Por Natália Scarabotto
Pedaços de airbag, de cintos de segurança e forro de bancos, entre outros retalhos da produção de um carro que seriam descartados. Nas mãos de habilidosas costureiras, dentro do conceito da economia circular, esses materiais ganham nova vida como bolsas, mochilas, óculos de sol e outros acessórios de moda.
Montadoras como Renault, Stellantis e Toyota destinam seus resíduos de fabricação para projetos que reaproveitam sobras automotivas para produção de novas peças. De quebra, além de dar um destino melhor para sobras da produção de carros, essas iniciativas geram renda e capacitação profissional a mulheres de uma série de comunidades.
Com retalhos da Renault, projeto fatura R$ 2 milhões
A Associação Borda Viva, em São José dos Pinhais (PR), produz peças a partir dos resíduos automotivos da Renault desde 2015. No ano passado, lançou a coleção Kardian, inspirada no SUV da marca francesa, com peças feitas de cinto de segurança e estofado de bancos, todos em preto com detalhes laranja.
A coleção impulsionou o faturamento da associação, chegando ao recorde de R$ 2 milhões no ano passado – 20 vezes mais do que em 2015, quando começou a parceria com a Renault.
Entre mochilas, shoulderbags, necessaires, bolsas para pet, ecobags, bolsas para raquete de tênis, as vendas superaram 4 mil produtos. A equipe da Renault criou o design, e as 22 costureiras da comunidade fabricaram os produtos, de forma artesanal.
“Trabalhar com reaproveitamento é um processo artesanal. É um pouco mais demorado e mais delicado. Muitas vezes você tem de fazer uma emenda porque o pano não vem inteiro. Os cintos precisam ser separados porque vêm em tamanhos diferentes e têm tramas (tecelagem) diferentes, não dá pra misturar todos em uma bolsa só”, explica a diretora presidente da Borda Viva, Rose dos Santos.
Ela conta ainda que os tecidos podem ter variação de tonalidade, por isso, em uma mesma produção, produtos iguais podem ter pequenas diferentes de cor ou textura.

A parceria com a Renault, vai além das doações de resíduos. A montadora já investiu na capacitação e profissionalização do projeto, proporcionando que as costureiras dominem cada fase da produção de uma peça.
“Hoje as mulheres se emponderam de todo o processo. Sou muito feliz com o grupo de mulheres que a gente tem porque elas trabalham a peça num todo, desde a precificação até ela ficar pronta”, afirma Rose.
Airbags da Stellantis viram mochilas coloridas

A Roda Circular, em Pernambuco, faz um trabalho parecido com resíduos da fábrica da Stellantis em Goiana (PE) desde 2021. Já foram reaproveitadas 48 toneladas de materiais, com uma variedade de mais de 20 resíduos diferentes.
“A primeira fonte de inspiração é sempre o resíduo”, explica a CEO da Roda Circular, Mariana Amazonas. “Nós mapeamos todos as sobras da ilha ecológica de Goiana, as quantidades e tipos. Levamos pro nosso ateliê amostras e envolvemos um grupo de designers, de diferentes costureiras e artesãs para criar o que seria a primeira coleção a partir desses resíduos automotivos.”
A Roda já desenvolveu mais de 50 designs diferentes e criou também um processo de tingimento para os produtos e forros. Por mês, o projeto produz em média 300 peças.
Um dos materiais que elas reaproveitam é o airbag, um tecido nobre com altíssima durabilidade e que muitas vezes é descartado por pequenos defeitos. Ele é utilizado para fazer bolsas, mochilas e necessaires.
Também já são reaproveitados couro vinílico para mochilas e bolsas, materiais de isolamento térmico para confeccionar etiquetas, além da lanterna do carro que já foi transformada em uma luminária.
Toyota cria óculos de sol com resíduo de parachoque
Quem também aposta na economia circular é a Toyota. Recentemente, a marca anunciou o lançamento de um óculos de sol feito com resíduos da produção de automóveis.
O modelo é fabricado a partir de resíduos de polipropileno, reutilizados a partir dos para-choques dos veículos modelos GR-Sport produzido no Brasil. A parte frontal é preta com as hastes vermelhas e está disponível em duas opções de lentes: cinzas convencional ou espelhada.
Além disso, o estojo de proteção dos óculos é feito com resíduos do revestimento dos bancos do Corolla GR-Sport e do Corolla Cross GR-Sport.
