Por Claudio Milan
A capital paulista sediou em 9 de outubro a 11ª edição do Fórum IQA da Qualidade Automotiva. O evento recebeu especialistas e líderes da indústria que debateram tendências globais, inovação e qualidade no setor automotivo.
O encontro reserva todo ano um espaço para discutir temas relativos ao Aftermarket Automotivo. Para 2025, o assunto escolhido foi a falta de mão de obra no setor e os desafios para a qualificação dos profissionais.
A pauta é mais do que oportuna, pois traz para a reposição um tema hoje de inquietação global. A carência de profissionais não é fenômeno exclusivo do Brasil. Em todo o mundo é cada vez mais difícil encontrar pessoas capacitadas ou até mesmo interessadas em realizar diferentes atividades indispensáveis para mover a economia. Cada país enfrenta sua própria conjuntura e tem obstáculos específicos a superar.
No caso do Aftermarket Automotivo brasileiro, eles são muitos e, no Fórum IQA, foram bem explorados na apresentação de José Arnaldo Laguna, presidente do Conarem – Conselho Nacional de Retíficas de Motores.
O primeiro problema citado por Laguna foi a redução do número de pessoas disponíveis para a força de trabalho – que ainda não retornou aos níveis pré-pandemia. No entanto, a raiz da dificuldade é anterior à crise sanitária e diz respeito à redução dos fluxos migratórios para as grandes cidades, uma curva decrescente que vem trazendo consequências especialmente para São Paulo. Entre 2010 e 2022, o saldo foi negativo em quase 170 mil pessoas. Outro problema que afeta o mercado e vai piorar é o envelhecimento populacional. Segundo dados apresentados no seminário, a população em idade ativa correspondia a 78,35% do total em 2022, índice que deve cair para 66,81% em 2050.
Assistencialismo
O excesso de programas sociais em vigor no Brasil tem preocupado os empresários. Dos 6,48 milhões de beneficiários dos programas de transferência de renda brasileiros, 3,75 milhões estão em idade ativa, mas apenas 1,51 milhão deles trabalham. “Isso vem prejudicando profundamente o empregado que tem a carteira assinada. Por quê? Ele recebe a bolsa do estado e vai viver de bico. Isso tem complicado profundamente, principalmente naquele funcionário base, que está começando uma profissão, aquele funcionário que foi formado, preparado no Senai ou no Senac. E a gente nota que esse tipo de complicação vai aumentando com o tempo”, lamentou Laguna.
Os dados mostram também que a participação de jovens no setor industrial vem caindo. “Nós temos discutido muito no Senai o que pode ser feito para atrair os jovens para a indústria, para a área produtiva. A meninada só pensa em TI, não quer colocar a mão na graxa, no serviço pesado. Nós tivemos uma redução, de 2006 a 2024, de 26,49% na indústria de transformação – que não pega a parte automotiva”, disse o palestrante.
Quanto à remuneração, o salário do setor de serviços chegou a ultrapassar o salário da indústria, de onde acabou tirando profissionais. “Eu tive a oportunidade de perguntar e o salário da indústria estava em torno de 3,3 mil reais. Nos serviços, chegava a ultrapassar 4 mil”. Ainda assim, o emprego formal no setor industrial subiu 12,24 ponto percentual entre o primeiro trimestre de 2015 e o quarto trimestre de 2024. “Nós temos concorrentes diversos, atividades como entregadores e motoristas de aplicativo. Assim como o pico com o MEI, microempreendedor individual”. De fato, somente no estado de São Paulo são quase 4,5 milhões de MEIs registrados, sendo 84,3 mil abertos por mês. Isso contempla, inclusive, profissionais técnicos formados pelo Senai, que preferem criar um MEI ao trabalho com carteira assinada.
Em 2022, eram mais de 728 mil pessoas realizando serviços por meio de plataformas no estado de São Paulo, sendo 243,5 mil motoristas de aplicativos. “Há uns dois anos um motoboy bateu no meu carro e quebrou a perna. Ia ficar 90 dias sem poder trabalhar. Eu quis dar um jeito de ajudar aquele rapaz e pedi pra ele enviar para nossa corretora os ganhos que ele obtinha fazendo entregas. Ele tirava de 200 a 300 reais por dia fazendo entrega de alimentos com motocicleta. Ou seja, ele ganha mais do que a gente paga para o funcionário registrado em nossas empresas. Claro, não tem décimo-terceiro, fundo de garantia ou férias. Mas acaba colocando mais dinheiro no bolso. Infelizmente isso é um problema bastante sério”, contou José Arnaldo Laguna.
