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Juros altos freiam crescimento do setor automotivo

Para o presidente do Sindipeças, Claudio Sahad, é preciso fazer a lição de casa antes de reduzir a taxa

21/10/2025

Por Claudio Milan

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu – em sua última reunião, realizada em 15 de setembro – manter a taxa básica de juros da economia (Selic) em 15%. A justificativa, segundo comunicado oficial, foi a incerteza do ambiente externo, com destaque para a “conjuntura e a política econômica nos Estados Unidos”, o que exige cautela dos países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica.

Em relação ao cenário interno, o Copom apontou que os indicadores de atividade econômica apresentam moderação no crescimento, apesar do dinamismo do mercado de trabalho, e a inflação permanece acima da meta.

Na palestra de abertura do Seminário da Reposição Automotiva 2025, realizado em 7 de outubro na sede da Fiesp, em São Paulo, o presidente do Sindipeças, Claudio Sahad, apontou o elevado patamar dos juros no Brasil como fator determinante para brecar o crescimento do setor automotivo. “Com relação a produção, venda e exportação de veículos, esse ano nós estamos tendo um avanço nas vendas. A gente vem, depois da pandemia, ganhando um fôlego consistente. Gradual, mas não com o crescimento que a gente esperava, porque a gente tem o problema da taxa de juros. A taxa de juros atrapalha diretamente a venda, não só para leves, mas para pesados também. Aliás, eu digo que mais para pesados que para leves. E eu não sou daquelas pessoas que falam que a gente tem que ter uma taxa de juros baixa, porque ela é um remédio até a gente conseguir superar esse momento. E não adianta querer baixar a taxa de juros na canetada, porque nós já vimos isso no passado. Se a gente fizer a lição de casa, esse momento vai passar mais rápido. Se não fizer, vai demorar mais. É simples assim. Não adianta reclamar”.

Em sua apresentação, Sahad mostrou números que retratam o tamanho e a importância do setor automotivo brasileiro, mas mostrou preocupação com o crescimento das importações de veículos montados ou em CKD, que não utilizam nenhum componente fabricado aqui. “Há um crescimento bastante expressivo nos emplacamentos de veículos importados, tanto de leves como de comerciais leves. E já temos veículos chineses representando 8% dos licenciamentos totais. Veículos 100% importados, que não têm nenhuma peça fabricada aqui, que não geram nenhum emprego. É um fator preocupante. Nosso discurso para as empresas chinesas que vieram para o Brasil – não só para as chinesas, mas para qualquer outra – tem sido o seguinte: qualquer empresa que quiser vir para o Brasil e produzir aqui, utilizando a cadeia de fornecimento nacional, tem todo o apoio do Sindipeças. Quem vier só para importar tem nosso repúdio. E isso está muito claro para elas. Pelo menos uma delas já está trabalhando nesse sentido, envolvendo fornecedores locais. Espero que todas trabalhem assim”.

Descarbonização

Claudio Sahad também entrou no tema da ‘descarbonização’, segundo ele a palavra mais presente no dia a dia das indústrias de autopeças. “O Brasil tem um potencial enorme quando se fala de biodiversidade, de área rural a ser recuperada, geração de biomassa e biocombustíveis, produção de energias renováveis, produção agrícola regenerativa e geradora de bio-insumos. Nós temos o SAF – Combustível de Aviação Sustentável, o etanol, que vai beneficiar não só o Brasil, mas o mundo, um benefício que a natureza nos deu, que a maioria dos países não tem. O Brasil tem 89% da sua energia renovável – solar, hídrica e outras. A grande maioria dos países está calcada em energia nuclear, carvão, gás. Nós não. Praticamente na hidrelétrica. Temos que explorar isso. É um elemento importantíssimo”. No entanto, o presidente do Sindipeças também destacou problemas associados à pauta ESG no setor: “Temos os problemas da oferta, distribuição, custo, armazenamento dos combustíveis, problemas de segurança na transmissão e integração dos sistemas para energia livre e renovável. E também a qualificação da mão de obra para novas tecnologias, um problema que, inclusive, aflige demais a reparação automotiva”.

Eletrificação

Quando se fala em descarbonização no setor automotivo, nossa mente imediatamente viaja até a eletrificação da frota. Claudio Sahad avalia que, no Brasil, o carro 100% elétrico ficará limitado ao tamanho da infraestrutura de recarga. “Vamos nos deparar com um problema sério. Estamos vendo isso acontecer nos Estados Unidos e na Europa. Diferentemente da China, onde o governo decidiu construir 300 mil postos de carregamento, então vai lá e constrói, na Europa e nos Estados Unidos isso está sendo delegado para o setor privado. É um investimento alto e o retorno está muito demorado porque os volumes ainda são pequenos. Então ninguém quer investir nisso. E aí fica essa dificuldade e esse vai ser o teto. A infraestrutura de carregamento vai ser um problema, um fator limitante, porque a gente tão cedo não vai ter baterias com a autonomia necessária para o tamanho do território brasileiro, as distâncias”.

Claudio Sahad prevê uma tendência de crescimento da participação dos carros hatch pequenos híbridos na frota brasileira. “É bastante interessante porque, considerando que a pessoa tem um único veículo, ele pode rodar como elétrico na cidade e usar aquele veículo no final de semana com a família para viajar, sem nenhuma dificuldade de abastecimento”.

O Seminário da Reposição Automotiva 2025 teve a organização do Grupo Photon e o apoio institucional das entidades Abrafiltros, Andap, Anfape, Asdap, Conarem, IQA, Sicap, Sincopeças Brasil, Sindipeças e Sindirepa Brasil. O Seminário da Reposição Automotiva 2025 teve a organização do Grupo Photon e o apoio institucional das principais entidades do setor e do aftermarket brasileiro: Abrafiltros, Andap, Anfape, Asdap, Conarem, IQA, Sicap, Sincopeças Brasil, Sindipeças e Sindirepa Brasil. Acompanhe nas próximas edições do Novo Varejo mais reportagens trazendo a cobertura do evento

Oportunidades para o Aftermarket Automotivo

Crescimento e envelhecimento da frota são fatores que, segundo Claudio Sahad, vêm contribuindo para uma evolução favorável da participação do Aftermarket Automotivo no faturamento das indústrias de autopeças. “Vem crescendo ano a ano. Em 2024 representou 19,21% e, até junho de 2025, já representava quase o mesmo número. A gente tem uma frota com 10 anos e 11 meses de idade em média e um envelhecimento contínuo. Esse envelhecimento, claro, também é uma oportunidade para a reposição. E isso tudo está envolvido com a dificuldade para a venda de veículos novos. Então, voltamos ao problema da taxa de juros, da dificuldade para a venda dos novos, que traz essa oportunidade. Como diz o ditado, enquanto alguns choram, outros vendem lenço”.

Os números apresentados pelo presidente do Sindipeças mostram que a ‘frota reparável’ em circulação também tem tido um aumento consistente, principalmente em comerciais leves. Como incentivo necessário à venda de veículos novos, Sahad destacou a importância de um programa de renovação de frota, que necessariamente precisa estar associado à inspeção veicular. “O Sindipeças tem batido muito na inspeção técnica veicular. Renovação de frota sem inspeção é uma falácia. Sem ela ninguém vai trocar um caminhão. Por mais que se ofereçam financiamentos para ajudar aquele cara que tem um caminhão de 30 anos rodando sem segurança, poluindo, se ele não tiver aquele caminhão barrado na inspeção, ele não vai trocar. A inspeção técnica é a mola propulsora para a renovação de frota”.

Fonte: Novo Varejo

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