Por Lucia Camargo Nunes
O mercado de motocicletas no Brasil apresenta resiliência e crescimento, impulsionado pela busca por mobilidade acessível e alta demanda do setor de delivery. Apesar de desafios macroeconômicos e variações climáticas que afetam a logística a indústria das duas rodas está se recuperando, expôs Marcos Bento, presidente da Abraciclo, durante o Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2025.
De janeiro a maio de 2025 o setor observou um crescimento de 11,2% na produção com relação ao mesmo período do ano passado. O executivo manteve a projeção do início do ano, de 7,5% de alta para chegar a 1,8 milhão de motocicletas produzidas.
Mesmo enfrentando desafios como a pressão da oferta de crédito e as incertezas econômicas, o mercado está em um caminho de recuperação: “A motocicleta tem sido uma alternativa de logística importante, principalmente no delivery. É um produto de mobilidade urbana com custo acessível, pelo preço de aquisição, manutenção e facilidade de deslocamento”.
O executivo reforçou que a indústria das duas rodas instalada em Manaus, AM, enfrenta desafios logísticos que vão desde as variações climáticas, que dificultam o transporte fluvial, à insuficiência de infraestrutura rodoviária adequada, como a BR-319, que prejudica a conexão com outras regiões.
2 milhões em 2027
Existem preocupações com relação ao investimento necessário para sustentar o crescimento até 2027, especialmente considerando a necessidade de competitividade frente a mercados externos, como o chinês.

A Zona Franca de Manaus desempenha papel fundamental na indústria de motocicletas do Brasil ao oferecer incentivos fiscais, como a isenção do IPI, que reduzem os custos de produção e permitem preços mais acessíveis aos consumidores, observou Bento. A região se consolidou como um polo de produção com alto índice de nacionalização de componentes, gerando empregos e impulsionando a economia local.
A expectativa é que a produção alcance cerca de 2 milhões de unidades anuais a partir de 2027, demonstrando potencial de crescimento sustentável. Mas Bento reforçou que será preciso investir mais para alcançar este volume.
A introdução de motocicletas elétricas ainda é incipiente, com uma participação de mercado abaixo de 1%, mas segundo o executivo as grandes montadoras estão atentas a esta tendência.
Médias são as que mais crescem
Na segmentação de mercado as motos de média cilindrada, de 161 a 449 cm³, são as que mais crescem, com avanço de 17% nas vendas de janeiro e maio deste ano versus o mesmo período de 2024. Mas essas motos representam apenas 19,1% do mercado.
Modelos até 160 cm³, que dominam com 78,7% do share, vêm na sequência, com alta de 10,6% nos primeiros cinco meses do ano.
Para o segundo semestre os altos juros e a instabilidade econômica pedem cautela, embora o mercado continue forte, com crescimento no segmento de média cilindrada e investimento contínuo em tecnologia.
E30: impactos técnicos
Bento mostrou restrição também com relação ao aumento do etanol na gasolina, elevando a proporção para 30%. Segundo ele a medida pode afetar o desempenho e a durabilidade das motocicletas que não são flex, que podem apresentar problemas ao receber misturas de etanol superiores às especificadas inicialmente.
Indústrias e fabricantes discutiram a importância de avaliar cuidadosamente esses impactos técnicos, como a eficiência e a confiabilidade dos motores, especialmente para as motos já em circulação.
Fonte: AutoData