O palestrante encerrou a apresentação com o engajamento de egressos no trabalho formal a partir dos profissionais que concluíram preparação no Senai de 2018 a 2022: 63% ingressaram no mercado formal e 6,36% optaram pelo regime de MEI, de acordo com números levantados pelo Senai. “As indústrias, o comércio e as oficinas mecânicas precisam se aproximar desses jovens em fase de oitava série para tentar trazê-los para o ensino profissionalizante e, principalmente, criar algo atrativo dentro do nosso negócio. Será que nós não poderíamos abrir as nossas indústrias e trazer esses jovens para conhecer o mercado automotivo? Tem tecnologia, o ambiente é interessante, é limpo, é agradável. As oficinas mecânicas, nós temos grandes exemplos em São Paulo, são empresas de altíssima tecnologia, organizadas. Pessoal todo uniformizado, trabalhando ali com muitos escândalos. Dá para a gente criar um novo momento se nós focarmos um pouco na comunicação trabalhando com essa juventude”, propôs Laguna.
Todo este movimento – com seus diferentes fatores de motivação – certamente influenciarão na abordagem do Aftermarket Automotivo às macrotendências para o setor.
| Macrotendência | Solução prática |
| Carros mais complexos (elétricos, híbridos, softwares) | Treinar equipes e investir em equipamentos modernos |
| Escassez de mão de obra qualificada | Investir em capacitação contínua e certificações |
| Baixa atração de jovens para o setor | Valorizar a profissão e criar programas de atração para jovens |
Fonte: Aliança Aftermarket Automotivo Brasil
Veja nos gráficos a seguir mais informações sobre o mercado de trabalho apresentadas por José Arnaldo Laguna no 11º Fórum IQA da Qualidade Automotiva, com dados consolidados pela Aliança do Aftermarket




Líderes da Aliança do Aftermarket Automotivo debatem desafios da mão de obra no setor
A Aliança do Aftermarket Automotivo vem reforçando seu papel como catalisador do pensamento integrado e ações coordenadas no mercado de reposição brasileiro. No 11º Fórum IQA da Qualidade Automotiva, o espaço de debates reservado ao aftermarket reuniu líderes do setor da mobilidade para discutir os desafios e as alternativas para vencer a carência de mão de obra enfrentada pelas empresas.
Participaram das discussões Cláudio Sahad, presidente da Abipeças e Sindipeças e, representando Aliança do Aftermarket Automotivo, Antônio Fiola, presidente do Sindirepa Brasil; Heber Carvalho, presidente do Sincopeças São Paulo; Rodrigo Carneiro, presidente da ANDAP; e Alcides Acerbi Neto, presidente do Sicap. O debate foi mediado por José Arnaldo Laguna, presidente do Conarem.
José A. Laguna – Como transformar a área comercial e logística do atacado em espaço de atração e formação de talentos? O que pode ser feito para que essa porta de entrada seja também uma escola prática de qualificação?
Alcides A. Neto – A distribuição do nosso setor é, praticamente, um hub. Toda a parte da indústria passa por nós e tem que chegar ao varejo e às oficinas. O que eu vi hoje aqui, e acho que a gente está explorando pouco, é que muitos já têm as soluções. São ações profissionalizantes ou trabalhos que já estão sendo feitos e isso não está tendo a divulgação devida. O nosso mercado é atrativo, não estamos sabendo vender. A gente podia dar uma modernizada para ‘setor da mobilidade’. Tem várias coisas que poderiam ser feitas para esses jovens. A distribuição também tem tecnologia, como a indústria; o varejo tem investido muito na venda, na automação. A questão é mostrar para o pessoal que esse setor é muito atrativo, tem todas as demandas de mercado, parte tecnológica, investimentos e tudo mais.
José A. Laguna – Vamos abrir a porta desses distribuidores e trazer esse pessoal para visitar, porque, realmente, eles me encantam. A oficina é o ponto mais crítico da falta de qualificação e sucessão. Muitos donos não encontram quem continue o negócio. E jovens não se sentem atraídos pela profissão. O que podemos fazer juntos para ressignificar a imagem da reparação e atrair novas gerações?
