- Em ano de juros altos e economia em desaceleração, três economistas dão sugestões para os empresários sobre o que fazer com eventual sobra de dinheiro no caixa
Por Fátima Fernandes
Os empresários brasileiros começam 2025 com um dilema. É melhor investir no negócio, expandir o número de lojas, por exemplo, ou aplicar o dinheiro no mercado financeiro?
A dúvida tem certa razão. A taxa básica de juros do Brasil, de 12,75% ao ano, deve chegar perto de 15% neste semestre, encarecendo o crédito e favorecendo as aplicações financeiras.
Como consequência, a economia brasileira deve passar por um processo de desaceleração, crescer menos do que em 2024, com impacto desfavorável ao consumo.
Para ajudar os lojistas na decisão, o Diário do Comércio ouviu três economistas.
Ricardo Pastore, coordenador do Núcleo de Varejo da ESPM, Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector, e Fábio Pina, consultor econômico da FecomercioSP.
Evidentemente, a opção de investir ou deixar o dinheiro aplicado depende, além de condições econômicas, da própria situação financeira da empresa e de fatores que envolvem o negócio.
Mas, de forma geral, os três economistas sugerem cautela nos investimentos em 2025, gestão super eficiente e atenção às oportunidades que podem surgir numa economia mais retraída.
“Quem tem dinheiro para investir em mais lojas pode até fazê-lo porque os concorrentes, mais endividados, estarão enfraquecidos com os altos juros”, afirma Pastore.
E esse investimento, diz ele, não precisa ser em loja física, pode ser em canais digitais, na exploração da omnicanalidade, até para atender os ‘novos milionários’ que estão surgindo.
“Agora, é preciso fazer conta, expandir em um modelo de negócio que permita comprar produto a prazo e vender à vista. O lojista não pode financiar o fornecedor e o cliente”, diz.
Com a economia em desaceleração e expectativa de alta de juros, Silveira já tende a sugerir que o melhor negócio, pelo menos neste momento, são as aplicações em títulos públicos.
“Se tiver R$ 10 mil aplicados em renda fixa, esses mesmos R$ 10 mil serão R$ 11.200, R$ 11.300 no final do ano”, diz.
Os setores de serviços e comércio, nas projeções da MacroSector, devem crescer menos do que no ano passado. “Não tem jeito, este deve ser um ano de baixo crescimento.”
Para o setor de Comércio, a expectativa de Silveira é de aumento de 4,7% em 2024 e de 2,7% em 2025. No caso de Serviços, deve sair de uma alta de 3,1%, em 2024, para 1,5% neste ano.
“O empresário deve conter investimento em expansão. Quem decidir investir deve evitar a formação de estoque, cortar custos, maximizar rentabilidade financeira”, diz.
Para Pina, juros altos desestimula os investimentos e o mercado financeiro oferece bons resultados sem risco e sem trabalho. “Há títulos públicos capazes de dar retorno real de 7,5% ao ano.”
Agora, cada empresa tem a sua história financeira, o seu estilo de gestão. “Sugiro uma análise muito criteriosa de qualquer ação para deslanchar investimentos.”
Se falta apenas pintar a loja para a inauguração, por exemplo, o lojista deve terminar a pintura. “O que não faz sentido é pegar dinheiro emprestado em banco para montar uma loja.”
Em sua avaliação, o cenário econômico do Brasil já deve segurar os investimentos em expansão de forma geral.
Agora, é fato também que, em época de economia mais retraída, diz, surgem as oportunidades de negócios para quem não tem problema de caixa.
“A tendência é de os preços dos imóveis diminuírem, uma oportunidade para o empresário que já tinha planos de abrir loja em certo local.”
Veja a seguir alguns trechos das observações feitas pelos economistas:
RICARDO PASTORE
Acabo de voltar da NRF (a maior feita de varejo do mundo que acontece em Nova York, nos EUA) e percebi que os empresários do setor estão desorientados.
A regra do varejo para ter um bom negócio é comprar a prazo e vender à vista. Desde que o varejista mantenha esse princípio, ele começa bem o ano.
Grandes varejistas expandem dessa maneira, pagam os fornecedores em 60 dias e giram as mercadorias em 30 dias. Tudo é determinado na empresa pelo planejamento financeiro.
O lojista não pode financiar o fornecedor e o consumidor, se não ele corre o risco de quebrar num ambiente de economia em desaceleração.
Pegar dinheiro no banco para pagar à vista é arriscado. A expansão só deve acontecer em um modelo de negócio que permita que o produto gire mais rápido.
O que atrapalha muito os negócios é a polarização política. O empresário tem de se blindar deste envolvimento e focar na empresa, estar preparado para navegar em todos os mares.
É um momento que pede mudança no modelo de negócio. Quer expandir, ok, mas essa nova loja vai reforçar o caixa ou vai consumir o caixa? É hora de questionar o produto e o fornecedor.
O fato é que, infelizmente, tem muito lojista com a corda no pescoço.
FÁBIO SILVEIRA
Num ambiente em que a taxa de juros deve ficar perto de 15%, o melhor a se fazer é aplicar recursos em títulos públicos.
Boa parte dos lojistas, imagino, gostaria de ter larga escala, diminuir custo fixo, em uma atividade presencial.
Não é hora de considerar somente as mudanças tecnológicas advindas do e-commerce, e sim de pensar à moda antiga.
2025 vai ser um ano de crescimento baixo e é preciso evitar a formação de estoques, cortar custos. Quem tiver dinheiro sobrando deve ir para o mercado financeiro.
FÁBIO PINA
Não dá para cravar se o empresário deve ir para o mercado financeiro ou investir no negócio. Agora, está mais caro e arriscado investir com juros altos e economia desacelerando.
Acredito que a expansão de loja já será menor porque o prognóstico de resultado é menor para este ano. A economia está desacelerando e os empresários deverão repensar os negócios.
Não existe uma fórmula para todos os empresários. Com certeza, também é um momento de surgirem oportunidades, como um aluguel pela metade do preço. Tem que fazer conta.
Fonte: Diário do Comércio – Imagem: Thinkstock (https://dcomercio.com.br/publicacao/s/e-hora-de-expandir-loja-ou-aplicar-no-mercado-financeiro)