“Qualquer associação de classe será tão forte quanto os seus membros queiram fazê-la.”

Eve revela 7 desafios do desenvolvimento do 1º eVTOL, o carro voador

23/09/2022

A Eve Urban Air Mobility é o braço da Embraer voltado ao eVTOL, veículo elétrico de decolagem e pouso vertical que, com uma boa licença poética, é conhecido também como carro voador. A empresa brasileira já tem ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York e mais de 1,7 mil aeronaves encomendadas por diversos clientes mundo afora, o que totaliza uma promessa de faturamento de US$ 5,2 bilhões para os próximos anos.

Antes de colocar as mãos nesse novo mercado, no entanto, a companhia precisa resolver uma série de desafios. Se a parte comercial tem fluido bem, com diversos pedidos pelos eVTOLs da marca, os principais obstáculos têm a ver com a legislação dos países para o uso dos carros voadores e com o próprio projeto desses modelos, que começarão a voar por diversas cidades a partir de 2026.

Takashi Kawasaki, head de design industrial da companhia, falou a respeito no Hacktown, evento de inovação realizado em Santa Rita do Sapucaí (MG).

Os 7 desafios do desenvolvimento do carro voador

1-    Não há parâmetros na legislação

Receber uma folha em branco para inovar pode soar atrativo no mundo da fantasia, mas na vida real é um tanto angustiante.

“Quando a Embraer projeta um avião, temos uma série de padrões da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para seguir. No caso do eVTOL, não há parâmetros porque estamos começando do zero. Precisamos descobrir”, resume Kawasaki.

O executivo brinca ser contra o velho clichê de que é necessário “pensar fora da caixa” quando se tratam de novos projetos. Segundo ele, nesse caso, o que ele mais tenta é trabalhar dentro da caixa composta por alguns pilares: segurança para os ocupantes dos carros voadores, criar uma aeronave que siga diferentes regulamentações já estabelecidas e, claro, garantir que a solução seja rentável para a empresa.

2-    Preço e rentabilidade

O plano da Eve não é vender as aeronaves para consumidores finais, mas para empresas que operem os veículos em um modelo de mobilidade como serviço. Assim como acontece hoje com Uber e 99, a ideia é que as organizações compradoras de eVTOLs possam oferecer a solução sob demanda para os usuários finais, que poderiam reservar um assento para determinada viagem por aplicativo.


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Takashi diz que o preço de um carro voador deve ficar em torno de US$ 3 milhões para o cliente que precisará pagar esse investimento e gerar lucro com as viagens feitas com o usuário final. Questionado sobre quanto deve custar um passeio de eVTOL, o executivo responde com um enigmático “100 dinheiros para uma viagem de 25 quilômetros”, tendo em vista que é difícil estimar diante das variações de câmbio e infraestrutura em que os modelos vão operar.

3-    Conforto e sensação de segurança para os usuários

O designer aponta que a Eve tem feito uma série de clínicas, pesquisas e experimentação de protótipos e simuladores para entender como seria a experiência ideal para os ocupantes de um eVTOL. Os testes envolvem potenciais usuários do transporte aéreo, pilotos e até mesmo especialistas do universo gamer. Esses últimos, diz, geraram ideias valiosas para o carro voador.

A partir desses estudos, a empresa já registrou uma série de patentes e concluiu que um carro voador, mais do que ser seguro para quem viaja, precisa parecer seguro. “Por exemplo, tem gente que pode gostar da vista lá de cima, mas para outros, é melhor que as janelas sejam menores para aumentar a sensação de proteção”, diz.

4-    Piloto vai sair de cena, mas não agora

Sempre que o debate sobre eVTOLs emerge, a expectativa é de um veículo sem condutor. Kawasaki confirma que o plano é esse mesmo, mas não no primeiro momento. “No começo, precisamos manter o piloto tanto para facilitar a adequação à legislação, quanto para melhorar a sensação de segurança aos ocupantes”, diz.

Segundo ele, qualquer piloto de avião ou helicóptero poderá operar um carro voador após alguns meses de treinamento. “Na prática, o profissional será quase um ascensorista”, brinca ao falar do alto nível de automatização dessas aeronaves.

5-    De olho na concorrência

Se desenvolver um novo tipo de veículo e criar um mercado inédito já não é desafio o bastante, a Eve ainda precisa fazer isso de olho na concorrência. Kawasaki conta que a companhia tem 120 empresas que trabalham em eVTOLs mapeadas e monitoradas constantemente.

Há desde tradicionais do segmento, como a Airbus, quanto empresas de mobilidade, do setor automotivo e startups em fase inicial da operação.

“Não desdenhamos de nenhuma concorrente em potencial. Mesmo as pequenas, em algum momento podem ser compradas ou receber um grande investimento e acelerar a solução tecnológica”, diz o executivo, reforçando que, quando se trata de um novo mercado, o caminho é manter um olho no peixe e outro no gato.

6-    Infraestrutura precisa evoluir para acompanhar o mercado

Assim como os carros elétricos, os eVTOLs demandarão uma infraestrutura específica de recarga. E esse é um mercado que ainda está bastante indefinido. O designer da Eve diz que a empresa está trabalhando todo o desenvolvimento das aeronaves para que elas tenham as dimensões de um helicóptero.

Dessa forma, as operações poderão começar usando helipontos, sem a necessidade imediata de um investimento específico para espaços de embarques em carros voadores. Assim, “só” vai faltar resolver a recarga.

7-    Gestão do tráfego aéreo nas cidades

Ainda como parte da preocupação com infraestrutura, está a gestão do tráfego aéreo nas cidades. Os eVTOLs, em tese, poderão voar mais baixo que helicópteros e será preciso ter um gerenciamento minucioso para que o novo modal, de fato, traga vantagens.

A ideia é que os carros voadores democratizem o transporte aéreo e sejam solução prática, segura e acessível a uma parcela maior da população. “As aeronaves terão comunicação com toda a infraestrutura e outros veículos, incluindo drones e aviões pequenos”, conta.

O executivo estima que, até 2035, 20 mil eVTOLs estarão em circulação no mundo. “A gestão desse tráfego, com toda a complexidade já presente nas grandes cidades, só poderá ser feita por inteligência artificial. É impossível para o ser humano”, resume.

Fonte: Automotive Business

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