Por Lucas Torres
Bill Hanvey, presidente e CEO da Auto Care Association (EUA), esteve presente na edição de 2025 da Automec para discutir o direito à reparação. Em sua apresentação, no 1º Congresso da Aliança Aftermarket Automotivo parabenizou a mobilização do setor brasileiro e alertou para as ameaças políticas e tecnológicas enfrentadas pela reparação independente no mundo todo, bem como convocou os presentes a terem orgulho dos serviços prestados pelo aftermarket independente no mundo. “Nossa indústria cuida de 1,5 bilhão de veículos globalmente e movimenta mais de US$ 2,3 trilhões por ano. Ainda assim, ela está sendo atacada pelas montadoras que tentam controlar o acesso à informação”, afirmou.
Para ilustrar o problema, o palestrante apresentou os resultados de uma pesquisa realizada com mais de mil oficinas nos Estados Unidos, revelando que 63% enfrentam dificuldades para acessar dados com frequência semanal ou diária, e que 51% dos repara – dores gastam ao menos quatro horas semanais tentando acessar informações de veículos — muitas vezes sem sucesso.
Segundo ele, essa barreira à informação técnica causa prejuízos reais ao direito do consumidor e, claro, à sustentabilidade econômica dos players do aftermarket independente dos EUA, já que causa uma evasão de US$ 3 bilhões nos EUA devido a impossibilidade de diagnóstico provocada pela ausência de dados. “E essa situação tende a piorar à medida que tecno – logias como a telemetria e os veículos definidos por software se tornarem predominantes”, advertiu Hanvey
Apesar do tema ser de amplo conhecimento, o americano ressaltou que sua resolução esbarra em diversos problemas – dentre os quais se destaca um conflito ferrenho com as montadoras. Para ilustrar a atuação agressiva dos fabricantes de automóveis, ele relembrou a campanha realizada durante uma votação popular em Massachusetts. “Elas (montadoras) gastaram mais de US$ 30 milhões em uma campanha difamatória, tentando convencer a população de que nós usaríamos os dados para fins maliciosos — como roubar carros. Um absurdo completo”, criticou o palestrante, complementando que, apesar da campanha, 82% da população votou a favor do direito de reparar: “A Isso porque o lobby das montadoras conseguiu judicializar a decisão e atrasar seu cumpri – mento, mostrando como o poder político ainda pesa contra nós”, apontou Hanvey. Segundo ele, a estratégia global da Auto Care Association tem sido apoiar mobilizações locais como a brasileira, sempre respeitando o protagonismo nacional. “Nós damos suporte, mas essa luta é de vocês. E para vencê-la, é preciso união e comunicação com a sociedade”, reforçou.
Fundamental
Outra convidada foi a advogada Raquel Preto. Ela reforçou que o Right to Repair é uma pauta fundamental do ponto de vista social, ambiental e econômico. Em tom otimista ela destacou vitória nas urnas, no entanto, não se traduziu em implementação imediata: que, apesar do Brasil estar atrasado em relação a outros países, a história brasileira da quebra de patentes no setor farmacêutico nos anos 2000 mostra que há esperança de um desfecho positivo. “Naquela ocasião, nos tornamos um exemplo global e revelamos que com coragem política e mobilização popular é possível combater o abuso dos grandes players”, destacou.
Ao comentar seu envolvimento na causa, ela relembrou que este nasceu após ela ter se deparado com uma ‘volumetria absurda’ de ações judiciais movidas por consumidores contra os fabricantes de seus veículos. “Quando eu vasculhei, vi que não são centenas ou milhares de ações. São milhões. Isso me impressionou muito porque, na minha experiência, as pessoas só apelam ao judiciário quando estão esgotadas e quase sem esperança. No caso do setor automotivo, isso tem acontecido porque os proprietários de veículos estão sendo submetidos a meses de espera pela dificuldade de reparar seus veículos, seja pela ausência de peças ou por pura falta de acesso à informação”, afirmou.
Antes de finalizar, Raquel utilizou sua experiência pessoal para apontar a incongruência do cenário da reposição automotiva em relação à realidade de outros segmentos. “Eu não quero abrir mão do meu mecânico porque ele não tem acesso a um dado do meu carro. Isso é absurdo. Já pensou ter de abrir mão do seu médico por algum motivo externo e injusto? Precisamos lutar contra isso por meio da mobilização popular e de uma atuação concreta junto ao poder público”.
Fonte: Mais Automotive