“Qualquer associação de classe será tão forte quanto os seus membros queiram fazê-la.”

Entre chineses e tendências, novo Salão do Automóvel testa seu próprio futuro

Organizadores apostam em experiência e proximidade para recuperar relevância do autoshow

25/11/2025

Público se organiza em filas para entrar no primeiro dia do Salão, no sábado, 22 (foto: Bruno de Oliveira)

Por Bruno de Oliveira

O clima é de aparente tranquilidade no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, que ocorre no Anhembi, em São Paulo (SP), desde a noite da última sexta-feira, 21.

A organização do evento fala em 85 mil visitantes no primeiro final de semana, um público considerado bom para um evento que ficou sete anos fora da agenda da cidade, e que retorna muito diferente do que já foi um dia.

Na chamada avant première do autoshow, as portas foram abertas para receber um grupo seleto de pessoas formado por concessionários e por visitantes abonados que pagaram R$ 1.000 para estar ali.

As entradas para o chamado público geral custam entre R$ 72 e R$ 188 dependendo do dia da semana.

O que se viu nos estandes, na oportunidade, foi uma presença maior de representantes do varejo de veículos, muitos deles entrando no evento por meio de ingressos distribuídos pelas próprias marcas.

O Salão, neste dia, não esteve cheio. Tampouco vazio.

Público geral bem diluído

Já no sábado, 22, no dia de abertura para o público geral, houve certa aglomeração na entrada do evento, pelo portão 2. A fila, no entanto, se deu mais pela dificuldade de acesso do que pelo volume de visitantes.

Um volume que foi intenso ao longo do primeiro dia, com as pessoas indo e vindo em ondas diluídas nos período da manhã e da tarde. De forma que a sensação que se teve era de que o evento não abrigava em seu interior uma multidão. O clima foi o mesmo na segunda-feira, 24, e no dia seguinte, na terça, 25.

O interesse do público esteve bastante concentrado em dois pontos nas primeiras horas após a abertura do Salão. O primeiro, óbvio, no corredor central do pavilhão onde a maioria das marcas concentraram os seus estandes.

Renault e RAM chamaram a atenção nesse sentido. Mas não há como negar que houve também forte interesse dos visitantes nos veículos das marcas chinesas, como Leapmotor, GAC e GWM.

Essas empresas souberam aproveitar a lacuna deixada por competidores tradicionais que ficaram de fora do evento para aproximar suas ofertas de consumidores que ainda não as conhecem.

O segundo ponto foi a área dos modelos premium, que foi batizada de Dream Lounge. Foram muitos os visitantes vistos por ali tirando fotos ao lado de superesportivos já consagrados no mercado.

Nostalgia e futuro: a nova proposta

O que mostra, de certa forma, que velhas formas de entretenimento envolvendo carros ainda funcionam, como é o caso da exposição de automóveis que não se vê — e não se entra — facilmente por aí.

Essa mistura de passado e futuro é uma tônica da 31ª edição do Salão, que volta a acontecer em momento de transição não apenas da indústria, mas também do mercado de eventos no formato autoshow.

“Nossa ideia era criar um evento para o público, para o visitante. O foco foi nesse grupo, e isso obviamente nos distanciou do que outros grupos gostariam de ter no salão. Não dá para agradar a todos”, disse Igor Calvet, presidente da Anfavea, na segunda-feira, 24.

A entidade que representa as montadoras com fábricas no Brasil é uma das organizadoras do evento, ao lado da RX.

Esse foco no cliente, segundo Calvet, tinha uma razão de ser, apesar da obviedade que a afirmação traz.

O desafio de reconectar marca e público

Na sua visão, ao longo dos anos de hiato do Salão houve um certo distanciamento das marcas com esse público considerado geral.

Se antes o evento era algo ligado à cultura local, com sua ausência da agenda isso teria se perdido de alguma maneira — por isso a necessidade de se proporcionar atrações diferentes aos visitantes.

Se o público entendeu a mensagem dos organizadores, ou se de fato voltou a se conectar com esse universo automotivo, isso só o tempo — e as pesquisas de opinião — vão dizer.

O fato é que os organizadores estão satisfeitos com o andar do evento nesses primeiros dias, a ponto de já confirmarem que haverá uma nova edição em 2027.

“Essa era a nossa prioridade, que é continuar com o Salão por mais tempo. Quem sabe, no futuro, a gente consiga fazer um evento mais alinhado com as expectativas. É um processo contínuo que envolve aprendizado”, disse Calvet.

Fonte: Automotive Business

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