhado. Ali cabem até três adultos de estaturas medianas, com vão adequado para pernas e joelhos.
Os bancos, especialmente os dianteiros, abraçam bem mesmo motoristas corpulentos como este que vos escreve. A posição de dirigir agrada, sem ser reta demais e com bons ângulos para volante e assento – o seletor do câmbio por teclas pede tempo para se habituar.
O porta-malas tem capacidade para até 470 litros e acomoda duas malas grandes sem dramas, além de mochilas e bolsas. O assoalho nivelado facilita a colocação das bagagens.
O isolamento acústico também merece uma salva de palmas, e filtra de forma eficiente os ruídos. Outro destaque é o acabamento interno, com materiais suaves ao toque e capricho no design e fechamentos.
Já o acerto da suspensão traseira (eixo de torção com barra estabilizadora) é eficiente. Mesmo assim, em quebra-molas e buracos o Kicks dá umas quicadinhas (perdão pelo trava-lingua).
Equipamentos

Desde a versão de entrada Sense, o novo Kicks oferece, em termos de segurança, controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão frontal, frenagem autônoma de emergência dianteira e traseira com detecção de pedestres, alerta de saída de faixa com correção da trajetória, seis airbags, câmera e sensor de ré, detector de fadiga do motorista, monitoramento da pressão dos pneus, entre outros.
No conforto, ar-condicionado automático, central multimídia com tela de 12,3″ e conexão sem fio com Apple CarPlay e Android Auto, quatro alto-falantes, painel de instrumentos digital com tela de 7″, freio de estacionamento eletrônico com Auto Hold e rodas de liga leve aro 17”.
A Advance acrescenta câmera 360, partida remota do motor, retrovisores rebatíveis eletricamente, carregador de celular por indução, bancos e painel com revestimento de couro sintético.
A Exclusive imediatamente acima recebe faróis Full LED, quadro de instrumentos digital com tela de 12”, rodas com aros 19 polegadas, sensor de estacionamento dianteiro e seis alto-falantes.
A Platinum topo de linha avaliada traz comandos do ar sensíveis ao toque, comando remoto para abertura e fechamento dos vidros e portas, som Bose com 10 alto-falantes e caixas nos encostos dos bancos dianteiros, sensor de ponto cego com assistente ativo de manutenção em faixa e teto solar panorâmico.
Pós-venda e manutenção
O novo Kicks oferece garantia de três anos ou 100 mil km, enquanto alguns rivais na mesma faixa de preço oferecem 5 anos (Jeep), 6 anos (Honda) e até 10 anos (Toyota). As revisões com preço fixo estão entre as com preços mais competitivos do segmento.
- 10.000 km: R$ 795
- 20.000 km: R$ 552
- 30.000 km: R$ 465
- 40.000 km: R$ 1.182
- 50.000 km: R$ 897
Posicionamento e vendas

O drama do novo Kicks é justamente seu posicionamento no mercado. Ele é vendido em quatro versões, com valores que o colocam para brigar no topo dos SUVs compactos e mesmo com utilitários medios.
- Novo Kicks Sense: R$ 166.990
- Novo Kicks Advance: R$ 177.990
- Novo Kicks Exclusive: R$ 184.790
- Novo Kicks Platinum: R$ 199.000
Para se ter uma ideia, esta versão Platinum custa o mesmo que versões intermediárias do Renault Boreal e do Jeep Compass, ambos com motores bem mais potentes e com dimensões maiores.
Pode complicar mais. O recém-lançado Leapmotor C10, tambem bem mais espaçoso e elétrico, sai por R$ 200 mil.
Mesmo assim, o novo Kicks soma 11.254 unidades desde o seu lançamento, em julho. O que dá uma média de 2.250 unidades por mês.
Fonte: Automotive Business
































