Por George Guimarães
De São Francisco de Paula, RS
De estilo de atuação mais comedido com relação a outras marcas chinesas que por aqui têm desembarcado e com o discurso de que o importante é ter participação de mercado consistente e sustentável ao longo do tempo, a GWM inicia sua trajetória com montadora local mexendo, pode-se dizer, em um dos atuais maiores “vespeiros” do mercado interno.
Até o fim do ano, a fábrica de Iracemápolis, SP, inaugurada há um mês com a montagem do SUV Haval H6, começará a fabricar também a picape Poer P30, mas que, desde esta quarta-feira, 10, já pode ser comprada em rede de mais de uma centena de concessionárias e canais digitais importada da China.
Preços, conteúdo tecnológico e equipamentos de série antecipam a disposição da GWM para, no mínimo, gerar desconforto nos departamentos de marketing da meia dúzia de concorrentes que têm brigado instensamente e cada vez mais por clientes altamente exigentes.

Com motor 2.4 turbo diesel de 184 cv, tração 4×4, transmissão automática de 9 marchas e — importante! — garantia de 10 anos, a Poer P30 é oferecida em duas versões. A de entrada, Trail, com preço sugerido de R$ 240 mil e a topo de linha Exclusive, por R$ 260 mil.
Mas, promocionalmente, até o próximo dia 20, os valores são significativamente menores: R$ 220 mil e R$ 240 mil, respectivamente.
De qualquer modo, os preços definitivos são de 10% a 15% menores do que de versões equivalentes das picapes médias que mais vendem e que são apontadas por André Leite, diretor de Marketing e Produto da GWM: Toyota Hilux, Ford Ranger, Mitsubishi Triton e Chevrolet S10, modelos que, somados, acumulam perto de 83 mil licenciamentos em oito meses de 2025.
Mas, consideradas todas as picapes montadas sobre chassi, com capacidade de carga em torno de 1 tonelada e motorização diesel, há pelo menos mais dois ou três modelos.
O segmento total, na verdade, está em pouco mais de 94 mil unidades emplacadas de janeiro a agosto — ante 87 mil de igual período do ano passado — e superou 143 mil ao longo de todo 2024.
Leite, entretanto, não esconde que a maior referência é mesmo a picape da Toyota, líder do segmento há anos. Com 32 mil licenciamentos, a Hilux responde por praticamente um terço das vendas em 2025 e volta e meia é citada em pesquisas como a melhor picape média, sobretudo com relação à confiabilidade e robustez.

O executivo não revela qual o objetivo de vendas perseguirá, mas admite que a ideia é ver a Poer na, digamos, prateleira mais alta do segmento e, de quebra, deixa escapar que a linha de picapes pode, sim, ter outras representantes no País futuramente, inclusive abaixo da faixa de mercado da P30.
Know-how para ter presença destacada em picapes nos mercados brasileiro e sul-americano não falta à montadora. A GWM já vendeu mais de 2,65 milhões de unidades em 50 países e responde por 50% das vendas do segmento na China, o maior do mundo e onde é líder há quase três décadas.
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A garantia de 10 anos é a ferramenta com a qual a GWM quer fixar na mente dos consumidores, de imediato, que a Poer é confiável, aspecto vital para as atuais múltiplas aplicações das picapes, e que pode concorrer em pé de igualdade, e até com vantagem, inclusive com a Hilux, que também tem o mesmo prazo de garantia, mas com menos itens e sistemas cobertos.
Se a GWM trabalha para rapidamente criar essa imagem de robustez e qualidade, em paralelo também a de picape confortável, tercnológica, com acabamento acima da média, econômica e de bom desempenho.
A P30 consome 9,5 km/l na cidade e 10,6 km/l na estrada, segundo o padrão Inmetro, o que indica autonomia de até 740 km na cidade e 820 km na estrada. Esses bons números são alcançados com auxílio da transmissão automática que conta com modos de tração apenas traseira, 4×4, 4×4 reduzida e bloqueio do diferencial traseiro.
As suspensões e outros sistemas, assegura a GWM, foram totalmente reestudados para o mercado local, suas aplicações, condições de pisos, estradas e estilo de condução dos consumidores brasileiros.

Das proporções da picape, que tem 5.416 mm de comprimento e 2.107 mm de largura, destaque para o entre-eixos de 3.230 mm, um dos maiores da categoria e que garante bom espaço interno. A caçamba comporta 1.248 litros ou até 1.018 kg de carga.
Além de detalhes externos, como a moldura da grade dianteira e rodas, as maiores diferenças entre as versões Trail, opção para quem vê no comercial leve produto mais para o trabalho, e Exclusive e que justificam os R$ 20 mil a mais pela segunda estão mesmo na presença ou não de alguns itens de conforto e segurança.
Mas mesmo a mais barata tem revestimento em couro sintético, ajuste elétrico no banco do motorista, ar-condicionado digital, carregador sem fio de 50W, quadro de instrumentos digital com tela de 10,25” e multímidia de 14,6”, com espelhamento Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
Na Exclusive os bancos são em couro legítimo e há ainda painel com revestimento soft touch, paddle shift no volante para troca das marchas, resfriamento e aquecimento dos bancos, além de controle remoto via aplicativo, que integra, dentre outras, funções de travamento, localização do veículo, programação do ar-condicionado e monitoramento do status do motor.
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A Trail tem quatro airbags, dois a menos do que Exclusive, que é beneficiada ainda por mais itens de segurança e tecnologia ausentes na Trial, como sistema de detecção de ponto cego, assistente de farol alto, sistema de centralização de faixa, alerta e frenagem de trânsito cruzado frontal e traseiro, frenagem de emergência em baixa velocidade, controle inteligente de velocidade, aviso de colisão traseira e controle de distância de estacionamento.
AutoIndústria teve a oportunidade de transitar com a Poer P30 em estrada de chão batido e trechos com bastante pedra e irregularidades. Constatamos: mesmo sem qualquer carga na caçamba, comportamento dinâmico, silêncio interno e suspensões aproximam a picape de um SUV no que diz respeito ao conforto de rodagem.
Se a Poer entregar a confiabilidade e o pós-venda que os consumidores do segmento buscam, pode mesmo representar um auspicioso início de trajetória da GWM aqui no Brasil em terreno que ela conhece muitíssimo bem na China e em outros países.
Fonte: AutoIndústria – Foto: Divulgação