“Qualquer associação de classe será tão forte quanto os seus membros queiram fazê-la.”

Marcas próprias se consolidam e fortalecem presença na distribuição

05/01/2022

Por mais que indústria, distribuidores e varejistas dos diferentes setores da economia possam tentar fazer parecer que a cadeia de produção e entrega tradicional se mantém intacta, a consolidação do mundo digital tem tornado cada vez mais fluidas as fronteiras que delimitavam a área de atuação de cada um dos elos – um movimento, na verdade, iniciado há muito tempo com a flexibilização de cadeias, redução de etapas para mitigar custos e novas configurações de  players. No aftermarket automotivo, por exemplo, é possível ver o avanço deste movimento com o crescente interesse dos fabricantes em estabelecer um ponto de contato direto com o consumidor final. Lojas virtuais oficiais de diversas marcas de autopeças em marketplaces como o Mercado Livre são cada vez mais comuns – ainda que, na grande maioria dos casos, contem com a persona do varejista como intermediário da transação. Diante deste embaralhamento das funções dos elos, varejistas e distribuidores avançam para encontrar formas de seguirem relevantes para além da tarefa de fazer com que o produto de determinada marca chegue à ponta. De acordo com Antônio Sá, sócio fundador da Amicci, consultoria de desenvolvimento e gestão de marcas próprias, a busca por produtos exclusivos, que possam mesclar bom preço e alta qualidade, tem sido um dos caminhos mais procurados por gestores brasileiros. “Esse aumento na procura pelas marcas próprias advém de uma mudança muito grande no mercado. Está todo mundo concorrendo com todo mundo. Então, ter produtos exclusivos se tornou imperativo quando o assunto é fidelização de clientes”, analisa o executivo da Amicci. Sá, que também é professor dos cursos de MBA e Pós-Graduação nas áreas de Varejo e Marketing na Faculdade Getúlio Vargas (FGV), conta que – embora esteja se acelerando com mais força no Brasil nos últimos anos – este é um movimento bastante consolidado em locais como a Europa e os Estados Unidos.

IMATURIDADE

Segundo ele, em países como a Suíça, o Reino Unido e a Espanha, a proporção de marcas próprias chega a ser de 50%. “A cada dois produtos, um é de marca própria”, relata, complementando que essa proporção chega a 17% nos EUA, enquanto no Brasil ainda está em cerca de 5%. Quando colocados diante de outros dados relacionados ao movimento, como os das pesquisas produzidas por consultorias como a Kantar e a Nielsen, os números apresentados por Sá revelam a imaturidade do mercado brasileiro não apenas na comparação com os locais onde o conceito de marca própria já está consolidado, mas também no comparativo com seus pares sul-americanos: a média do continente gira em torno de 7,9%. Vale lembrar que, quando falamos de varejo, acabamos englobando setores de configuração diversa no que diz respeito ao funcionamento do ecossistema de negócios. Além disso, o consumidor acaba se comportando de maneira diferente em cada um dos segmentos varejistas, de acordo com os produtos procurados. Por isso, é preciso também estar atento às segmentações que apresentam maior avanço do conceito de marcas próprias.

Neste sentido, um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Marca Própria e Terceirização (ABmapro) em parceria com a Nielsen apontou itens básicos tais quais papel higiênico (25%), feijão (19%), leite asséptico (18%), óleos para cozinhar (18%), açúcar (15%) e arroz (15%) como os que mais avançaram entre os anos de 2019 e 2020. Para além dos números frios, questionamos o executivo da Amicci sobre os segmentos que buscaram sua consultoria com maior frequência a fim de iniciar o desenvolvimento de suas marcas próprias. Para o especialista, embora os itens de supermercado e vestuário já estejam, de fato, mais consolidados, este é um movimento pulverizado que tem sido capaz de engajar empresas dos mais diferentes nichos.

“Temos diversos exemplos no setor automotivo com diferentes itens, desde pneus até o elevador de carros. Outros setores que estão procurando as marcas próprias são o farmacêutico, o mercado de pets, as perfumarias… O varejo como um todo acordou para essa realidade”, relata Sá.

Fonte: Novo Varejo (Por Lucas Torres | jornalismo@novomeio.com.br)

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