Pesquisa da Octadesk/Opinion Box aponta que 70% dos brasileiros compram em marketplaces estrangeiros, sendo que 83% dos consumidores adquirem os produtos de vendedores nacionais. Se bem exploradas, essas plataformas podem ser grandes aliadas do varejo nacional
Por Karina Lignelli
Você sabia que 88% dos consumidores, que passam pelo menos um quarto do dia nas redes sociais, fazem compras on-line pelo menos uma vez por mês, seja em lojas virtuais (65%), marketplaces (60%) ou apps das próprias marcas (54%)? E que 80% deles preferem pesquisar e comprar pela internet, mas retirar na loja física para ter acesso ao produto mais rápido?
Sabia também que, mesmo em meio às discussões sobre tributação e “taxa da blusinha”, esses consumidores ainda preferem os marketplaces estrangeiros? Shopee (52%), Shein (43%) e Aliexpress (39%) lideram a predileção dos brasileiros que compram pela internet.
Os dados fazem parte da pesquisa “E-commerce Trends 2025”, da Octadesk (plataforma global de atendimento com IA de marketing e pós-vendas), em parceria com a Opinion Box, e foram apurados em entrevistas com 2.055 consumidores de todo o Brasil, em maio.
Embora as plataformas estrangeiras sejam as mais procuradas pelo consumidor, a pesquisa mostra que 83% das compras realizadas nelas são feitas em lojas virtuais ou sites de vendedores brasileiros. Ou seja, os marketplaces estrangeiros não são exatamente vilões do varejo nacional se observados por esse prisma, pois ajudam as empresas do país a ampliar vendas, diminuir custos e potencializar os lucros.
Comercializar com a ajuda dessas plataformas garante vantagens competitivas, mas exige alguns cuidados envolvendo publicidade on-line, logística, trabalho nas redes sociais e experimentações, segundo Pedro Guasti, fundador da E-bit (hoje da Nielsen). Confira as dicas do especialista:
1 – PUBLICIDADE NO GOOGLE: USE COM MODERAÇÃO
A pesquisa aponta que estar atento aos principais canais que os consumidores usam para pesquisar preços e produtos é uma vantagem indispensável para qualquer negócio on-line. E nesse recorte, o Google sai na frente, com 58% dos consumidores recorrendo ao buscador para iniciar a jornada de compras.
Mas vale apostar todas as fichas nisso, investindo em links patrocinados ou em Search Engine Marketing (estratégia para melhorar o posicionamento do site)? Depende.
A pesquisa mostra que 47% dos consumidores preferem recorrer diretamente a sites ou apps de lojas nas quais querem comprar, e 41% aos das lojas que conhecem e confiam. Ou seja, o comportamento do consumidor está polarizado neste sentido.
A despeito da representatividade do Google na tomada de decisão de compra, Pedro Guasti explica que, historicamente, o investimento neste tipo de mídia vem subindo ano a ano, impactando a verba dos anunciantes, sufocando sua rentabilidade.
“Uma boa estratégia de marketing deve ser equilibrada e diversificada, levando em consideração ferramentas adequadas à demanda e características do negócio”, afirma. Por isso, ele recomenda alternativas para melhorar os resultados.
– Criação de identidade visual para gerar identificação do público com sua marca;
– Mesclar ações de marketing virtuais e físicas para conhecer o perfil e hábitos do consumidor, para descobrir se faz mais sentido investir em panfletagem, outdoor, anúncios em rádio e TV local ou então investir em mídias pagas on-line.
– Desenvolver uma estratégia de inbound marketing (conversão de clientes), com a criação e disponibilização de conteúdo no site e blog da empresa. Aqui vale reforçar que o conteúdo será utilizado pelo motor de busca do Google, gerando tráfego orgânico (SEO) e sem custo. “O ideal é que tenha design responsivo para se adequar a diferentes tamanhos e tipos de tela, promovendo boa experiência nas maiorias dos dispositivos.”
– Elaborar campanhas de e-mail marketing. A base de e-mails pode ser formada pelo acesso fornecido de forma voluntária, formando uma base de potenciais prospects e clientes. “Importante ter cuidado e respeitar orientações da legislação, em especial da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)”, alerta.
– E um dos mais importantes: estar presente nas redes sociais, indispensável para as estratégias de marketing. “Isso faz com que o negócio se torne mais acessível para o público, e ainda contribua para que a marca faça parte do dia a dia das pessoas. Afinal, elas estão sempre conectadas e de olho no que está acontecendo.”
2 – LOGÍSTICA A FAVOR DO CONSUMIDOR ANSIOSO
O levantamento Octadesk/Opinion Box aponta que 88% dos consumidores compram on-line pelo menos uma vez por mês, em sites e lojas virtuais (65%), marketplaces (60%) ou apps da loja (54%). Principalmente pelo fator preço, considerado mais baixo que na loja física na opinião de 59% dos entrevistados.
Mas a compra off-line é a alternativa para “matar” a ansiedade do consumidor: 63% deles preferem comprar em loja física porque podem levar o produto na hora; 56% para poder ver e tocar nos produtos; e 25% para vivenciar a experiência na loja. A maior parte desses consumidores “ansiosos” pesquisa antes na internet sobre os produtos que desejam, mas preferem comprar (74%) ou retirar (80%) na loja física.
Segundo Guasti, os clientes ainda precisam ser atendidos em diversos formatos de venda e entrega, seja loja física, site ou app, dependendo da sua conveniência. Por isso, a logística de entrega é um fator fundamental para o sucesso do comércio. Entregar rápido e manter os clientes informados a cada etapa do processo deixa-os menos apreensivos, melhorando a experiência de compra e confiança nas lojas.
