Por Vitor Matsubara
Nunca se vendeu tanto carro elétrico no Brasil. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), as vendas devem chegar a, pelo menos, 200 mil unidades em 2025. Caso esse volume se concretize, haverá aumento de 13% sobre os 177.358 carros elétricos vendidos em 2024.
Essa ascensão também acontece dentro das locadoras de veículos. O volume, inclusive, poderia ser maior se não fossem alguns fatores. Foi esse o assunto do painel “O carro elétrico chegou às locadoras. Elas estão prontas?”, realizado durante o Automotive Business Experience – #ABX25.
Ansiedade atrapalha vendas de carros elétricos?
Isadora Carvalho, repórter da Quatro Rodas e mediadora do painel, lembrou a importância da “ansiedade de autonomia” (ou “range anxiety”, do inglês) na hora de decidir pela compra ou simples locação de um carro elétrico.
O termo se refere à preocupação em ficar sem carga na bateria do veículo. Com isso, muitos usuários acabam não usufruindo do veículo em sua plenitude – ou pior: desistem de comprar (ou alugar) um carro elétrico pelo receio de algo que nem sempre acontece.
Liandra Boschiero, gerente-geral de locação da Osten Go, afirmou que, em muitos casos, as vendas de carros elétricos poderiam ser maiores se houvesse mais informação.
“Tem muitos casos nos quais a rotina do cliente nem demanda (um carro com) tanta autonomia assim, mas ele vem com esse preconceito em relação à isso. Acho que hoje, mais do entregar o produto, é preciso levar o conhecimento e mostrar todo o ecossistema (de recarga do veículo) em torno para diminuir essa ansiedade e provar que é possível encaixar o carro elétrico em sua rotina”.
Desinformação pode e deve ser combatida
Paulo Miguel Jr, vice-presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), também acredita que a desinformação joga contra os carros elétricos, mas crê que isso pode estar com os dias contados.
“A maioria da população ainda sofre com a ansiedade e o desconhecimento da forma de carregamento. Isso é desconhecido pela maior parte da população, que acha o carro elétrico legal, mas não compraria um pelo receio na hora de abastecer. Mas acho que estamos no período de amadurecimento do assunto. Conforme o volume de carros elétricos circulando aumentar acho que essa barreira se quebrará rapidamente”.
Bruno Barbosa, diretor de estratégia e carros elétricos da Edenred, ressaltou a importância das locadoras na experimentação dos veículos deste tipo.
“A locadora tem um papel interessante de fomentar essa experiência com o carro elétrico. Usar um carro elétrico demanda planejamento para que você pense como e onde vai carregar o veículo. A locadora pode ajudar a fomentar essa experiência porque permite que o cliente tenha uma experiência de curto e médio prazo com o carro antes de comprá-lo ou não”.
Experiência ajuda a fechar vendas de carros elétricos
A Osten Go oferece uma breve experiência para quem está em dúvida se o carro elétrico. Segundo Liandra, o programa está com resultados animadores.
“Nós realizamos um empréstimo de curto prazo, que vai de um a 30 dias, dependendo da situação. Percebemos que, se você ajuda o cliente com toda a infraestrutura necessária e mostra quais serão os gastos que ele terá, as chances de fechar negócio são grandes. Hoje, nós temos uma taxa de conversão de 95%”.
A ideia da Osten Go mostra que as virtudes do carro elétrico são notadas apenas após um tempo mais longo de convivência. Tanto é que, segundo Paulo Miguel Jr., esses benefícios dificilmente são percebidos por quem procura um carro para alugar em locadora.
“O carro elétrico funciona em terceirização de frotas e assinaturas, mas no balcão (da locadora), não. Na locação não é possível realizar esse treinamento no balcão. Então entregar um carro para uma pessoa que, em muitas vezes, não sabe como e onde abastecer é algo que não funciona”.
Todos os participantes concordam que conhecer o carro elétrico a fundo é essencial para que suas vantagens sejam percebidas. E não é apenas o cliente que precisa ser educado.
“O treinamento é fundamental porque, em alguns casos, o maior hater do carro elétrico é o próprio vendedor porque o vendedor não passa as instruções corretas para o consumidor e ele não sabe o que ele tem nas mãos”, analisa Paulo Miguel Jr., da Abla.
Empresas precisam entender virtudes de eletrificar frotas
No caso das empresas que desejam eletrificar suas frotas, a intenção é mostrar que, apesar do maior investimento inicial, o gasto é notadamente menor lá na frente.
“A gente precisa entrar um pouco na rotina das empresas. É claro que, a curto prazo, a despesa da frota vai aumentar. Porém, esses gastos são recuperados a médio e longo prazo, seja com manutenção e aquisição, além até de fatores como a isenção do rodízio”, lembra Liandra, da Osten Go.
Bruno lembra que não basta apenas ensinar no ato da compra dos veículos. É preciso educar quem estará atrás do volante diariamente.
“Realizamos uma série de treinamentos para o uso consciente do carro e num carro elétrico isso se torna ainda mais importante. Se houver um treinamento para mostrar que a frota consegue entregar mais a um custo menor (a longo prazo), a empresa entende que pode ter mais economia de gastos”, conta o diretor da Edenred. “Mas é necessário treiná-los e acompanhar os colaboradores constantemente”, ressalta.
Desvalorização afasta interessados
Autonomia e infraestrutura não são as únicas preocupações de quem pensa em comprar um carro elétrico. A desvalorização na hora da revenda surge como um importante fator de decisão de compra.
“Houve uma desvalorização muito grande no primeiro ciclo (quando os primeiros modelos chegaram) e agora os preços estão tendendo a ficar mais estáveis”, diz Bruno.
Paulo, da Abla, ressaltou que o histórico do carro elétrico no mercado de seminovos ainda é incipiente.
“No começo, os veículos de entrada eram muito caros e a autonomia não era tão grande. A partir do segundo ano, os carros já vieram com autonomia maior e mais tecnologia, e são eles que tendem a manter os preços. Com isso, o mercado de seminovos começa a funcionar também, mas o volume ainda é pequeno. Então, ainda não é possível ter uma previsibilidade para fechar os números”.
O vice-presidente da Abla ressaltou que a redução substancial de preços em meio à concorrência acirrada é prejudicial para alguns modelos na revenda.
“Havia um modelo que custava R$ 149.990 (Renault Kwid E-Tech) e baixou para R$ 99.990. Só aí houve uma desvalorização de R$ 50 mil que vai se refletir na revenda do carro. Isso explica porque a desvalorização dos carros (elétricos) na Europa é tão grande porque havia incentivos que foram retirados repentinamente. Aqui, a situação está um pouco mais linear”.
O estado de saúde da bateria depois de anos de uso também causa apreensão entre possíveis clientes. Bruno, da Edenred, contesta o mito.
“Percebemos que a bateria se mantém com um bom nível de uso mesmo depois de tanto tempo. Alguns clientes com VUCs tem baterias se mantendo em 98% mesmo após três anos de uso intenso”.
Fonte: Automotive Business





























