Na 10ª edição do Seminário de Inovação em Powertrain, encontro organizado pela AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, ocorrido de maneira online na última quinta-feira, 27 de junho, representantes da indústria e da academia foram unânimes na avaliação de que na busca pela descarbonização não há uma única solução, mas diversas.
Por esse prisma, o evento, sob o tema “Powertrain do futuro: moldando a jornada para a mobilidade verde”, também enfatizou a vantagem brasileira para alcançar neutralidade em carbono no transporte em geral. Em especial, pela ampla oferta e expertise no desenvolvimento de biocombustíveis, caso do etanol.
Em apresentação que destacou sistema de propulsão e soluções técnicas sobre os quais se debruça a indústria, Vicent Bigliardi, gerente de engenharia da AVL South America, proporcionou visão do que vem pela frente, bem como os desafios. Tecnologias híbridas, baterias e células de combustível a hidrogênio se mostram como as principais rotas para atender a urgência da descarbonização, porém avançam conforme características regionais.
“É um resumo do cenário global, com todos os desafios provenientes de cada tecnologia, o que inclui custo e disponibilidade de matéria prima e infraestrutura. Mas certamente coexistirão no futuro”, resumiu o engenheiro da AVL. “Por enquanto, a visão é de que o motor a combustão interna deve permanecer por muito tempo. Daí a necessidade de torná-lo mais eficiente com uso de combustíveis livre de carbono e com a hibridização. Para o Brasil, o etanol, por seu ciclo virtuoso, é a solução que faz mais sentido”.
A convicção de que o motor de combustão interna ainda tem vida longa também é compartilhada por Alexandre Xavier, da área de desenvolvimento de motores da FPT, ainda mais ao se tratar de veículos pesados. O desafio no segmento passa pela busca de solução com nível de eficiência energética simular ao do diesel, porém limpa.
Segundo Xavier, a estratégia da FPT também persegue diversas soluções, desde os desenvolvimentos de motores a gás e biometano a trens de força 100% elétricos. “O combustível é o principal aliado na região. Hoje, estamos desenvolvendo um motor a etanol para ser aplicado em colheitadeiras, uma alternativa limpa para o mundo da cana de açúcar, segmento que produz o combustível”.
O representante da FPT lembrou também do etanol, mas como solução no agronegócio. “O combustível é o principal aliado na região. Hoje, estamos desenvolvendo o nosso motor Curso 13 para ser aplicado em colheitadeiras, uma alternativa limpa para o mundo da cana de açúcar, segmento que produz o combustível.”
Maior interação entre os pesquisadores
Na trajetória da descarbonização no Brasil, um fato ganha cada vez mais relevante: a bem-vinda maior interação entre governo, indústria e academia. Ao menos assim enxergam as professoras Mona Lisa Moura, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), e Ludmila Correa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A apresentação das palestrantes mostrou taxa de crescimento de integração de pesquisadores na indústria, muito impulsionado pelas políticas setoriais como o Inovar Auto e o Rota 2030. “Ao estimular o avanço de tecnologia e inovação, elas promoveram sinergias entre o setor e a universidade, além de permitir integração de diferentes campos de conhecimento”, resumiu Mona Lisa.
“Sob os eixos de biocombustíveis, segurança veicular e propulsão alternativa estão em andamento 50 projetos que envolvem 80 empresas, 1,3 mil bolsistas e mais de 60 engenheiros”, completou Ludmila Correa.
Exemplos de resultados práticos da interação entre a indústria e academia trouxe Suellen Gaeta, gerente executiva da Cummins e responsável pela governança de descarbonização da empresa. “Em parceira com a Unesp (Universidade Estadual Paulista) desenvolvemos estudo a respeito de combustíveis e economia circular, o que nos ajudou a obter mais eficiência e redução de poluentes tanto na produção quanto no produto.”
Por fim, Cassiano Lima, especialista em desenvolvimento de negócios na Robert Bosch, destacou a contribuição da remanufatura na mobilidade verde. Para o engenheiro, a jornada da descarbonização só é possível se for pensada de forma holística. “O foco na economia circular garante o prolongamento da vida útil de componentes, redução do uso de matérias-primas e manutenção mais eficiente da frota atual, passivo ambiental que temos.”
Exemplo apresentado pelo engenheiro no processo de remanufatura de sistema de injeção de ciclo diesel da Bosch permitiu à empresa reduzir em 88% o uso de matéria-prima, em 52% a emissão de CO2 e em 56% o consumo de energia.
A AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva é uma entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo ser um fórum neutro de discussão sobre questões estratégicas relativas à engenharia automotiva nacional com envolvimento direto da indústria automotiva, de órgãos governamentais, instituições de ensino e de pesquisa, entidades internacionais e a sociedade em geral. A entidade conta com um sólido histórico de mais de 35 anos de grandes contribuições para o desenvolvimento da engenharia automotiva e das políticas públicas do setor, com a ação sustentada em pilares como conhecimento científico, tecnologia, competitividade, qualidade, autonomia e sustentabilidade.
Única associação 100% nacional no segmento, hoje a AEA está consolidada no setor automotivo como um centro catalisador de soluções. Atualmente, a entidade conta com mais de 80 empresas associadas, provenientes de diversos segmentos do setor automotivo que participam ativamente de comissões técnicas, grupos de trabalho, workshops, eventos, cursos e projetos voltados para o desenvolvimento da engenharia automotiva nacional. Para mais informações, acesse o site www.aea.org.br.