Por Soraia Abreu Pedrozo
A Kinto, empresa de mobilidade do Grupo Toyota, que oferece serviços de gestão de frotas e assinatura de veículos, completou em julho cinco anos no Brasil. Criada no Japão, no início de 2019, a marca global passou a ser replicada a outros países – agora está presente em cinquenta, dezesseis na América Latina – e iniciou as atividades por aqui em meio à pandemia, com apenas três pessoas.
Hoje emprega 120 funcionários na região. E nos próximos três anos pretende dobrar este número, proporcional ao volume de carros alugados. Em entrevista à Agência AutoData o CEO da Kinto no Brasil, Roger Armellini, contou que ao longo destes cinco anos foram locados 16 mil veículos para 2,5 mil clientes. E que, embora para 2025 seja aguardada estabilidade por causa do cenário macroeconômico de juros elevados, a partir de 2026 é projetada a retomada do crescimento.
Maior cliente de vendas diretas da Toyota a Kinto responde por 2% de todos os negócios desta modalidade da montadora, porcentual que deverá chegar a 10% até 2030. Está contabilizado nessa matemática o crescimento da participação de veículos híbridos dos atuais 15% para 60%. Confira a entrevista na íntegra abaixo.

Qual é o balanço feito pela Kinto dos cinco anos de atividades no Brasil?
Há dois fatos importantes a serem destacados e um deles é o crescimento mais rápido do que esperávamos. Começamos no meio da pandemia mas a demanda surpreendeu desde o início, talvez pelo fato de o Brasil já ter um mercado grande de gestão de frota. O que foi um desafio, pois começamos do zero, não tínhamos este tipo de serviço, embora a Toyota tenha experiência em outros lugares, como a Austrália, que conta com quase 200 mil carros em operação e gestão de frota, e na Europa, com 300 mil carros. Outro fato é que estamos conseguindo entregar a mesma qualidade que dedicamos a nossos veículos: pela primeira vez, e por dois trimestres consecutivos, conseguimos uma pontuação de NPS, Net Promoter Score, que é o índice interno de satisfação do cliente, acima de 94 pontos, com tendências positivas de subir. Ele mensura a negociação comercial e o recebimento do carro, o relacionamento durante o contrato e a devolução do veículo de zero a cem. Estamos muito felizes em completar cinco anos chegando ao que era um nosso sonho de ser referência em atendimento ao cliente.
Quantos veículos foram alugados no período e quais os perfis de clientes mais presentes?
Ao longo destes cinco anos já entregamos 16 mil veículos para 2,5 mil clientes, o que também nos surpreendeu. Desde o começo nossa intenção foi começar com clientes pequenos e médios, até pela complexidade do serviço de gestão de frota. Hoje temos um perfil de cliente bastante distinto daquele com que iniciamos, de grande porte, com trezentos carros, caso do UPL, e de duzentos, como Klabin, Bradesco e Origem Energia. Mas o nosso maior cliente em quantidade de carros na América Latina está na Argentina, é a Pecom, do ramo de óleo e gás, tem quase seiscentos veículos. Este não era o nosso alvo no princípio da operação, mas eles foram chegando de forma orgânica. Dos principais segmentos posso citar agronegócio, serviços pesados, construção, energia, mineração, óleo e gás. O farmacêutico também está crescendo: fechamos recentemente contrato com a Asofarma que envolve seis países da América Latina, mas temos clientes menores aqui também. Nos de pequeno e médio porte atendemos muita prestação de serviço, como entrega e informática.
A maior parte dos clientes, portanto, é de pessoa jurídica. Qual a participação de pessoa física na Kinto?
Isto. Temos um produto para pessoa física, que ainda não escalamos, a assinatura de veículo, no qual registramos cerca de quinhentos contratos até hoje. É um mercado que acompanhamos de perto e estamos aguardando a melhora da questão macroeconômica, uma vez que ele depende muito de taxa de juros, de estabilidade econômica e, assim que houver melhora, pretendemos ampliar a participação. Por enquanto é um piloto. Todos os outros clientes, ainda que de um ou dois carros, são pessoa jurídica, para gestão de frota. Se dividirmos nossa frota 50% está com grandes corporações e os outros 50% são médios e pequenos clientes.
Quais os modelos com maior saída?
Temos uma penetração muito boa do Yaris, que representa hoje mais ou menos a metade do nosso volume. A outra metade está dividida por Hilux e a linha Corolla, e uns 5% são de veículos premium, com frota de Lexus e RAV4, para atender principalmente diretorias, a exemplo da Vale.
O desafiador cenário macroeconômico, de juros nas alturas, como comentou, não acaba favorecendo a locação como opção à compra do 0 KM?