Antonio Fiola – A gente tem a escola Senai Ayrton Senna que é nossa maior vitrine. Quando a gente leva qualquer pessoa lá, muda a cabeça. Realmente, essa geração não quer o carro. O carro para ela é um problema. Muitas vezes o que vai gastar de manobrista, você gasta menos de Huber. Não é raro a gente contratar na oficina uma pessoa que não é habilitada. Antigamente isso não existia. O nosso grande desafio é criar o glamour do carro. Tem que aproveitar a onda para tirar o melhor dessa tendência. Abrir a porta da oficina, abrir a escola Senai, é um primeiro passo. A gente sabe que o jovem quer ser criador de conteúdo, influencer. Mas isso pode ser feito também dentro da oficina. A gente pode criar um canal para que ele fale, faça isso com conhecimento. Nós temos a certificação do IQA, que valoriza o profissional. Acho que essa renovação da frota, diversidade de matrizes, com esse avanço tecnológico, pode glamourizar o automóvel. Porque a gente vai falar para essa pessoa que ela não vai ser um mecânico, vai ser um técnico de eletrônica, um técnico em elétrica. Esse caminho, para nós, é muito importante para a gente começar a difundir. Vamos abrir a indústria, organizar um grupo de colégios, um grupo de estudantes para conhecer a indústria.
José A. Laguna – Será que o problema da falta de sucessão não é porque nós voltamos para casa e falamos mal do nosso negócio? Porque nós não estamos falando bem para incentivar.
Antonio Fiola – Sem dúvida. Isso acaba contagiando. Às vezes, até com os nossos clientes a gente faz isso. Claro, problemas todos nós temos, mas meu pai falava que é melhor ficar com os problemas que você já conhece do que mudar de profissão e ter problemas que você não conhece. Temos que criar o desejo nas pessoas para a sucessão. Existem oficinas maravilhosas. Eu mesmo estou fazendo já algum tipo de plano de sucessão. Tenho duas pessoas que me acompanham na empresa que eu quero que permaneçam, porque já são quase 40 anos no negócio. Eu sou exemplo disso. Meu pai não queria que eu continuasse de jeito nenhum. Ele sempre brigava comigo. “Não pode ter um dono de oficina formado?”. Ele dizia que não, quem se forma não vai para a oficina. Era essa a cabeça que a gente tinha na década de 80. É importante eu empolgar meu filho ao invés de desmotivá-lo.
José A. Laguna – Se pensarmos em competitividade global, o que está em jogo se não acelerarmos a qualificação? Você vê risco de o Brasil ficar para trás diante das mudanças internacionais?
Claudio Sahad – Gostaria de complementar sobre a sucessão porque eu passei por isso. Eu fiz Direito, advogava havia cinco anos quando eu tive um insight de trabalhar com meu pai na empresa. Meu pai também chegava em casa reclamando das dificuldades, mas eu via o amor que ele tinha pelo negócio, a paixão com que ele trabalhava ali. E aquilo me conquistou. Todo o nosso patrimônio veio dali. E o dia que ele faltar, quem é que vai cuidar disso? Então, eu pedi para ele para ser o sucessor. E eu sabia das dificuldades, a gente não pode esconder as dificuldades, mas tem que encantar o nosso sucessor e mostrar para ele também a beleza do negócio. E saber que, claro, quem vai guiar sempre a sucessão é o empreendedor. Se ele não tiver essa decisão, ninguém vai fazer. Mas, quando a gente fala de qualificação, é o principal elemento da equação que compõe a competição. A gente corre, sim, um sério risco de perder relevância se não nos qualificarmos, porque vamos perder competitividade. E aí a gente fica mais caro, menos eficiente e vai perder fornecimento, exportação, relevância, a gente passa a ser muito mais dependente de importação. Qualificação, hoje, é uma questão estratégica de soberania nacional. E a indústria tem feito a parte dela. A indústria tem o Senai Ipiranga, um orgulho na área automotiva. Tem o programa Formare, que saiu de uma indústria de autopeças. Tem o Instituto Sindipeças da Educação Corporativa, que foi criado há mais de 10 anos com o escopo de qualificar principalmente as pequenas e menores empresas. Temos feito muita coisa, agora é preciso intensificar isso.
