“Qualquer associação de classe será tão forte quanto os seus membros queiram fazê-la.”

Autonomia, bateria e mais: como entender um carro elétrico

Conceitos explicam o funcionamento de um veículo eletrificado

04/04/2025

Potência de carregador não determina tempo de recarga de um carro elétrico

Por Vitor Matsubara

Nunca se vendeu tanto carro híbrido e elétrico no Brasil. Dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) revelam que mais de 177 mil veículos eletrificados leves foram vendidos em 2024.

Esse número representou crescimento de 89% em relação às quase 94 mil unidades comercializadas em 2023.

Essa alta foi puxada tanto pelos modelos 100% elétricos quanto pelos híbridos plug-in. Juntos, eles representaram 71% do total de vendas, com mais de 125 mil unidades.

O avanço na eletrificação difundiu alguns termos pouco conhecidos e, até então, pouco utilizados na indústria automotiva. Foi por isso que, em vez de consumo de combustível, a moda virou falar em autonomia de uma bateria de íon-lítio.

Mas o que esses conceitos e nomes significam na prática, principalmente para quem não está familiarizado com carros híbridos e elétricos? E como determinar o tempo de recarga de uma bateria? Automotive Business trouxe as respostas.

Como funciona a bateria do carro elétrico e como se mede a autonomia?

O primeiro passo para entender o mundo dos carros elétricos está no conceito de bateria.

“A bateria armazena uma determinada quantidade de energia, e é essa quantidade que está relacionada à autonomia”, explica Maria de Fátima Rosolem, engenheira especializada no desenvolvimento de baterias que faz parte do comitê da SAE Brasil.

“Então, ela guarda essa quantidade de energia e o gasto também depende do consumo da energia gerado pela condução do veículo”, completa.

O diretor de eletromobilidade da Associação de Engenharia Automotiva (AEA), Gustavo Noronha, acrescenta que o tamanho da bateria não é o único fator que determina a autonomia do veículo.

“É comum ouvir que uma bateria maior proporciona uma autonomia maior, mas há vários fatores que influenciam na autonomia. Um dos fatores é o estilo de condução do motorista. O tipo de carroceria e até o peso também podem interferir”.

“Todo carro elétrico também tem um sistema de regeneração de energia, que recebe a energia gerada nas desacelerações e frenagens. Ainda há a topografia do local onde você está, a utilização do ar-condicionado e dos sistemas auxiliares… Tudo isso acaba impactando na autonomia. Então, ter uma bateria maior no carro não significa, necessariamente, que a autonomia será maior”, completa Gustavo.

Por que as baterias dos carros elétricos são feitas de íon-lítio?

As baterias de íons de lítio equipam todos os carros elétricos vendidos no Brasil. A AEA destaca que esse tipo de bateria tem virtudes como alta eficiência e bom desempenho em temperaturas elevadas.

“O lítio-íon é um material leve e de alta tensão eletroquímica, capaz de armazenar uma grande quantidade de energia em um espaço menor. Uma bateria de chumbo-ácido, por exemplo, chega a ser quatro vezes mais pesada do que uma feita de lítio-ion”, compara Maria de Fátima.

“Uma bateria de chumbo-ácido precisaria ser quatro vezes maior para igualar a capacidade de uma bateria de lítio-ion”, analisa a executiva da SAE.

Tempo de recarga muda por diversos motivos

O tempo necessário para recarregar toda a bateria (ou pelo menos parte dela) ainda é um dos maiores calcanhares-de-aquiles dos carros elétricos.

Atualmente, o mercado brasileiro dispõe de quatro tipos de carregadores com potências que variam de 3 kW a mais de 150 kW.

Gustavo conta que até alguns anos atrás existiam três categorias: o carregador lento, que vai até 3 kW; o semi rápido, que está na faixa de 7 a 22 kW; e o rápido, que parte de 50 kW e reduzem o tempo de recarga para 3h ou 4h. Mais recentemente veio a recarga ultrarrápida, com eletropostos acima de 150 kW.

Maria de Fátima ressalta que o tipo de química presente na bateria também pode influenciar no tempo de recarga.

“Não basta só utilizar um carregador mais potente. O tipo de material precisa estar adequado para receber essa recarga mais rápida”.

Além disso, as reações vão ocorrer de forma mais rápida de acordo com o tempo da recarga.

“A recarga da bateria é uma transformação dos elementos químicos presentes na bateria. Quando eu recarrego, eu tenho uma fonte de energia que vai reverter essa reação e transformar o produto que está descarregado e retorná-lo ao seu estado original”, explica a engenheira da SAE.

Vida útil da bateria cai com carga em supercarregador?

Isso não significa que um carro elétrico não possa ser carregado em uma estação com potência acima do suportado pela bateria. Neste caso, o sistema limita a tensão do carregamento até um limite seguro para evitar superaquecimento.

“A bateria limita a recarga de acordo com seu limite e cada célula pode receber uma corrente máxima. Caso contrário, não haverá tempo hábil para receber essa reação e a bateria não conseguirá transformar esse material”, diz Fátima.

Os especialistas só divergem quando o assunto é a vida útil de uma bateria submetida a sucessivas recargas rápidas ao longo dos anos.

Maria de Fátima afirma que a recarga rápida gera maior degradação à bateria. E diz que a vida útil poderá ser menor em relação a uma bateria que não foi constantemente submetida a este tipo de recarga.

Já Gustavo, da AEA, crê que a tecnologia presente nas baterias dos carros elétricos pode impedir que as baterias se deteriorem rapidamente.

“Entendo que o sistema é eletrônico e não permite entrar mais energia do que o necessário. Então, não vai haver esse impacto de degradação a longo prazo”.

Supercarregador é revolução, mas (ainda) não é para todos

Há algumas semanas, a BYD apresentou um supercarregador rápido de 1.000 kW – o dobro dos 500 kW dos carregadores ultrarrápidos da Tesla.

As estações serão inauguradas já em abril e 500 pontos de recarga estão confirmados para funcionamento na China.

Segundo a BYD, os supercarregadores foram projetados para operar com uma tensão de 1.000 V e uma corrente de 1.000 A. A ideia é sedutora, já que a promessa é de obter 400 km de autonomia com apenas cinco minutos de uso.

Porém, Maria de Fátima ressalta que não adianta utilizar um carregador ultrarrápido se o veículo não tiver uma bateria capaz de receber toda essa potência.

“O tempo de recarga está relacionado também ao tipo de química da bateria. Não basta apenas ter um carregador capaz de jogar mais energia para a bateria. Dependendo do tipo de material, ele precisa estar pronto para receber uma recarga mais rápida”.

A engenheira explica que a bateria precisa ter materiais capazes de receber essa recarga mais rápida.

“Estamos falando de nanocompostos e tratamento de superfícies para que a bateria consiga receber essa recarga. Não adianta pegar uma bateria sem essa preparação porque existem limitações na própria constituição dos materiais, além da estrutura interna dos poros de metais. A parte interna da bateria precisa estar preparada para isso”.

Gustavo chama a atenção que nem todos os carros elétricos podem usufruir dos benefícios.

“É preciso ver se a tecnologia do carro está preparada para receber toda essa potência e carregar a bateria fazendo todo o gerenciamento térmico. Se por um lado os carregadores estão ficando mais potentes, por outro os veículos precisam lidar com essas correntes maiores. Afinal, não é só porque existe um carregador super rápido que seu carro poderá usufruir disso”.

Fonte: Automotive Business

Informes

Abrir bate-papo
SincoPeças - SP
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?