Mais ou menos, pois o mercado de locação vem tendo incremento significativo de tarifa, uma vez que os juros também influenciam na atividade. Todas as locadoras têm porcentual de empréstimo bancário para a compra dos carros. Então, de certa forma, isto acaba sendo repassado e todos tentam reduzir custos e melhorar processos para repassar o mínimo possível ao cliente. Mas não dá para absorver um salto de 2% ao ano na Selic, quando começamos a operação da Kinto, em 2020, para os atuais 15% ao ano. E o mercado de locação tem um outro agravante que é a questão do risco que, infelizmente, é grande para a atividade no Brasil por causa das tentativas de fraudes e roubo. Outro impacto indireto que sentimos é que toda vez que a taxa de juros sobe, impacta a economia como um todo, principalmente empresas pequenas e médias, que sentem a paulada no seu negócio, o que faz com que a capacidade financeira seja deteriorada. É preciso, portanto, lidar também com a inadimplência. O nosso índice é controlado, abaixo de 2%, mas não sei se é uma referência do mercado, talvez em operações ele esteja mais elevado.
Quantos veículos a Kinto alugou este ano e qual a expectativa para encerrar 2025?
A projeção não é de ampliar muito a frota, até porque o custo disso é grande, com juros de 15% ao ano. Se formos analisar o mercado geral de gestão de frota e locação vemos uma redução no volume. O que temos na Kinto é a renovação desta frota, com a troca de carros um pouco mais antigos por modelos mais novos. Em 2025 devemos alugar mais ou menos uns 3 mil carros, o que é uma manutenção da frota circulante. Até agora nós locamos 1,6 mil carros. Nossa expectativa é que, conforme o Banco Central já sinalizou, diante do pico dos juros, haja tendência de queda, o que nos leva a crer que o mercado voltará a crescer a partir de 2026, com a redução da taxa já a partir de dezembro. Esperamos ampliar o faturamento em torno 5% este ano, o que se dá mais pelo aumento da tarifa provocado pelos juros e do preço do carro novo do que pelo maior volume. É que como nos primeiros quatro anos nossa expansão foi expressiva, sempre em dois dígitos, agora chegamos a uma estabilidade para depois voltar a crescer.
Que tendências a Kinto enxerga para o mercado brasileiro nos próximos cinco anos?
Temos como missão, dentro da Toyota, fazer parte da matriz de descarbonização. Vejo, então, a Kinto prestando papel importante na oferta de veículos com tecnologias alternativas às de combustão desenvolvidas pela montadora, pioneira no veículo híbrido. Temos o objetivo de aumentar cada vez mais a penetração desta tecnologia e de outras inovações, como protótipo da Hilux a biometano que apresentamos em alguns eventos recentemente do governo. O mesmo vale para o uso de telemetria para melhoria de processo, uma vez que todos os nossos veículos são conectados. Nos híbridos conseguimos mensurar até a emissão de carbono por meio da telemetria.
Como está a participação dos híbridos na carteira? E qual a projeção para os próximos cinco anos?
Hoje 50% da nossa base de clientes utilizam o Yaris. Ele ainda não oferece solução híbrida, mas se pegarmos a fatia de Corolla Cross e Corolla Sedan temos em torno de 15% de veículos híbridos locados. Em 2030 acredito que a maioria do nosso mercado será de híbridos, e este porcentual deverá subir a 60%.
Há investimentos em vista, com planos de expandir a operação no Brasil?
Estamos constantemente expandindo a operação com o objetivo de garantir este mesmo nível de atendimento. E quanto mais clientes temos maior a demanda com relação às pessoas. Como empresa de serviço precisamos de pessoas apesar do avanço da tecnologia. Por exemplo: a área de especialistas de frota expande proporcionalmente à quantidade de clientes. Cada cliente acima de dez veículos tem direito ao serviço de especialista de frota, que faz o acompanhamento da frota, resolve qualquer problema que tiver e, para fazer isto, usará dados para otimizar sua operação. Também estamos investindo em novos sistemas, pois estamos desenvolvendo os sistemas dentro de casa agora. Eu diria que a Kinto pode, nos próximos três anos, dobrar de tamanho, tranquilamente, quanto ao número de pessoas.
Hoje qual é a participação da Kinto na operação da Toyota no Brasil? É possível projetar quanto ela pode representar?
A Kinto já é, hoje, o maior cliente de venda direta da Toyota. Mesmo sendo uma empresa do grupo, apartada, compra carros da marca. Acredito que à medida que este mercado for amadurecendo a participação tende a crescer. No ano passado a Toyota vendeu 200 mil carros no Brasil, e em torno de 2% disso foi o volume adquirido pela empresa. Em 2030 este porcentual deverá chegar a 10%.
Fonte: AutoData