José A. Laguna – O consumidor chega cada vez mais informado e o balconista precisa se reinventar. Como o varejo pode formar não apenas vendedores, mas consultores de confiança, capazes de orientar oficinas e clientes em meio a informação digital?
Heber Carvalho – Eu tenho comércio de autopeças, a gente acompanha o dia a dia do balcão e vê justamente isso que vocês estão falando. Quando eu visito outra loja, observo como está o atendimento do balcão. Eles precisam se reinventar. Porque o balconista trabalhava no catálogo de papel, o cliente trazia a peça na mão, ele conferia o produto, pegava na prateleira e vendia. Hoje o cliente chega no celular com o preço da peça. No começo, meus vendedores falavam que ia ser difícil vender, porque o cliente já tem o preço da internet. Vendo essa situação, comecei a mostrar para os vendedores que é esse o caminho. Quando ele já tem o preço, está mais fácil para a gente vender. Nós, empresários do varejo, temos que estar atentos ao atendimento, à qualificação, porque nem tudo é preço. Em várias pesquisas que eu participei, o preço é uma das últimas coisas mais importantes para você comprar ou vender um produto. Você tem que oferecer segurança, qualidade e informação daquele produto que está vendendo. É muito importante esse treinamento para os profissionais. Nós temos o IQA, que tem feito um trabalho muito grande para qualificação de vendedores. Temos o próprio Sincopeças, que tem procurado, em parceria com o Sebrae, desenvolver treinamento para os profissionais. E a gente às vezes até fica triste porque você dá oportunidade e poucos vendedores estão dispostos a passar pelo treinamento. Ou eles acham que já sabem muito ou que o que vão aprender não interessa. Treinamento hoje é tudo. Quem trabalha numa loja está tendo uma escola de oito horas por dia. É diferente do banco de faculdade, do banco de escola, do treinamento online. Ele passa oito horas atrás do balcão vendo tudo o que acontece ali e ele vai ter que absorver isso.
José A. Laguna – Falta integração entre os elos da cadeia quando falamos de capacitação. Os distribuidores têm um forte elo com a indústria, atuação nacional e capilaridade. Qual a sua visão sobre a Aliança do Aftermarket liderar programas de formação?
Rodrigo Carneiro – A resposta é sim. Fizemos a Aliança para o desenvolvimento coletivo mesmo. Mas eu ouvi algumas coisas aqui pela manhã, então é impossível não responder para além da pergunta. A pergunta é relativamente fácil de responder, se for a capilaridade e aquilo que a distribuição fez na vida toda, que é estar integrada à indústria, ao varejo e à aplicação. As duas mil e quinhentas warehouses que a distribuição tem em todo o Brasil, eu ouso dizer que próximo de 100% das filiais dos distribuidores têm espaços para treinamento. E é uma das coisas que mais a distribuição faz junto com os fabricantes, os treinamentos técnicos. Eu ouvi pela manhã temas ligados a multicanalidade, transformação digital, e acho que a gente precisa entender o que é capitalidade, multicanalidade e transformação digital no nosso segmento. Transformação digital, acima de tudo, é muito mais do que soluções de hardware e software – nós já temos isso e a distribuição, o varejo, a aplicação já vêm trabalhando, inclusive com inteligência artificial – mas sim entender que é transformação do mindset. Eu quero lembrar o seguinte: o que é o segmento automotivo se não há reposição independente? Eu fico imaginando o que seria de uma marca, e o que seria da manutenção de um produto desta marca, se não fosse, por exemplo, a capitalidade. Eu não posso deixar de falar, são mais de 150 mil pontos de relacionamento com a possibilidade de manutenção da frota brasileira. Há que se entender que a qualificação de mão de obra é extremamente cara para todos nós da cadeia produtiva. É muito caro ter esses auditórios, essas salas, em todo o Brasil, mas a gente tem feito muito isso. A gente gasta muito dinheiro com isso. E competimos em mão de obra com um competidor cruel, que é o assistencialismo brasileiro. Agora, respondendo mais objetivamente, a gente pode sim, vai continuar a fazer isso. Nós temos grandes escolas que nos ajudam, o Sistema S. E mais que isso, quero chamar a atenção a duas coisas que temos no Brasil: o IQA já tem uma qualificação para vendedores de autopeças e a gente precisa usar mais. E nós temos uma das maiores plataformas de informação – eu não posso deixar de valorizar o Fraga. Então, não falta informação. Temos que resolver uma questão, que até está sendo resolvida, bem caminhada em alguns momentos, que é a disponibilidade da informação. Se a gente quer falar sério sobre experiência do cliente, branding, sobre valorização de um produto, da sustentação de uma base ou de um brand para aquele produto, a gente precisa falar muito sério sobre quem pode, de fato, defender isso nos locais mais distantes. Porque nós temos o dever de levar a informação qualificada a este consumidor final. Que paga todas as contas, inclusive a nossa, que estamos aqui. Então a gente precisa liberar essa informação.
