Por Vitor Matsubara
Algumas regras na indústria automotiva são seguidas por todas as montadoras. Uma delas é o ciclo de vida de um produto, normalmente na casa de oito a 10 anos. Isso significa que uma geração de um modelo lançado em 2024 seguirá em linha até 2032 ou, no máximo, 2034.
Na metade do período, normalmente se realiza uma atualização no design e eventualmente no conteúdo das versões para manter o produto atualizado diante da concorrência.
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Só que, como toda regra tem sua exceção, as picapes fogem dessa máxima. Não é raro ver modelos em linha por mais de uma década. Com isso em mente, fica a dúvida: por que as picapes médias têm um ciclo de vida mais longo do que os carros de passeio?
Foco no custo é uma das razões
Alguns fatores explicam a vida mais prolongada das picapes médias. Quem usa esse tipo de veículo para o trabalho se preocupa com o custo de manutenção. Para Mauro Correia, CEO da HPE Automotores, o perfil do cliente semelhante ao de quem compra um caminhão.
“O comprador de um caminhão faz contas porque valoriza o custo de manutenção, e isso inclui fatores como os custos para treinar mecânicos e motoristas. Sendo assim, quanto mais mudanças a fabricante realiza no produto, maior será o custo para adquirir o caminhão. Com a picape isso também acontece”.
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Já Maurício Greco, diretor de marketing da Nissan, lembra que o projeto de uma picape precisa seguir alguns parâmetros comuns na categoria.
“É um produto desenvolvido com um propósito muito mais técnico do que os demais. Há fatores que precisam ser priorizados, como capacidade de carga, ângulos de ataque e de saída e altura livre do solo”, diz.
Praticidade antes da tecnologia
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A lista de prioridades do picapeiro também foge da lógica dos automóveis de passeio. Para Mauro, a tecnologia não é tão valorizada quanto a praticidade para trabalho ou lazer.
“Quem procura uma picape não se preocupa tanto com a inovação como o cliente de um SUV. Ele quer um veículo que atenda suas necessidades, seja a sensação de liberdade ou o espaço para levar um jet ski ou carga na caçamba”, afirma.
Greco ressalta que não há liberdade para ousar e que “as silhuetas evoluem muito pouco” entre as gerações.
“Não dá para fazer uma picape com sete lugares e capacidade de carga de 300 quilos. Se fizer isso, você está fora do segmento. Em outras linhas de produto (a criação) é muito mais tolerável”.
Picapes médias são quase todas veteranas
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Praticamente todas as picapes médias vendidas no Brasil acumulam anos de mercado. De todas as opções atuais no Brasil, apenas a Ford Ranger foi projetada na década de 2020.
Um dos casos mais famosos é o da Volkswagen Amarok. Mesmo tendo estreado em 2010, ela ainda está na primeira (e única) geração e não passou por mudanças importantes até hoje, apesar da recente atualização apresentada na Argentina – e que chega ao Brasil ainda em 2024.
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Só que a Amarok não é a única picape média “veterana” do mercado brasileiro. Apesar de ter sido profundamente modernizada, a Chevrolet S10 ainda preserva o projeto de 2012, enquanto a atual geração da líder da categoria Toyota Hilux debutou em 2015. A recém-lançada Fiat Titano deriva da chinesa Changan Kaicene F70, que estreou no seu país natal em 2019.
A atual geração da Nissan Frontier foi lançada em 2014 na Tailândia, onde também debutou a Mitsubishi L200 Triton no mesmo ano.
Curiosamente, ambas vão se aproximar bastante em suas próximas gerações: a nova L200, que foi apresentada mundialmente no ano passado, servirá de base para a nova Frontier, cujo lançamento deve ocorrer até 2025.
Isso será possível graças à aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, que também deve beneficiar a próxima geração da Renault Alaskan.