Por Karin Fuchs
À frente do Sistema Sincopeças Assopeças Assomotos (SSA-CE), Ranieri Leitão tem sido um forte incentivador para a formação profissional de jovens para atuarem no setor de autopeças, e duas iniciativas merecem destaque, a parceria com escolas profissionalizantes estaduais para incluir a qualificação para o setor automotivo e a criação do Instituto Autop, que tem como um dos seus pilares a qualificação profissional, conforme ele nos contou nesta entrevista.
Balcão Automotivo – Quais são as iniciativas para atrair jovens para o varejo de autopeças?
Ranieri Leitão – O varejo de autopeças enfrentou o desafio de renovação e atração de novos talentos, e, para isso, algumas iniciativas foram realizadas. No Ceará, uma das estratégias adotadas foi a parceria com escolas profissionalizantes estaduais para incluir a qualificação para o setor automotivo, formando os jovens para ingressarem no mercado de trabalho com mais conhecimento e qualificação, entretanto, como a carência é muito grande, não conseguimos suprir, nem de longe, as necessidades do varejo de autopeças.
Além disso, criamos o Instituto Autop, que tem como um dos seus pilares a qualificação profissional. O Instituto surge como uma plataforma para capacitar, desenvolver habilidades técnicas e promover o conhecimento sobre o setor automotivo. Nosso objetivo é tornar o segmento do varejo mais atrativo para os jovens, mostrando as oportunidades de crescimento e carreira que o setor de autopeças pode oferecer.
BA – Das escolas do Ceará, quantos alunos já foram direcionados para o varejo de autopeças?
RL – Já tivemos cerca de 1100 alunos formados por escolas profissionalizantes em tempo integral estaduais do Ceará, que foram direcionados para atuar no setor de autopeças. Este número tende a crescer com o fortalecimento das parcerias entre o setor e as instituições de ensino, porém, o segmento de varejo absorveu menos de 10% deste número.
BA – E qual é a expectativa com o Instituto Autop?
RL – Com o Instituto Autop, nossa expectativa é ampliar significativamente essa inserção, oferecendo capacitações mais direcionadas às necessidades do mercado e criando conexões diretas entre os jovens e as empresas do setor. Além de cursos técnicos, queremos oferecer treinamentos práticos, mentorias e oportunidades reais de estágio e emprego, garantindo que os novos profissionais estejam preparados para os desafios do setor.
BA – Em sua opinião, o que falta para o varejo de autopeças atrair mais jovens?
RL – O que falta, principalmente, é a visibilidade do setor por parte dos jovens. Muitos desconhecem as oportunidades que o varejo de autopeças oferece, seja como balconista, gestor de estoque ou até mesmo empresário. A maioria das pessoas associa o setor apenas à venda de peças, mas há uma gama de oportunidades ligadas à tecnologia, logística, atendimento especializado e inovação.
BA – O que podemos destacar de atrativos do varejo de autopeças?
RL – Os principais atrativos da profissão são a possibilidade de crescimento, é um setor onde quem se dedica pode crescer rapidamente, passando de balconista a gerente ou até proprietário de loja; conhecimento técnico valorizado, profissionais bem treinados e com conhecimento técnico são altamente valorizados no setor, e inovação e tecnologia, com a digitalização e a modernização do setor, há cada vez mais oportunidades para jovens interessados em tecnologia e automação de processos. O desafio consiste em comunicar essas vantagens de uma forma mais clara e atrativa para as novas gerações.
BA – O que seria relevante para as autopeças atraírem e reterem os jovens?
RL – As novas gerações buscam mais do que apenas um emprego – elas querem um propósito e uma trajetória de crescimento. Por isso, as empresas que oferecem planos de carreira estruturados e benefícios como treinamentos contínuos, incentivos educacionais, bonificações por desempenho e reconhecimento profissional, proporcionam esses talentos com mais facilidade.
Se o jovem entra no setor sem uma perspectiva de evolução, há grandes chances de ele buscar outras áreas. Por isso, é essencial que o varejo de autopeças crie programas internos de capacitação e progressão na carreira, garantindo que os funcionários exerçam um futuro dentro da empresa.
BA – Os jovens gostam de ter flexibilidade, como as autopeças podem se adaptar nesse modelo?
RL – Depende do modelo de negócio e da estrutura da empresa. No atendimento ao público, a flexibilidade de horários pode ser um desafio, pois as lojas precisam manter uma equipe disponível durante todo o expediente.
No entanto, algumas estratégias podem ser adotadas, como escalas de trabalho diferenciadas, turnos alternados e até oportunidades para trabalho remoto em setores administrativos e de vendas online. O importante é entender que os jovens valorizam a flexibilidade, então, encontrar formas de equilibrar essa demanda com a operação do negócio pode ser um diferencial na atração e retenção de talentos.
BA – Nas lojas, quais dicas podemos dar para incentivar balconistas experientes a mentorar os mais jovens?
RL – A troca de conhecimento entre gerações é essencial para fortalecer o setor. Algumas sugestões para incentivar os balconistas mais experientes a mentorar os jovens incluem:
Valorizar a experiência dos veteranos: Mostrar que seu conhecimento é um ativo importante para a empresa e que compartilhar isso fortalece toda a equipe.
Criar programas de mentoria estruturados: Definir um tempo específico para que os mais experientes possam ensinar os mais novos.
Oferecer incentivos: Reconhecimentos financeiros ou premiações podem ser uma forma de estimular essa troca.
Fomentar um ambiente colaborativo: Destaque a importância de ajudar os novos profissionais, não como uma ameaça, mas como uma forma de manter a tradição e a expertise do setor.
Quando o conhecimento é compartilhado, todos ganham: os jovens aprendem mais rápido e os experientes se sentem mais valorizados.
BA – Finalizando, quais dicas você daria aos jovens para se engajarem no setor?
RL – Para atrair e engajar os jovens no setor, é fundamental criar um sentimento de pertencimento e mostrar que há oportunidades reais de crescimento. Algumas estratégias incluem:
Incentivar a participação em eventos e feiras: Possibilitar que os jovens conheçam as novidades do setor, ampliem sua rede de contatos e vejam na prática o impacto do mercado de autopeças.
Criar campanhas motivacionais: Contar histórias reais de profissionais que começaram de baixo e cresceram na profissão inspirando e motivando novos talentos.
Oferecer desafios e prêmios: Gamificação, concursos e incentivos por desempenho podem ser uma forma interessante de estimular o engajamento, como também incentivo à certificação do vendedor de autopeças através do Instituto de Qualidade Automotiva – IQA.
Estimular a inovação: Abrir espaço para que os jovens tragam ideias novas para a empresa, como melhorias no atendimento, redes sociais ou digitalização de processos.
O varejo de autopeças tem um grande potencial para atrair talentos, e, ao investir nessas ações, as empresas conseguem tornar o setor mais dinâmico e atraente para as novas gerações.
Fonte: Balcão Automotivo