José A. Laguna – Esse é um mercado bastante profissional. Tem desafios, mas eu acho que a gente está à frente de muitos outros países. E nós precisamos ter acesso a informações. Isso é uma coisa que o Brasil precisa evoluir. Porque o bom funcionamento do veículo não está só no período de garantia, é também no pós-venda.
Antonio Fiola – O acesso à informação é muito mais complexo do que a gente pode imaginar. Se não tiver como a oficina reparar, o Brasil para. E a segunda coisa é que isso acaba sendo um desserviço à formação de mão de obra. Porque você pega um jovem, ele chega à oficina, começa a ver a dificuldade que é para reparar um carro, e as maneiras que a gente tem para ter acesso à informação algumas vezes, isso acaba sendo uma falta de estímulo.
José A. Laguna – Que competências novas os profissionais de atacado precisam para lidar com inteligência de dados, e não só com o estoque físico?
Alcides A. Neto – Hoje o principal é ter visão analítica. Cabe a nós capacitar nossos profissionais a analisar os dados que a gente recebe. É uma enorme quantidade de informação, mas precisamos de qualificação melhor. Precisamos usar essa conexão que temos aqui, entre todos os elos, porque é até um ponto estratégico, ter esses vários outros cursos de qualificação, seja home, in company, os treinamentos das próprias indústrias. Se a gente conseguir integrar essas diversas formas de capacitação profissional, a gente vai conseguir ter uma assertividade muito maior, uma produtividade muito maior. E vamos ter que trazer esse glamour também, talvez a gente não consiga mostrar para o jovem que a gente tem análise total de dados, tem uma ampla visibilidade de demanda, consegue fazer comunicados mais assertivos, pontuais e personalizados, a gente consegue fazer catálogos mostrando melhor o produto. Treinar nosso pessoal, usar melhor as informações que a gente mesmo gera, além de ter acesso às informações. Se aproveitarmos tudo o que foi mostrado pela indústria hoje, tanto na montadora, que já está fazendo, assim como o setor independente está fazendo também, todas essas ferramentas que nós temos, isso seria um atrativo muito grande.
José A. Laguna – As oficinas muitas vezes viram escolas improvisadas. Como transformar esse aprendizado em algo reconhecido?
Antonio Fiola – Esse é o nosso maior desafio. A oficina sempre foi uma escola improvisada, entretanto, hoje, não só os programas de assistencialismo, mas também o programa menor aprendiz deixou de ser interessante. Eu trabalhava com 14 anos. Hoje é crime. Antigamente os pais pediam para arrumar alguma coisa para o filho fazer, aprender a lavar peça. Hoje ele poderia ser ensinado a fazer um diagnóstico, a operar um scanner na oficina. Porque ele tem conhecimento tecnológico e poderia ajudar muito no dia a dia da reparação. A manutenção de híbridos e elétricos envolve tecnologia, envolve o interesse que eles têm. A gente fala que o motoboy ganha 300 reais por dia, mas é insalubre, ele está arriscando a vida. Às vezes é melhor ele fazer uma carreira na oficina. A gente tem esse desafio também no mercado de reparação, criar um plano de carreira. A California Creators é um centro de criação de conteúdo para influenciadores menores. Lá tem uma oficina, tem uma cozinha. Por que não a nossa oficina se tornar um centro de criação de conteúdo também para a rede social? Tem uma série de coisas que a gente poderia fazer, mas o básico é ter conhecimento em elétrica e eletrônica.
