Por Lucas Torres
A contínua desaceleração das vendas dos carros 0km e o bom momento vivido pelos automóveis usados e seminovos há pelo menos três anos têm alterado a configuração do faturamento das indústrias de autopeças que operam no Brasil. De acordo com a última pesquisa conjuntural divulgada pelo Sindipeças, a participação do aftermarket no faturamento mensal dos fabricantes de peças automotivas saltou 3,51% entre julho de 2022 e o mesmo mês deste ano, saindo de uma representatividade de 14,04% para a casa dos 17,55%.
O aumento da participação da reposição no total arrecadado pela indústria de autopeças do Brasil ocorreu a reboque da diminuição da participação das montadoras, que, na mesma amostra, foi de 5,16%, saindo de 69,78% para 64,62%. Essas mudanças de proporção nas fatias de faturamento estão sendo percebidas na prática pelas indústrias – vale lembrar, ainda, que a lucratividade dos fabricantes na reposição é maior, pois não ficam sujeitas à imposição de preços que em geral as montadoras fazem em razão da força que a escala lhes proporciona.
De acordo com o Gerente Comercial para Aftermarket da Arteb, Gustavo Souza, a reposição representa um percentual importante no resultado geral da empresa e, em razão disso, ela está intensificando seu planos expansão no segmento – algo que tem sido desafiador pelo atual momento macroeconômico do país e seu efeitos na massa consumidora. “Nosso país possui uma frota circulante importante e o segmento de reposição segue aquecido e resiliente às grandes oscilações de contexto econômico; entretanto, quando o poder de compra é impactado por situações macroeconômicas, o consumidor tende a optar por peças de baixo custo, principalmente na fatia da frota mais antiga”, apontou Souza, antes de detalhar os efeitos que este ambiente produz em fabricantes que se dispõem a atender aftermarket e montadoras com o mesmo nível de cuidado. “Este fluxo de peças importadas com baixa qualidade e nenhuma regulamentação e controle segue sendo um grande desafio para as empresas que investem em qualidade e que possuem um nível alto de investimento para manter os mais altos padrões de tecnologia e controle nos processos exigidos pelas diferentes montadoras”, finalizou.
ESTRATÉGIA
Indústrias se mobilizam para aplicar estratégias voltadas à nova configuração A contínua desaceleração das vendas dos carros 0km e o bom momento vivido pelos automóveis usados e seminovos há pelo menos três anos têm alterado a configuração do faturamento das indústrias de autopeças que operam no Brasil. De acordo com a última pesquisa conjuntural divulgada pelo Sindipeças, a participação do aftermarket no faturamento mensal dos fabricantes de peças automotivas saltou 3,51% entre julho de 2022 e o mesmo mês deste ano, saindo de uma representatividade de 14,04% para a casa dos 17,55%. O aumento da participação da reposição no total arrecadado pela indústria de autopeças do Brasil ocorreu a reboque da diminuição da participação das montadoras, que, na mesma amostra, foi de 5,16%, saindo de 69,78% para 64,62%. Essas mudanças de proporção nas fatias de faturamento estão sendo percebidas na prática pelas indústrias – vale lembrar, ainda, que a lucratividade dos fabricantes na reposição é maior, pois não ficam sujeitas à imposição de preços que em geral as montadoras fazem em razão da força que a escala lhes proporciona. De acordo com o Gerente Comercial para Aftermarket da Arteb, Gustavo Souza, a reposição representa um percentual importante no resultado geral da empresa e, em razão disso, ela está intensificando seu planos expansão no segmento – algo que tem sido desafiador pelo atual momento macroeconômico do país e seu efeitos na massa consumidora. “Nosso país possui uma frota circulante importante e o segmento de reposição segue aquecido e resiliente às grandes oscilações de contexto econômico; entretanto, quando o poder de compra é impactado por situações macroeconômicas, o consumidor tende a optar por peças de baixo custo, principalmente na fatia da frota mais antiga”, apontou Souza, antes de detalhar os efeitos que este ambiente produz em fabricantes que se dispõem a atender aftermarket e montadoras com o mesmo nível de cuidado. “Este fluxo de peças importadas com baixa qualidade e nenhuma regulamentação e controle segue sendo um grande desafio para as empresas que investem em qualidade e que possuem um nível alto de investimento para manter os mais altos padrões de tecnologia e controle nos processos exigidos pelas diferentes montadoras”, finalizou.
Essa atenção especial ao aftermarket automotivo também está ocupando o centro estratégico de gigantes multinacionais, como é o caso da ZF. Segundo sua Gerente Sênior de Comunicação, Fernanda Giacon, a empresa tem lançado cerca de mil novos produtos a cada ano para o mercado de reposição, bem como realizado investimentos em outras áreas demandadas por um cenário de pujança do aftermarket. “O aumento dos negócios no aftermarket demanda mais investimentos em logística, maior suporte técnico de campo, melhorias contínuas nas ferramentas digitais como catálogos, sistemas de treinamentos, etc”, comentou Giacon, complementando que a soma desses esforços está resultando em um crescimento consistente da ZF na reposição. Outro fabricante de autopeças que atende as montadoras e a reposição, a Sabó comemora o fato de ter um bom equilíbrio em termos de distribuição para os dois segmentos. Além disso, de acordo seu Diretor de Aftermarket, Marcus Vinícius, os esforços para atender a maior demanda do segundo acabam sendo recompensados por um componente importante: a margem com que os preços são negociados. “O aftermarket historicamente tem uma margem melhor em relação ao OEM, bem como o número maior de itens e volumes idem”, apontou o diretor da Sabó.
