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Perdas no varejo somam R$ 24 bi por ano. Melhorar o controle de estoque pode reduzir prejuízo

08/07/2022

Se tem um indicador de performance de um negócio capaz de deixar o empresário com a cabeça quente no final do mês é o que exibe as perdas.

Isto é, a empresa comprou certa quantidade de produtos para vender ao longo do mês e, por uma ou várias razões, uma parte deles continua no estoque ou simplesmente sumiu.

No ambiente econômico que o país vive hoje, qualquer redução de perda tem um impacto importante no caixa da empresa. No geral, até que a notícia é boa para o mundo do varejo.

Pelo terceiro ano, o índice de perdas no varejo brasileiro caiu, de acordo com pesquisa da Abrappe (Associação Brasileira de Prevenção de Perdas), em parceria com a KPMG.

O índice de 2021 foi de 1,21%, em média, o que representou perdas de R$ 24 bilhões. Em 2020, este percentual foi 1,33%, com perdas de R$ 23,26 bilhões e, em 2019, de 1,36%.

O valor de R$ 24 bilhões em perdas representa o percentual de 1,21% sobre as vendas líquidas do varejo ampliado em 2021, que totalizaram R$ 1,99 trilhão, de acordo com o IBGE.

De 12 setores analisados, quatro merecem atenção, de acordo com a pesquisa da associação, pois registraram crescimento nos índices de perdas em um ano.

Os supermercados são os campeões em perdas. O índice subiu de 2,10% para 2,15%. O varejo de artigos esportivos ocupa a segunda colocação, com alta de 0,99% para 1,12%.

Nos magazines, o indicador subiu de 0,91% para 0,94%, e no varejo de eletroeletrônicos e móveis, de 0,11% para 0,26%.

De acordo com a pesquisa da Abrappe, as quebras operacionais são as principais responsáveis pelas perdas no varejo brasileiro.

“Refletir sobre a cadeia logística (armazenamento e distribuição), analisar de maneira profunda os estoques das lojas e ter o supply chain conectado à realidade da empresa são iniciativas relevantes para a redução exponencial desse índice”, cita o relatório da pesquisa.

Do índice de 2,15% do setor de supermercado, 1,43% refere-se às quebras operacionais, como produtos que ficaram na loja em razão de prazo de validade vencido.

O restante, 0,72%, refere-se às causas desconhecidas, nas quais destacam-se furtos externos (clientes) e internos (funcionários), de acordo com a pesquisa.

Alguns setores que apresentaram queda no índice em 2021 sobre 2020 foram perfumaria, construção/lar, drogarias, atacados e magazines.

Apesar de ter registrado queda no indicador, de 2,60% para 1,74%, as perfumarias, de acordo com a Abrappe, merecem atenção por comercializarem produtos de maior valor agregado.

O índice deste ano, embora menor, é maior do que o da média do varejo no país.

“O setor de perfumaria é um dos mais afetados por práticas criminosas em razão de os produtos serem bastante cobiçados”, diz Carlos Eduardo Santos, presidente da Abrappe.

Vanessa Urbieta, gerente de negócios da InWave, empresa de tecnologia para prevenção de perdas, diz que todos os setores do varejo, sem exceção, precisam reduzir as perdas.

“R$ 24 bilhões por ano não é pouca coisa, sem contar que a estimativa dos varejistas é que quase 30% deste valor referem-se a furtos internos e externos”, afirma.

Apesar de o indicador de perdas ter diminuído, diz ela, os profissionais da área precisam prestar atenção se a redução não é simplesmente resultado do aumento da inflação.

CAUSAS

Um dos tópicos da pesquisa da Abrappe avaliou o sentimento, a estimativa do varejista em relação às causas das perdas.

Quebras operacionais aparecem com 38,7%, furtos externos, com 19,03% e, furtos internos, com 9,18%. Do total de perdas, portanto, furtos são responsáveis por cerca de 28%.

“Este é um número muito alto, estamos falando de um problema social”, afirma Vanessa.

Os mercados paralelos, informais, abastecidos por produtos desviados do varejo, de acordo com ela, estão aquecidos em razão do ambiente macroeconômico que o país vive.

GERENCIAMENTO DE ESTOQUES

Diante deste cenário, o que o varejista pode fazer para reduzir as perdas que estão na casa dos bilhões de reais?

“Os estoques devem acompanhar o histórico de vendas, respeitando as sazonalidades. “Se no inverno o consumo de sorvete é menor, tem de reduzir a compra de sorvete”, diz Vanessa.

Veja como um estoque pode ser bem gerenciado, de acordo com o relatório da Abrappe.

  • Os produtos devem ser adquiridos e recebidos de forma adequada, evitando sobras do mesmo SKU (stock keeping unit) nos estoques;
  • O processo de transferência dos centros de distribuição para as lojas deve considerar os desafios logísticos, a volumetria histórica de vendas e as sazonalidades;
  • Cadastro dos produtos de forma correta, com atenção a SKUs similares;
  • Realização de inventários físicos de forma periódica, acurada, por equipe independente e seguindo as boas práticas de mercado;
  • Conferência por amostragem de itens PAR, controlando os fornecedores com maiores problemas, possibilitando ao varejista maior segurança no processo de entrega;
  • Efetiva gestão dos caixas em cada uma de suas unidades;
  • As promoções precisam ser realizadas em momentos adequados: não podem ser muito antecipadas para não provocar o esvaziamento do estoque, nem ocorrer depois do período ideal, para evitar as quebras;
  • Os indicadores precisos devem ser criados, com planos de ação monitorados quando necessário.

INVENTÁRIOS

Outro ponto importante no combate às perdas, de acordo com Vanessa, é a realização mais frequente de inventários, de forma rotativa, e não apenas uma ou duas vezes por ano.

A pesquisa demonstrou que, para mais de 30% dos respondentes, os inventários cíclicos, com foco nos produtos de alto risco, são realizados diariamente nas lojas e, para mais de 40% dos entrevistados, nos centros de distribuição.

“No caso de produtos com mais quebras, o lojista deve aumentar a frequência de contagem. Se há mais problema nos perfumes, tem que ter mais contagem nesta categoria”, diz Wanessa.

A utilização de câmeras com inteligência, que geram indicadores, também contribui para a redução de perdas. “Não tem jeito, o varejo precisa ter centrais de inteligência com tecnologias conectadas.”

A utilização de circuitos fechados de televisão (CFTV) e de identificação por radiofrequência (radio-frequency identification – RFID), de acordo com relatório da pesquisa, não é mais considerada uma inovação de transformação digital. É necessidade no dia a dia da loja.

Fonte: Diário do Comércio – Imagem: Freepik

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