Por Vitor Matsubara
Os efeitos da pandemia e as mudanças que vão nortear o futuro do setor de autopeças no Brasil foram alguns assuntos no painel “O que lideranças do setor de autopeças esperam para o futuro do aftermarket”, que encerrou a programação do Up Next 2023. O evento foi realizado de forma online por Automotive Business.
Apropriadamente, o debate foi transmitido diretamente da Automec, a maior feira do setor de autopeças da América Latina e que aconteceu no São Paulo Expo, na capital paulista.
Consequências da pandemia
Representantes das maiores empresas do setor concordaram que a pandemia trouxe vários problemas junto à cadeia de fornecedores e na logística. Por outro lado, as fabricantes foram obrigadas a buscar soluções inteligentes para incorporar às suas rotinas.
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“Acredito que todo mundo sofreu com a disponibilidade de produtos. Mas acho que a pandemia trouxe coisas boas: ela forçou e acelerou a digitalização até em áreas pouco usuais e veio para mudar nossa vida. No mercado de reposição, houve uma preocupação com o crescimento do home office, que poderia fazer com que os carros circulassem menos, mas a pandemia trouxe um sentimento de que devemos aproveitar mais nossa vida. Então as pessoas estão gastando mais e viajando mais, o que acaba gerando movimento nas oficinas”, analisou Robinson Silva, diretor de marketing na divisão Automotive Aftermarket da Bosch América Latina.
Cláudio Castro, diretor executivo de pesquisa e desenvolvimento da Schaeffler, ressaltou que diversos processos foram acelerados após a obrigação de ficar em casa para evitar o contágio pelo coronavírus.
“Houve um momento inicial de parada e, aos poucos, estamos acertando a cadeia de fornecimento. Quanto à comunicação, por mais que o presencial seja importante, a digitalização trouxe uma evolução que levaria dez anos em alguns meses. Isso fez com que a criatividade buscasse formas de como nos comunicarmos”, frisou o executivo.
Já Fernanda Giacon, gerente de comunicação, excelência comercial, clientes e estratégia da ZF América do Sul, lembrou de como algumas questões ignoradas por muitos ganharam, enfim, a devida importância.
“Pensando em uma empresa de mobilidade, acho que essa geração [da pandemia] ficará marcada pela impossibilidade de se locomover. Essa busca pela mobilidade ficou marcada por todos nós, desde os nossos filhos até os nossos pais”, apontou.
Situação perto do normal
As fabricantes de autopeças também concordam que os problemas com a distribuição de produtos deverão ser em breve solucionados. Já a crise de semicondutores ainda está presente, embora o cenário tenha melhorado consideravelmente nos últimos meses. “Felizmente, hoje a falta de componentes está praticamente solucionada no mercado brasileiro”, assegurou Castro, da Schaeffler. A mesma opinião foi compartilhada por Fernanda, da ZF:
“Em um primeiro momento, além da falta de componentes, houve dificuldades com logística. Hoje, porém, estamos conseguindo atender todo o mercado, apesar de ainda haver falta de alguns componentes eletrônicos”, declarou a executiva.
Eletrificação não vai matar as oficinas
Outro ponto discutido foi a ascensão da eletrificação, que definitivamente se tornou prioridade na frota circulante nas grandes cidades. Para o mercado de peças de reposição, o aumento na quantidade de veículos híbridos e elétricos trouxe alguns medos, mas também derrubou mitos.
“Lá atrás, quando surgiu a injeção eletrônica, muita gente achava que as mecânicas que mexiam com carburador deixariam de existir, e isso não aconteceu. A transição foi feita e as oficinas estão aí”, apontou Guilherme Soares, head de aftermarket da BorgWarner. O executivo prossegue:
“É a mesma situação que se avista com a eletrificação, já que esses carros também vão quebrar, e será preciso ter mão de obra qualificada para consertá-los. A diferença é que agora existe mais tecnologia e mais perigo também, já que existe risco de morte porque o veículo elétrico tem sistemas de alta voltagem. Então é preciso realizar um trabalho de educação junto aos mecânicos”, conclui o executivo da empresa, que já anunciou a produção de baterias no Brasil.
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Enxergar oportunidades onde aparentemente só existem riscos é uma opinião defendida por Robinson, da Bosch.
“Tenho uma visão muito otimista sobre isso ao fazer uma conta rápida: o Brasil tem uma frota atual de aproximadamente 50 milhões de veículos e anualmente se vende algo em torno de dois milhões de carros. Então ainda existe muito tempo até que essa frota toda seja substituída. Além disso, toda nova tecnologia traz novas oportunidades de negócio. Então existem muito mais oportunidades do que riscos”, finalizou.
Fonte: Automotive Business