Coluna Fernando Calmon nº 1.158
A maior surpresa da classificação semestral dentre os modelos mais vendidos no Brasil foi o desempenho do Taycan. Este Porsche, 100% elétrico, alcançou 46% das vendas de seu segmento, no caso sedãs grandes. No entanto, todos os modelos puramente elétricos nos primeiros seis meses somaram apenas 739 unidades (dados da Anfavea) ou 0,01% do total de automóveis. O Taycan conquistou 29% deste minúsculo nicho.
O ano de 2021 precisa ser observado com algumas ressalvas. Seguidas paradas por falta de semicondutores alteraram de forma substancial o desempenho dos fabricantes de veículos, de vários modelos e até de segmentos inteiros.
Para começar, é preciso relativizar o avanço dos SUVs quando comparados aos hatches compactos. Sem dúvida, os SUVs continuarão a ganhar preferência dos consumidores e consumidoras, mas o resultado do primeiro semestre está distorcido. A escassez aguda do líder dos compactos teve efeito estatístico sobre as tendências. Só daqui a um ano, após regularização da oferta, será possível avaliar o cenário com maior precisão.
Dos 16 segmentos analisados, Onix perdeu a liderança para o HB20 nos hatches compactos, porém o Onix sedã manteve sua posição. Mobi ultrapassou o Kwid entre subcompactos. Renegade voltou à liderança dos SUVs compactos. Dos líderes tradicionais chamam atenção os 99% de participação do BMW Série 7, os 72% da Strada, os 71% dos BMW Séries 3 e 4, além dos 60% do Mustang.
Ranking da coluna tem critérios próprios e técnicos com classificação por silhuetas. Referência principal é distância entre eixos, além de outros parâmetros. Se o enquadramento implica dúvidas, a escolha, em pouquíssimos casos, torna-se subjetiva. Base de pesquisa é o Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam). Citados apenas os modelos mais representativos (mínimo de dois) e em razão da importância do segmento. Compilado por Paulo Garbossa, da consultoria ADK.
Hatch subcompacto: Mobi, 56%; Kwid, 41%; up!, 7%. Mobi, novo líder.
Hatch compacto: HB20/X, 18%; Onix+Joy, 17%; Argo, 16,9%; Gol, 15%; Uno, 6%; Polo, 5,8%; Yaris, 5%; Fox, 4,6%; Ka, 3,3%; Sandero/R.S./Stepway, 3,2%; 208, 2%. Primeira vez liderança do HB20/X.
Sedã compacto: Onix Plus+Joy, 24%; Voyage, 13%; Virtus, 11%; Ka, 9,3%; HB20S, 10%; Cronos, 9%; Versa/V-Drive, 8%; Yaris, 7%; Grand Siena, 6%; Logan, 5%; City, 3%; Etios, 2%. Onix manteve-se à frente.
Sedã médio-compacto: Corolla, 57%; Civic, 25%; Jetta, 6%. Corolla com folga.
Sedã médio-grande: BMW Série 3/4, 71%; Mercedes Classe C, 12%; A4/S4, 7%. Domínio ampliado do BMW.
Sedã grande: Taycan, 46%; Panamera, 13%; BMW Série 5/6 e Mercedes Classe E/CLS, 12%. Porsche: primeiro elétrico líder.
Sedã de topo: BMW Série 7, 99%; Mercedes Classe S, 1%. Participação recorde do Série 7.
Cupê esportivo: Mustang, 60%; Audi TT, 18%; BMW M2, 8%. Mustang amplia liderança.
Cupê esporte: 911, 51%; 718 Boxster/Cayman, 20%; BMW Z4, 17%. Sem ameaças ao 911.
SUV compacto: Renegade, 18%; Creta, 15%; T-Cross, 13%; Tracker, 12%; Nivus, 9%; Kicks, 8,5%; HR-V, 8,2%; Duster, 6%; Cactus, 3%, Tiggo 5X, 2%. Renegade retoma a ponta.
SUV médio-compacto: Compass, 58%; Corolla Cross, 18%, Tucson/ix35, 5%. Compass ainda absoluto.
SUV médio-grande: SW4, 30%; Tiggo 8, 19%; Tiguan, 12%. Líder menos ameaçado.
SUV grande: Trailblazer, 33%; XC90, 12%; Range Rover/Sport, 10%. Trailblazer mantém-se firme.
Monovolume: Fit/WR-V, 53%; Spin, 47%; C3 Aircross, 2%. Fit sempre à frente.
Picape pequena: Strada, 72%; Saveiro, 18%; Oroch, 7%. Strada avançou ainda mais.
Picape média: Toro, 38%; Hilux, 21%; S10, 14%. Líder aumentou a vantagem.
ALTA RODA
SEMINÁRIO Revisão das Perspectivas 2021, da Autodata, destacou temas importantes. A palestrante Marina Willisch, vice-presidente de Comunicação da GM América do Sul, apontou que se o Brasil exportasse um milhão de veículos por ano poderia criar 120.000 novos empregos diretos e indiretos na longa cadeia produtiva do setor. Lembro que em 2017 o País exportou 716.000 unidades, mas não conseguiu voltar a esse patamar. Paulo Cardamone, da consultoria Bright, mostrou a tendência de compras de modelos de maior valor agregado. Em 2020 o tíquete médio era de R$ 63.200 e em 2022 chegará a R$ 91.600.
NISSAN Kicks superou por pouco (420 unidades) o Honda HR-V no primeiro semestre. As mudanças incluem um para-brisa acústico que melhora, de fato, o silêncio a bordo. No uso diário o conforto dos bancos, batizados pela marca de “zero gravity”, faz a diferença até em pequenos percursos. Motor 1,6-L flex entrega 114 cv, mas como o veículo pesa apenas 1.139 kg, o desempenho fica compatível com a média do segmento entre motores de aspiração natural. Seria ideal um motor turbo de 1 litro que a aliança Renault Nissan planeja. Câmbio automático, em 90% dos Kicks vendidos, melhorou um pouco em relação à letargia típica dos CVTs. Tanque de combustível de apenas 41 litros limita o alcance em relação à maioria dos concorrentes.www.fernandocalmon.com.br
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