Por Fernando Miragaya
Uma coisa é você brigar no mercado de picapinhas com um produto conhecido e líder há mais de 20 anos. Ou na de médio-compactas (ainda) sem rivais de fato. Agora, a Fiat vai ter de experimentar um campo bem mais desfavorável com a Titano, picape que vai ter de lutar por espaço com adversários casca-grossas no disputado segmento de médias.
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Lançada na quinta-feira, 14, por preços competitivos (veja mais adiante), a Titano se mostra estratégica para o plano da Stellantis de aumentar – ainda mais – a participação de mercado da marca no Brasil. Porém, trata-se de um projeto que tirou a Fiat da zona de conforto.
A trajetória multifacetada da Fiat Titano
Isso porque a Titano não é um projeto original, nem feito sobre monobloco como suas irmãs mais que bem sucedidas Strada e Toro. A picape nasceu em 2019 fruto de uma parceria da então PSA Peugeot Citroën com a chinesa Changan.
O modelo, que começou como Kaiceng F70, foi apresentado mundialmente em 2020 como Peugeot Landtrek. Assim, seria e foi vendido nos mercados da América Latina, com estreia no Brasil prevista para 2021.
Nesse meio tempo foi criada a Stellantis, fusão do Grupo PSA com a FCA – Fiat Chrysler Automóveis. E o destino da picape média mudou bruscamente.
A divisão brasileira da montadora percebeu o risco de lançar uma nova picape no Brasil com a marca Peugeot, depois do fracasso da Hoggar. Enquanto a engenharia local começou a trabalhar a adaptação para nosso mercado, olharam na prateleira de casa e viram que o kmow how picapeiro do grupo automotivo estava nas mãos da Fiat.
A marca também cresceu o olho. A categoria de picapes é a que mais evolui no mercado nacional depois dos SUVs. Hoje representa 19% de tudo que se vende no país, o que pode ajudar a Fiat a retomar a participação de mercado de 23% que tinha em 2016 – a marca fechou 2023 com 21%.
“As picapes foram estratégicas e fundamentais na retomada de market share da Fiat”, reconheceu Herlander Zola, vice presidente de orações da Stellantis.
Quanto a Fiat quer vender de Titano
Desta forma, a então Landtrek chega só agora ao Brasil com marca e nomes diferentes, e metas ambiciosas. A Fiat acredita em deter de 8% a 10% do segmento de picapes médias com a Titano, o que significa um número de vendas por volta de cerca de mil unidades por mês – essa categoria emplacou mais de 120 mil unidades em 2023.
A marca, contudo, sabe melhor que eu que não será uma tarefa fácil. Nesta seara existem players fortes, como a queridinha e líder Toyota Hilux, a nova geração da Ford Ranger e as sempre boas de vendas – especialmente diretas – Chevrolet S10 e Mitsubishi L200.
A missão é tão complexa que a engenharia brasileira assumiu as rédeas do projeto sino-francês este ano, já de olho no futuro da picape.
Uruguai dá conta do volume de Titano?
Nos planos, não confirmados, estão mudanças fabris e logísticas. Para quem quer ter 1/10 do mercado na categoria, é preciso garantir volumes que a unidade da Nordex, no Uruguai, onde a picape é montada como Titano e Landtrek em sistema CKD, talvez não atenda.
Por isso, a Stellantis não confirma, mas já se movimenta para fazer a picape média em Córdoba, na Argentina, unidade onde é feito o sedã Cronos. O investimento vem de parte do pacote de mais de R$ 30 bilhões anunciados pelo grupo na primeira semana de março.
Preços competitivos
Mas isso é coisa para 2025 e até lá a Fiat vai ter que se virar com sua picape em três versões com o mesmo motor 2.2 turbodiesel de 180 cv. A estratégia foi justamente se concentrar em uma faixa de entrada do segmento e com custo benefício bastante agressivo.
A Fiat Titano chega como uma das picapes médias mais baratas do Brasil. Custa R$ 119.990 na versão de entrada Endurance, única com câmbio manual de seis marchas e voltada para vendas diretas, mercado muito bem explorado pela S10 (com frotistas) e pela L200 (vendas governamentais) – esta custa R$ 90 a menos em sua opção inicial. A expectativa é que represente 20% dos licenciamentos da linha.
Com caixa automática de seis velocidades, a versão intermediária Volcano, segundo a Fiat, vai atuar como modelo “funcional”, tanto para lazer como para o trabalho. Tem preço de R$ 239.990 e deve ficar com 30% da fatia das vendas do modelo. Metade e maior parte das vendas estão depositadas na Ranch, que custa R$ 259.990 e quer atrair picapeiros e aqueles aventureiros urbanos.
Para compensar o fato de ter os motores com menor potência da categoria e uma capacidade de carga “mais do mesmo” de 1.002 kg, a Fiat Titano acena com cinco anos de garantia, volume de 1.314 litros na caçamba e promessas de cesta de peças mais baixa que a média do mercado, além de duas primeiras revisões na faixa dos R$ 1.800, cada.
“Com as três versões não vamos ocupar todas as faixas do segmento, mas posso afirmar que nas faixas onde estamos teremos um nível de competitividade extremo que nos dará condições de ampliar ainda mais a nossa participação na categoria de picapes”, aposta Zola.
Veja os preços e equipamentos da Fiat Titano:
- Fiat Titano Endurance – R$ 219.990 – seis airbags, controles de estabilidade, tração, subidas e descidas, bloqueio do diferencial traseiro, ar-condicionado, controle de cruzeiro, som com Bluetooth, três tomadas USB e comandos no volante, assoalho de vinil, coluna da direção com regulagem de altura e de profundidade, iluminação da caçamba e descansa-braço para motorista e carona.
- Fiat Titano Volcano – R$ 239.990 – Itens da Endurance mais câmera e sensor de ré, câmera 180 graus, central multimídia com tela de 10” e conexão com smartphones por cabo, quadro de instrumentos com display de 4”, bancos e volante revestidos de couro, capota marítima, protetor de caçamba, rodas de liga leve aro 17”, assoalho de carpete, duas tomadas 12V e faróis de neblina.
- Fiat Titano Ranch – R$ 259.990 – Itens da Volcano mais aviso de saída de faixa de rolamento, câmera 360 graus, monitoramento de pressão dos pneus, sensor de estacionamento dianteiro, bancos dianteiros com ajustes elétricos, ar automático bizona, rebatimento elétrico dos retrovisores, chave presencial, faróis, lanternas e DRL de LEDs, santantonio cromado, estribos laterais, rodas de liga leve aro 18”, GPS nativo, sensores crepuscular e de chuva e quatro alto-falantes.
Fonte: Automotive Business