Por Beatriz Capirazi
A BEE4, plataforma que quer ser a porta de entrada de pequenas e médias empresas (PMEs) no mercado de capitais brasileiro, passará a medir o grau de maturidade em ESG (sigla em inglês para boas práticas nas áreas de meio ambiente, social e governança) das empresas listadas na bolsa, impulsionando a agenda também entre as companhias de menor porte.
A companhia é considerado o primeiro ambiente para negociação de ações tokenizadas de PMEs do País com aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As ações listadas na BEE4 são tokens. Em suma, a tokenização é a capacidade de transformar qualquer ativo, inclusive investimentos, em uma versão digital que pode ser negociada de forma fracionada. No caso da BEE4, as ações das empresas listadas são transformadas num token e negociadas em um ambiente de blockchain, livro de registros compartilhado e imutável usado para computar transações.
Em parceria com a startup portuguesa C-More, a nova iniciativa da BEE4 visa auxiliar as companhias a avaliar, definir estratégias e colocar em prática ações que vão impulsionar seu crescimento alinhado ao ESG.
Com a ação, a expectativa é que as companhias de menor porte façam um caminho diferente das grandes empresas do mercado, que estão tendo de se adaptar às demandas ESG com a pressão do mercado. Segundo a empresa, a ideia é que as companhias listadas na BEE4 já estejam inseridas nas normas desde já.
A CEO da BEE4, Patrícia Stille, que atuou durante seis anos na XP Inc, responsável pelas corretoras de investimentos XP e pela Rico, afirma que a ideia é impulsionar o crescimento estratégico das companhias.
“As práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização não precisam chegar só quando as empresas se tornam maiores. Novos produtos com foco em ESG estão surgindo e precisamos apoiar as empresas já listadas (na bolsa de PMEs) e as futuras que estão por vir a se tornarem alvo desses investidores”, diz Stille.
Além de Stille, Carlos Ratto, ex-diretor da B3 e ex-CEO da Vórtx QR Tokenizadora, Marcelo Deschamps, ex-Banco Central e B3, e Caio Azevedo, ex-CEO da XP US fazem parte da liderança da BEE4.
A executiva explica que a adoção ao processo é opcional, mas que as empresas listadas demonstraram animação com a ação. “Uma já está fazendo, outra vai começar a fazer e outra vai fazer só lá para frente. Mas todas entenderam que é importantíssimo começar a ter iniciativas desde já. Tem muito oba-oba e greenwashing (“lavagem verde” em livre tradução, que se refere ao ato de divulgação falsa sobre sustentabilidade) nessa agenda, então você tem que trazer orientação para que elas cresçam de forma sustentável.”
Para participar, as companhias interessadas devem responder a um questionário de 40 questões sobre a adoção de boas práticas ESG. De volta, elas irão receber pontuações, além de relatórios com potenciais planos de ação que podem ser implementados, em linha com a regulamentação europeia e outras normas usadas em âmbito global. Inicialmente, as companhias terão acesso à avaliação sem qualquer custo envolvido.
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Atualmente, três empresas estão listadas na BEE4, que é voltada a empresas com faturamento anual de R$ 10 milhões a R$ 300 milhões: a Engravida, rede de clínicas especializada em reprodução assistida; a Mais Mu, startup com foco em alimentação saudável; e a Plamev Pet, com foco em planos de saúde para pets. Além delas, a Eletron Energia, com foco em eficiência energética, está em processo de IPO (quando uma empresa abre o seu capital e passa a ser negociada na bolsa de valores) atualmente.
Além da parceria com a C-More, a companhia tem a intenção de ampliar as ações com foco em ESG, lançando materiais de orientação para que elas consigam avançar na agenda. “O primeiro passo é dizer por que é importante. O segundo é dar uma ferramenta para ajudar, e o terceiro, explicar como reportar”.
Além disso, a ideia é que, no futuro, quando o número de empresas listadas for maior, a BEE4 crie selos ESG para demonstrar quais companhias estão mais maduras na temática. “Tem que ser gradativo, para construir essa base sólida com as empresas. Temos como objetivo, nesse momento, que as empresas participem do diagnóstico e aprendam mais sobre ESG. Com o tempo, isso também trará como benefício mais atratividade para essas PMEs”, aponta Stille.
Existe ainda a intenção de criar índices temáticos com foco em boas práticas de ESG, por exemplo, tal qual a Bolsa de Balores do Brasil, a B3. “A médio prazo, queremos isso. É audacioso, mas temos certeza que, conforme nos conectarmos com as corretoras, vamos ter mais velocidade e um número maior de listagens, permitindo essas segmentações”.
A plataforma conta atualmente com 5 mil cadastros ativos de investidores, formados majoritariamente por investidores qualificados (classificação da CVM para investidores que possuem aplicações de valor igual ou superior a R$ 1 milhão, ou que possua alguma certificação na área) e entusiastas por tecnologia. Stille, destaca, no entanto, que a plataforma é aberta a pessoas físicas, com ativos sendo negociados a partir de R$ 17.
Para 2024, ela destaca que a marca tem a intenção de começar a oferecer produtos de renda fixa (investimentos que tem sua rentabilidade previsível e atrelada a índices, como a taxa básica de juros, a Selic, ou a inflação) na BEE4, também com foco em PMEs, considerando que essa ainda é uma das modalidades preferidas dos brasileiros.
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A companhia afirma que ainda não pode revelar a quantidade de IPOs que devem acontecer na BEE4 neste ano, mas adianta que, até 2027, a empresa espera ter mais de 100 empresas listadas.
Tendo negociado R$ 2,5 milhões em ativos desde o seu lançamento, em setembro de 2021, a BEE4 atualmente tem como foco central a ampliação de corretoras com as quais ela está conectada. A companhia já conta com a Oliveira Trust como escriturador e Itaú Unibanco e Genial Investimentos como corretoras externas como distribuidoras dos ativos listados na BEE4.
Na Genial as negociações das ações tokenizadas são abertas ao público em geral, enquanto no Itaú são destinadas aos clientes do private banking, que possuem investimentos acima de R$15 milhões.
Fonte: Estadão