“Qualquer associação de classe será tão forte quanto os seus membros queiram fazê-la.”

1/3 dos brasileiros usa carro para trabalhar; negros e sudestinos usam mais o ônibus

Dados do Censo revelam que, embora o automóvel seja o prevalente na média nacional, recortes geográficos e por raça mostram história diferente

10/10/2025

Foto: Filipe Freitas / Unsplash

Por Victor Bianchin

Novos dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE apontam que o carro permanece como o meio de transporte mais usado pelos brasileiros para se locomover para trabalhar.

O automóvel corresponde a 32,3% das viagens, seguido por ônibus (21,4%), caminhada a pé (17,8%) e motocicleta (16,4%). Esses quatro meios de transporte, juntos, representam 87,9% dos deslocamentos para o trabalho no país.

Transportes de massa ainda é ínfimo no país

Meios de transporte de alta capacidade, como o trem e o metrô, correspondem a apenas 1,6% das viagens, enquanto vans, peruas e assemelhados são 1,4%.

BRTs são 0,3% das viagens e caminhonetes ou caminhões adaptados são 0,4%. Essa é a primeira vez que o Censo apura os meios de deslocamento do brasileiro para ir ao trabalho.

“Tal cenário reflete o histórico do país em privilegiar rodovias para a integração das cidades e regiões, além do descompasso entre crescimento urbano e oferta de transporte público”, destaca Mauro Sergio Pinheiro, analista da pesquisa.

O levantamento “Censo 2022: Deslocamentos para trabalho e para estudo – Resultados preliminares da amostra” mapeou as características do deslocamento para trabalho ou escola de pessoas de 10 anos ou mais de idade.

Os dados apresentam diferenças nos recortes raciais: entre os brancos, o automóvel é o mais usado, com 42,9%, seguido pelo ônibus, com 17,6%. Porém, entre os pretos, a ordem se inverte: os ônibus predominam com 29,5% e os deslocamentos com carro são 21%.

Segundo o Censo, quanto mais alto é o nível de instrução das pessoas ocupadas, maior é também o uso de automóvel, trem, metrô, táxi ou assemelhados. Pessoas com menor grau de instrução têm maior prevalência de deslocamentos a pé ou por bicicleta.

Onde as pessoas trabalham

Outra informação apresentada pelo Censo é que 35,2 milhões de homens (72,0%) e 26,7 milhões de mulheres (70,7%) trabalham fora de casa, mas dentro do município em que residem. Já 7,4 milhões de homens (15,1%) e 7,3 milhões de mulheres (19,3%) fazem home office.

Um contingente de 9,3 milhões de pessoas (10,7%) trabalha fora do município onde reside.

Uma parcela expressiva da população que se desloca para trabalhar retorna do trabalho para casa três dias ou mais na semana, demonstrando um fluxo pendular significativo entre os municípios brasileiros.

“A mobilidade intermunicipal varia de acordo com a rede urbana e a organização do território, sendo identificada com mais intensidade em áreas de concentrações urbanas e em municípios próximos a grandes centros”, afirma Raphael Rocha, analista da pesquisa.

Um dado curioso é que 32 mil brasileiros trabalham em outro países e se deslocam para lá diariamente – em geral, esse movimento acontece em municípios localizados na faixa de fronteira.

Diferenças regionais

Há diferenças regionais nos padrões de deslocamento ao trabalho. O transporte individual motorizado predomina, sobretudo nas regiões Centro-Oeste (58,8%) e Sul (57,1%).

Por outro lado, a motocicleta é o principal meio de transporte no Norte (28,5%) e Nordeste do país (26,0%), percentuais superiores frente ao resultado para o Brasil (16,4%).

O Sudeste é a região com maior número de deslocamento por ônibus, 26,6%, o que corresponde a um contingente de 8,3 milhões de trabalhadores. Os menores índices de uso do ônibus são observados no Norte (16,0%) e no Sul (16,4%).

O Rio de Janeiro é o estado que mais utiliza o transporte coletivo como forma de deslocamento principal para trabalho: ônibus (35,8%), BRT (1,8%) e trem ou metrô (4,8%).

Por outro lado, os estados que proporcionalmente menos utilizam ônibus como meio principal para o trabalho são Rondônia (4,2%), Roraima (5,9%) e Acre (7,1%).

O Nordeste apresenta a maior proporção de pessoas que se deslocam a pé ou de bicicleta para o trabalho (30,4%), enquanto o Centro-Oeste (18,9%) tem a menor proporção.

O Norte (10%) mostra a maior proporção do uso principal de bicicleta e quase 1/4 da Região Nordeste (23,5%) passa a maior parte do tempo indo a pé para o trabalho.

Tempo de deslocamento

A análise do tempo de deslocamento entre a casa e o local de trabalho mostra que a maior parte (56,8%) das pessoas que se deslocam para o trabalho leva de seis minutos até meia hora, totalizando 40 milhões de pessoas, enquanto 1,3 milhão de pessoas levam mais de duas horas para chegar ao trabalho.

Nos resultados por cor ou raça, a população preta (13,9%) e parda (11%) têm maior participação relativa na faixa de mais de uma hora até duas horas, do que a população branca (8,9%). Na faixa de seis minutos até meia hora, a população branca (58,5%) tem maior proporção do que a preta (51%), com 7,5 pontos percentuais de diferença.

O tempo de deslocamento nas 15 metrópoles brasileiras apresentou variações, com Florianópolis (SC), Goiânia (GO) e Porto Alegre (RS) com as maiores proporções de pessoas que levam até meia hora para chegar ao trabalho. Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Manaus (AM) apresentam as maiores proporções das faixas acima de meia hora.

Fonte: Automotive Business

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