José A. Laguna – Considerando que o Senai e Senac possuem centenas de escolas profissionalizantes no estado de São Paulo, e considerando também que o Brasil é um país dos dimensões continentais, como equilibrar a geografia na capacitação da mão de obra para que não haja um descompasso perigoso?
Claudio Sahad – A educação é dos problemas mais sérios no Brasil. O analfabetismo funcional é uma das coisas mais complicadas que a gente tem. Pessoas chegando na universidade analfabetas funcionais. Eu vejo na minha empresa gente que tem o segundo grau completo e você pede para fazer um cálculo de porcentagem e ela não sabe fazer. Nós somos obrigados a ensinar matemática básica. Temos o Instituto Sindipeças de Educação Corporativa que procura atuar em todas as nossas regionais. Além de São Paulo, temos Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nós temos representações no Distrito Federal, na Bahia e estamos desenvolvendo uma nova distrital em Pernambuco. E a gente atua com os associados em todas essas regiões, disseminando conhecimento e qualificação. Agora, é preciso ter mais Senais e Senacs espalhados pelo Brasil. Eu não me conformo quando a gente ouve políticos falando em acabar com o Sistema S. Eu acho um crime. Se a gente acabar com isso, nós acabamos praticamente com o ensino técnico do Brasil. Que é tão importante, a deficiência de profissionais técnicos no Brasil é absurda. Acho que é maior do que de engenheiros. A Alemanha é um país muito menor que o Brasil e tem uma disponibilidade de ensino técnico maior. Por quê? Porque tem uma política governamental voltada para isso de décadas. Infelizmente, não tem essa política aqui. Enquanto a gente não tem isso, nós temos que usar da inventividade e tentar ocupar esse espaço de outras formas. Por exemplo, no Instituto Sindipeças, a maioria dos nossos treinamentos é online ou in company. A gente vai até o aluno. Isso facilita muito o treinamento. A gente tem que começar a criar esses hubs de empresas. Nos treinamentos in company, a gente junta três, quatro empresas para formar uma turma e faz o treinamento numa delas. Normalmente, empresas que são próximas. A gente tem que usar dessa inventividade para suprir o problema.
José A. Laguna – Como a Aliança do Aftermarket poderia provocar um varejo tradicional de autopeças comparando tendências neste comércio que incorporam os passos para aplicação de peças no próprio local?
Heber Carvalho – A participação da Aliança é muito importante nessa formação de ideias. Nós somos formadores de opiniões, justamente com vocês que estão aqui, para que nós consigamos realmente trazer oportunidades para as pessoas do setor de autopeças. É esse o nosso principal objetivo. O ideal é nós nos preocuparmos com o que a Aliança tem feito para a formação de ideias e formação de pessoas para a sobrevivência do nosso mercado, que é muito promissor.
José A. Laguna – Iniciativas coletivas poderiam transformar distribuidores em polos de conhecimento e não apenas de logística?
Rodrigo Carneiro – De qualquer maneira nós vamos fazer parte disso. No Sicap e na Andap, a partir do mapeamento das necessidades dos nossos associados, a gente identificou oportunidades de propor soluções e agentes que poderiam contribuir com as soluções. Nós temos um mercado extremamente rico, extremamente técnico, com uma logística extremamente complexa. Nosso segmento gasta uma fortuna em questões como, por exemplo, a garantia, a gente desperdiça muito. Precisamos ter um modelo de gestão absolutamente articulado e compartilhado. E eu quero pedir desculpas aqui por minhas respostas às vezes muito apaixonadas. Eu sou um apaixonado pelo Brasil. Nós desenvolvemos um negócio que o mundo mais precisa hoje, que é a solução híbrida. A gente tem capacidade de produzir motores a combustão de baixa emissão. Nós temos uma matriz energética que os países têm. Temos uma indústria fantástica. Temos uma distribuição com capacidade de investir em inteligência, investir na proximidade para transformar a experiência do cliente numa experiência positiva, principalmente voltada para a manutenção preventiva. Temos uma reparação irreparável, realmente em todo momento, em todos os lugares em que haja necessidade. Redes incríveis de varejo no Brasil – uma rede aqui em São Paulo com a presença de mais de 40 mil pessoas por dia. E, às vezes, a gente se despreza a capacidade de transformar isso em informação.
Fonte: Novo Varejo





























