“Qualquer associação de classe será tão forte quanto os seus membros queiram fazê-la.”

Invasão chinesa também afeta setores de máquinas agrícolas e de construção

Cristina Zanella, diretora de competitividade, economia e estatística da Abimaq, respondeu a questões da Agência AD Entrevista

09/07/2025

Por Caio Bednarski e Soraia Abreu Pedrozo

A Abimaq, entidade que representa as fabricantes nacionais de máquinas e equipamentos, ligou o sinal amarelo depois de ver o avanço das máquinas chinesas no Brasil nos últimos anos. Elas já representam 30% das vendas no mercado local, com um forte aumento de participação nos últimos anos, de acordo com Cristina Zanella, diretora de competitividade, economia e estatística da Abimaq:

“Esse movimento acontece há 30 anos no setor geral de máquinas, mas nos últimos dez anos a participação das máquinas chinesas avançou de 18% para 30%. No ano passado esse porcentual foi de 25%”.

No segmento de máquinas agrícolas o avanço das marcas chinesas é algo relativamente novo, mas a participação já chegou a mais de 13%, contra 9,7% no ano passado. Veja abaixo a entrevista completa com a diretora da Abimaq.

Muito se fala em uma espécie de invasão chinesa no mercado de máquinas agrícolas e de construção. De fato está havendo crescimento de importação destes equipamentos da China? Como a Abimaq avalia a situação?

Esse movimento da China já acontece há décadas quando a gente olha para a indústria de máquinas como um todo, mas no setor de máquinas para agricultura o cenário é um pouco mais recente. Notamos um ligeiro crescimento na ponta, mas a China ainda tem uma participação menor do que as fabricantes locais no mercado nacional de máquinas, representando 30% do total das importações. Esse quadro é bastante preocupante porque a participação tem aumentado, uma vez que em igual período do ano passado eles tinham 25% de market share. Se olharmos para dez anos atrás, a China tinha 18% de participação. Olhando para o segmento de máquinas agrícolas o avanço é mais recente, mas também está acontecendo, com as máquinas chinesas representando 13,2% das vendas até maio, sendo que no ano passado esse porcentual era de 9,7%. Esse crescimento gradativo já nos fez acender uma luz amarela.

Quais os riscos que este aumento de importações da China traz para as empresas fabricantes no Brasil? E para os consumidores?

Para a indústria nacional o grande risco é a perda de mercado, pois você vai sendo substituído por falta de competitividade, movimento que já vimos acontecer em outros setores como o de máquinas para a indústria têxtil, que praticamente quase não existe mais no País. Se as fabricantes locais perdem espaço, a economia nacional como um todo sai perdendo e podemos ver a capacidade de desenvolvimento local indo embora, dependendo de tudo que vem de fora, principalmente da China. Para o consumidor o problema no passado era a qualidade das máquinas, o que atualmente não interfere tanto, pois os chineses produzem máquinas com alto nível tecnológico. A grande questão é o pós-vendas, algo que nos preocupa principalmente no segmento de máquinas agrícolas, especialmente na agricultura familiar, pois tem máquinas que acabam descartadas por falta de atendimento das marcas que as comercializam. Na linha amarela já temos algumas marcas chinesas consolidadas que prestam o atendimento ao cliente após a venda.

Quais são as medidas que a Abimaq sugere para frear esta invasão chinesa em máquinas agrícolas? Existe disposição do governo em atender?

Sim, notamos em conversas com o governo federal que eles existe uma grande preocupação com as fabricantes locais e com o desenvolvimento da indústria nacional. Como Abimaq temos atuado bastante em ações para ganhar competitividade, enquanto as medidas específicas de combate ao anti-dumping e as importações ilegais ainda são poucas. As ações para promover maior competitividade não são fáceis, pois esbarram em problemas que estão presentes há décadas no País, como a questão dos juros e das tributações, mas sempre defendemos que as empresas instaladas no País consigam competir em igualdade com os produtos que vêm de fora.

Cristina Zanella, diretora de competitividade, economia e estatística da Abimaq. Foto: Divulgação.

Como está o desempenho do mercado de máquinas agrícolas em 2025?

Por enquanto temos apenas o balanço até maio, mas o segmento agrícola veio de um 2024 fraco, com queda de 20%, e agora está se recuperando, com alta de 22,8% nas vendas de janeiro a maio. Não temos do que reclamar desse começo de ano, pois a nossa expectativa era de alta em torno de 8% e o resultado ficou bem acima. Provavelmente teremos um 2025 melhor do que o projetado inicialmente, mas só revisaremos nossos números quando o resultado do semestre estiver fechado. Acreditávemos que o desempenho seria mais fraco por causa das altas taxas de juros, pois os produtores dependem dos financiamentos para realizar investimentos, mas até agora nossas expectativas foram superadas.

E com relação ao segmento de máquinas amarelas, de construção, como foram as vendas de janeiro a maio?

Aqui segue o mesmo cenário com acumulado até maio, mês que teve uma leve queda na comparação com abril, mas ainda assim o segmento de linha amarela subiu 17,3% no ano, avanço puxado pelo bom desempenho em todos os seus subsegmentos, como construção e logística.

As altas taxas de juros para financiamento de máquinas afetaram o desempenho? Existem outros fatores que prejudicam o negócio?

No caso da agricultura, além dos juros, temos alguns fatores específicos, como o clima, que no ano passado foi pior do que o desse ano, que está mais favorável para os produtores. Os preços das commodities e o câmbio também são fatores que devem ser monitorados. Algumas safras estão com bons preços esse ano, isso permite mais investimentos, mesmo com uma taxa de juros não tão boa. É o caso do café e produtos cítricos, enquanto soja e milho estão andando mais de lado. No caso da linha amarela, o maior volume de investimentos em máquinas está acontecendo por parte do governo e o período eleitoral que virá em 2026 também deve impulsionar os investimentos por parte do governo de cada Estado, o que ajuda nas vendas.

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Como você avalia o novo Plano Safra, que tem um foco maior nos produtores menores do que nos grandes?

Isso já aconteceu no Plano Safra anterior, pois o governo está priorizando o produtor menor, mantendo taxas mais baixas para eles e o volume de recursos disponíveis acaba sendo até maior do que eles consomem. Já para os grandes produtores, o valor liberado não cobre 20% da demanda. Exemplificando, em um cenário normal nós comercializamos R$ 60 bilhões em máquinas e o atual Plano Safra deixou disponível R$ 15 bilhões e, por isso, quando chega no metade do plano os valores já estão esgotados. A taxa de juros dentro do Plano Safra foi elevada para 13,5% no caso do Moderfrota, mas ainda assim é interessante pois está abaixo da Selic e ainda mais abaixo do praticado pelo mercado.

Qual a expectativa da Abimaq para o segundo semestre e o fechamento do ano nas vendas de máquinas agrícolas?

No caso de máquinas agrícolas a nossa expectativa inicial era mais baixa por causa do ano complicado que o segmento enfrentou em 2024, mas até maio os resultados ficaram bem acima do esperado e para o fechamento do ano o crescimento deverá ser de dois dígitos tranquilamente.

E para máquinas de construção, quais as expectativas e projeções para o segundo semestre e para o fechamento do ano?

Esse número será atualizado e divulgado após o fechamento do semestre, mas o cenário é positivo mesmo com as altas taxas de juros e a invasão chinesa que está acontecendo no País. Até agora os resultados foram bons, mesmo com todas as dificuldades presentes.

Fonte: AutoData

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