Nas palavras de Wandeson Molina, proprietário e diretor da Auto Peças Molina, de São Paulo (SP), não há como falar em desafios sem citar o canal de internet. “Há mais de dez anos, nós estamos investindo fortemente nesse canal e já temos uma certa experiência com grande destaque para os marketplaces, onde o preço do produto é o fator determinante para se concluir a venda. Por ser um canal novo de grande visibilidade e crescimentos anuais acima de dois dígitos, ele vem atraindo os olhares de todos os elos da cadeia”.

O desafio, explica Wandeson, é a concorrência desleal. “O que acontece com grande frequência são os varejistas optarem pela sonegação fiscal para serem competitivos, comprando fora do seu Estado, não recolhendo a diferença da Substituição Tributária e repassando essa vantagem para o consumidor final. Isso gera um passivo impagável para muitos, por não se beneficiarem dessa diferença sonegada”.
Para Emerson Coelho Parente, da Parente Autopeças, em Porto Nacional (TO), a concorrência é a presencial. “Devido à minha proximidade com a capital, Palmas, grandes redes de varejo estão chegando nela e não sabemos como ficarão as margens e os preços. Quem se adequar não fechará as portas, cada um terá que trabalhar muito para sobreviver e eu espero estar nesta parte. As redes são excelentes empresas que estão consolidadas e têm muito mais a nos ensinar do que a aprender com a gente”.
Sobre vendas pela internet, Parente comenta que este é outro passo. “Depois das grandes redes, o grande desafio para nós é o B2C. Como fazemos parte da rede PitStop, eu estou de certa forma confortável, pois ela está trabalhando muito forte nisso e eu acredito que logo mais venderei pela internet. Vejo as vendas pelas plataformas digitais como um desafio e uma oportunidade”.
Na Truckão Autopeças, em Fortaleza (CE), Rogério Nobre Façanha diz que é preciso estar sempre preparado. “A inflação é uma ameaça para todos nós, em julho começou a melhorar e hoje temos uma deflação. Entrando dinheiro para a população mais carente, acho que isso refletirá no mercado. A tendência é a economia começar a se normalizar e, consequentemente, o mercado começa a sinalizar para um crescimento”.

Trazendo para o seu negócio, ele conta que além de a equipe engajada, o trabalho de planejamento é forte. “Traçando metas ambiciosas, nós estamos crescendo, conseguindo atingir os nossos objetivos e as nossas metas. A equipe toda tem que estar envolvida e também é preciso fazer os investimentos necessários, como por exemplo, em estoque. Temos que estar preparados para todas as ameaças para conseguirmos atingir os objetivos”.
Para Bruno Reginatto, da BL AutoPeças, em Novo Hamburgo e região (RS), investir em novas lojas é o caminho para estar mais próximo aos clientes e também tirar proveito do melhor da concorrência. “Os grandes concorrentes estão cada vez mais expandido seus negócios, assim como nós. É uma competição super saudável, cada um tem o seu território, mas a gente compete bastante e nos desafiamos bastante. Quando vemos alguém fazendo algo diferente, tentamos inovar e os outros também observam os nossos movimentos e fazem melhorias. Isso gera uma competição bem saudável e quem acaba ganhando com isso são as oficinas e o consumidor final”.
Reposição de estoque
Quanto à questão da falta de peças, para a maioria deles, este é um problema pontual. “Em todos esses anos que eu tenho de autopeças, sempre tem um ou outro item que falta. Às vezes, de uma marca que o mercado tem preferência, já aconteceu de demorar de 20 a 25 dias a entrega, mas tradicionalmente essa fábrica tem esse problema em qualquer época. De maneira geral, a curva A está muito bem abastecida”, diz Parente.
Wandeson informa que também a falta de peças é pontual. “Somente de alguns itens, mas como trabalhamos com um cadastro bem amplo de fabricantes, hoje há uma grande variedade e sempre conseguimos optar por outra marca para repor uma necessidade”.
Na Truckão, Rogério comenta que a situação já está começando a normalizar. “Quando a inflação começou a crescer e a demanda a cair um pouco, as empresas começaram a normalizar as entregas. No nosso ramo de pesados, o caminhão está muito caro e muitas vezes o frotista prefere fazer a sua manutenção do que trocá-lo, até porque está faltando caminhão novo mercado”.

Ao contrário, Bruno informa que na sua região, a falta de peças persiste. “Ainda estamos sentindo bastante isso aqui, em Novo Hamburgo (RS). Às vezes, faltam itens principalmente de materiais de borracha e de ferro, peças de carroceria e suspensão. Mas já foi pior, acho que as fábricas estão normalizando as entregas, porém, ainda tem itens da curva A que às vezes faltam por até duas semanas aqui na loja”.
Perspectivas
Para o fechamento deste ano, Emerson comenta que ele está bem mais preparado do que no ano passado. “Em 2021, eu tive uma queda de vendas entre julho e agosto, sem recuperar, e em 2020 uma queda no terceiro trimestre que foi compensada pelo último trimestre, o que resultou em um equilíbrio no final do ano. Neste, eu não quero que isso aconteça e eu estou bem mais organizado para continuar crescendo neste terceiro trimestre”.
Rogério comenta alguns pontos que podem comprometer os resultados. “O nosso receio é por estarmos às vésperas da eleição, que não será uma eleição fácil e impacta nas nossas vidas, e temos a Copa do Mundo. Não sei dizer até que ponto tudo isso impactará no nosso dia a dia”.

Pontos que também são abordados por Wandeson. “O setor de autopeças passa por uma grande transformação. Ao mesmo tempo em que a quantidade de itens que precisamos deixar em estoque vem aumentando absurdamente, as redes pequenas, médias e grandes vão ganhando mais força ao passar dos anos. O varejo precisa investir fortemente na sua infraestrutura, melhorando sempre os processos para ter um controle total do seu estoque e do fluxo de caixa. Excepcionalmente neste ano haverá eleição e Copa do Mundo, que devem comprometer as vendas no último trimestre”.
Bruno comenta que sempre no início do ano as metas são traçadas e que, historicamente, o segundo semestre é melhor do que o primeiro. “Em todos os anos, a gente nota uma melhora a partir de agosto, que é um mês com bastante dias úteis. Aqui na região, por ter muitas oficinas pequenas, as pessoas já começam a agendar a revisão para as férias. O forte do nosso mercado é o segundo semestre. Acreditamos que este será melhor do que o primeiro semestre e melhor do que o mesmo período de 2021”, conclui.
Fonte: Balcão Automotivo