Mudança de configuração liga sinal de alerta, mas indústria se diz preparada
Quando vista apenas pelos números ‘gerais’, as mudanças do ‘marketshare’ de reposição e OEM no faturamento das indústrias de autopeças podem ser interpretadas como ‘resul tado natural’ da diminuição das vendas dos veículos 0km. Acontece, porém, que o detalhamento dos dados de fatura – mento mostra que aftermarket e montadoras estão em meio a curvas agudas de uma trajetória inversamente proporcional. Nos atendo, de novo, ao período de um ano que compreende os meses de julho de 2022 e 2023, percebemos não apenas uma queda do faturamento nominal na casa dos 1,98% das OEM, mas também aumento expressivo do faturamento nominal da reposição (20,84%). Em resumo, portanto, o que a fotografia do cenário atual revela é que os fabricantes de autopeças não apenas têm de absorver a diminuição das vendas para as montadoras como também se prepararem para atender uma demanda acima do que estavam acostumadas no âmbito do aftermarket. A depender da indústria, este cenário – sobretudo se seguir se acentuando nos próximos anos – pode exigir uma mudança de configuração do processo de produção. Afinal, embora os produtos sejam os mesmos, podem existir diferenças organizacionais e de ajustes que separam a produção direciona – da à reposição daquela voltada ao mercado de carros 0km.
Gustavo Souza, da Arteb, explicou como essas diferenças se dão em sua empresa e a complexidade acarretada por essas particularidades“Geralmente o fluxo industrial de peças para a produção dos nossos clientes é serial, ou seja, um processo estável com uma quantidade reduzida de referências e também de setups de máquinas, o que é benéfico no ambiente industrial. Migrar o volume ou compensar este volume com reposição geralmente significa aumentar a complexidade industrial indo no caminho inverso. Realizar esta ‘compensação’ pode não ser simples ou mesmo factível, dependendo do segmento de atuação, linha de produto e portfólio das empresas”, detalhou o executivo. Ainda sobre o tema, quando questionado sobre os impactos resultantes de um cenário em que ocorresse uma reconfiguração da participação de aftermarket e OEMs no âmbito da demanda, Souza apontou que o chão de fábrica seria afetado de diversas formas, se fazendo necessária a redefinição do plano de produção, compra de insumos, processos, ferramentas e embalagens. “Podemos dizer que, apesar de serem as mesmas peças, so – mente o fato de mudar o mercado consumidor já altera completa – mente o planejamento fabril e todo o planejamento da empresa”, finalizou, comemorando que, atualmente, a Arteb está organizada para realizar este balanceamento sem alterações drásticas. “Temos sido eficientes no uso deste mecanismo a nosso favor” .
Na ZF, oscilações dos segmentos não mexem na produção
Considerando mesma questão – eventual impacto nos processos produtivos com as oscilações dos segmentos a serem atendidos –, a ZF informou, por meio da Gerente de Comunicação, Fernanda Giacon, que nem a perspectiva de um volume de produção de veículos limitado por parte das montadoras que atuam no Brasil e nem as projeções favoráveis dos carros usados para os próximos meses faz a empresa considerar qualquer movimento em termos de readequação de sua linha de produção. “A ZF Aftermarket é uma empresa líder, com um portfólio de produtos completo em freios, direção, suspensão, embreagens, transmissões, eixos. Temos 7 plantas no Brasil e mais de 160 no mundo que suportam nossas demandas. Temos planejamentos de investimentos de longo prazo, baseados em estudos estratégicos de comportamento de mercado. Não tomamos decisões diante de circunstâncias econômicas pontuais”, sentenciou Giacon.
Produção de autopeças para montadoras deve seguir curva de declínio
O ano de 2023 começou com um clima de relativo otimismo por parte das montadoras e de entidades como Anfavea e Sindipeças. Passados 10 meses do Réveillon, no entanto, o otimismo se transformou na decepção exposta em seguidas revisões de projeções divulgadas no início deste mês de outubro. Depois de apostar que teríamos, neste ano, uma produção de automóveis 2,2% superior àquela registrada em 2022, o novo prognóstico da Anfavea passou a ser o de que o calendário atual será de ‘mercado flat’. Isto é, de desempenho idêntico ao de 2022. Ainda mais decepcionado com a forma como o ano tem se desenvolvido para o mercado dos carros 0km e, por conseguinte, para as demandas advindas das montadoras, o Sindipeças passou a projetar queda de até 1,2% na produção de veículos na comparação com 2022, para 2 milhões 341 mil unidades, uma revisão, para baixo, da previsão inicial, de janeiro, que indicava 2 milhões 370 mil veículos produzidos no ano, volume estável com relação ao ano passado. Ao comentar o cenário, Fernanda Giacon, da ZF, reforçou a necessidade de a empresa apostar na intensificação do trabalho destinado a outros canais receptores de seus produtos. “O volume de produção é um dos principais indicadores que temos e, naturalmente, influencia em nosso dia a dia. Por isso é importante nossa atuação no aftermarket e na exportação para balancear nossa produção”, comentou a gerente de comunicação.
Fonte: Novo Varejo