“Disponibilizar a retirada dos produtos também em lockers é uma estratégia interessante, pois deixa mais conveniente a forma de receber as compras de acordo com a necessidade do cliente”, diz o especialista.
3 – UM QUARTO DO DIA NAS REDES SOCIAIS
As vendas pelo Instagram, TikTok, Facebook e outras redes sociais devem alcançar US$ 8,5 trilhões até 2030, tornando o social commerce uma das grandes tendências de consumo on-line. A pesquisa Octadesk/Opinion Box confirma isso: 66% dos consumidores têm o hábito de pesquisar produtos nas redes. A preferência da consulta é pelo Instagram (72%).
Desses entrevistados, 69% disseram ter comprado produtos que descobriram a partir de publicidade paga nas redes sociais. A estratégia é interessante, segundo a pesquisa, pois direciona as mensagens para o público certo, alinhando-se com seus interesses, comportamentos e perfis demográficos, criando “oportunidades únicas de engajamento”.
Pedro Guasti corrobora essa informação, citando estudo da consultoria global Statista, que mostra que o Brasil fica em 2º lugar em tempo de uso diário de internet, com 9 horas e 32 minutos, perdendo só para a África do Sul, com 9 horas e 38 minutos. A média global é de 6 horas e 37 minutos.
Em sua avaliação, estes dados mostram que as redes sociais se tornaram parte indispensável da vida das pessoas em todo o mundo, seja no trabalho ou durante o lazer. Ou seja, passamos mais de um quarto do nosso dia navegando na web, e estima-se que seis em cada dez pessoas no mundo já estão on-line, diz.
“Isso mostra cada vez mais a importância de as empresas estarem presentes nas redes sociais para oferecerem seus produtos e serviços, principalmente nas mais utilizadas, como Instagram, Facebook, TikTok e Youtube”, afirma. “As redes sociais permitem anúncios baseados em dados de comportamento, garantindo uma melhor segmentação de marketing e ocasionando uma experiência de compra fluida e segura a partir desses canais.”
Nesse cenário, completa o especialista, os influencers representam um papel muito importante na divulgação e apresentação de produtos, impactando diretamente os seguidores na tomada de decisão de compra: segundo a pesquisa, 45% dos entrevistados já compraram “influenciados” por eles.
4 – A EXPERIMENTAÇÃO CONTINUA
A pandemia forçou o consumidor a comprar on-line. Primeiro, artigos de vestuário, ajudados por provadores virtuais e realidade aumentada. Depois, estando confinados, passaram a comprar produtos perecíveis ou mais baratos, como alimentos, bebidas, artigos de higiene e limpeza e artigos PET – os chamados FMCG, ou bens de consumo de movimentação rápida, lembra Guasti, citando a percepção sobre o tema da consultoria global Ebit-Nielsen.
Hoje, 65% dos consumidores passaram a comprar pela internet produtos que nunca imaginaram que comprariam, aponta a pesquisa Octadesk/Opinion Box.
“Tivemos uma mudança importante no comportamento de compras, sendo que a logística teve um importante papel nesse processo. Os consumidores entenderam que poderiam economizar seu precioso tempo com atividades mais divertidas e interessantes, substituindo a ida a lojas e supermercados lotados por compras virtuais em suas residências”, diz Guasti.
Mas ainda há produtos, como óculos (24%) e colchões (21%), que enfrentam resistência por parte do consumidor on-line, segundo a pesquisa. Por isso, vale apostar em informações detalhadas sobre cada tipo de produto, em recomendações personalizadas com base em respostas dos clientes, em avaliações anteriores e depoimentos, em políticas de devolução claras e flexíveis e explorar tecnologias que permitam demonstrações virtuais.
5 – POTENCIAL MUITO ALÉM DA ‘TAXA DAS BLUSINHAS’
Sete em cada 10 brasileiros compram de sites internacionais, segundo a pesquisa Octadesk/Opinion Box. Mas a maioria dos consumidores (83%) adquire os produtos de sites/vendedores brasileiros que têm suas lojas virtuais alocadas em marketplaces estrangeiros.
Segundo Pedro Guasti, estar presente em marketplaces é uma forma muito interessante na estratégia de diversificação das vendas. Recorrer a plataformas como Ali Express, Amazon, Magalu, Mercado Livre ou Shopee gera um bom volume de vendas sem a necessidade de grandes investimentos em marketing e conquista de clientes.
Mas é preciso colocar esse investimento na ponta do lápis. “As comissões de vendas cobradas pelas plataformas podem inviabilizar o negócio”, alerta, lembrando que, do lado dos consumidores, comprar em sites internacionais exige cuidado com relação aos longos prazos de entrega e, muitas vezes, não tendo garantia nos produtos comprados.
Outro recorte da pesquisa mostra que essa discussão também é polarizada: enquanto 51% dos consumidores tiveram a compra internacional taxada, mas compraram mesmo assim, outros 43% desistiram do produto por causa da taxa.
Em tempos de “taxa das blusinhas” (20% de imposto nas compras acima de US$ 50), vale para o empresário se associar a essas plataformas para ampliar sua base de clientes? Sim, segundo Guasti.
“Os consumidores terão menos vantagens em comprar nesses sites, mas com esse aumento dos preços, pode valer a pena, uma vez que o custo de produzir e vender no Brasil é um dos maiores do mundo”, diz.
Fonte: Diário do Comércio – Imagem: Freepik