Oito em cada dez consumidores brasileiros consideram o preço como principal critério de compra, de acordo com a última edição do FCI (Future Consumer Index), estudo global produzido pela EY. “A definição correta do preço é muito relevante em qualquer cenário, especialmente para as empresas do varejo, cujos produtos e serviços são vendidos diretamente para o consumidor final. Esse trabalho de precificação ganha complexidade no cenário da reforma tributária, que trará impactos enormes para todas as empresas, muitos deles ainda não mensurados ou de difícil mensuração”, diz Cristiane Amaral, sócia da EY e líder do segmento de consumo, produtos e varejo para América Latina, que palestrou no evento Future of Tax Consumer, realizado pela EY em São Paulo.
Ainda segundo a executiva, as análises precisarão ser feitas de forma ágil para reagir satisfatoriamente a movimentos como esse de como precificar em um cenário de implementação gradual da reforma a partir do próximo ano. “Estamos falando de olhar, por exemplo, para a malha logística e para os canais de distribuição, encontrando fontes alternativas na cadeia de distribuidores. Até mesmo os concorrentes de hoje poderão não ser mais os de amanhã, o que mostra o tamanho dessa transformação”, completa.
Além do preço, o FCI mais recente indica que o consumidor brasileiro está atento à saudabilidade, sustentabilidade e disponibilidade dos produtos ofertados. “Dependendo de onde a empresa se instale ou decida priorizar suas instalações e distribuição, ela pode perder em algum ou alguns desses aspectos, motivo pelo qual a análise do negócio deve ser cuidadosa e começar agora”, finaliza.
Para Tatiane Redondo, sócia de tributos indiretos da EY Brasil, o impacto no preço para o consumidor no setor de bens de consumo será alto. “É provável que esse aumento seja sentido na gôndola do mercado a partir de 2026, embora o varejo saiba que o orçamento do consumidor já está bem apertado”, diz a executiva, que também palestrou no evento realizado pela EY. Ela lembra que há ainda o desafio para o varejo de como apresentar para o consumidor essa nova tributação, especialmente no período de transição em que os dois sistemas tributários serão aplicados ao mesmo tempo. “Não se sabe ainda se a tributação do novo regime já vai integrar o preço ou se será adicionada ao produto no caixa, na hora de o consumidor pagar”, complementa.
Prioridades de agora e para a transição
Alguns passos devem ser tomados desde agora como a maximização da rentabilidade dentro das regras tributárias atuais; mudanças de fluxos de mercadorias entre os sites existentes; análise e tomada de decisão sobre a infraestrutura de centros de distribuição e de fábricas; revisão do go-to-market à luz dos futuros impactos da reforma; e consumo do saldo credor de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). A partir do ano que vem e durante o período de transição, a orientação é adequar a malha para maximização de competitividade; reorganizar os fluxos de mercadorias entre os sites existentes e novos; e implementar mudanças de médio a longo prazo, como abertura de centros de distribuição, ampliação de linhas de produção e novas plantas.
“Na Criteo, já passamos pela primeira etapa da modelagem para entender efetivamente os impactos da reforma tributária no nosso negócio, mas ainda não sabemos com precisão os reflexos disso para nossos fornecedores e clientes”, explica Ligia Vendrami, gerente financeira da empresa, que também esteve no Future of Tax Consumer. Ainda segundo a executiva, a Criteo, uma empresa de tecnologia e marketing digital, por estar no meio da cadeia, não terá os mesmos impactos das varejistas, que vendem para o consumidor final. “De qualquer forma, são muitos os desafios neste momento, com destaque para a questão sistêmica de como se adequar em relação à emissão de nota fiscal. Por isso, estamos inicialmente centralizando na área financeira a adequação à reforma tributária, mas sabemos que os impactos precisarão ser tratados por todo o negócio em eventuais ajustes de precificação e de contratos, por exemplo”, finaliza.
Por fim, Bruna Felizardo, sócia de tributos indiretos da EY Brasil, destaca que a prioridade das organizações, independentemente do seu setor de atuação, deve ser aproveitar da melhor forma sua força de trabalho para assegurar a conformidade com a reforma, principalmente neste primeiro momento que exigirá mais das empresas. “O uso da tecnologia nesse processo é indispensável, liberando tempo dos profissionais para as tarefas mais desafiadoras e que exigem amplo conhecimento do negócio”, afirma.
Fonte: Novo Varejo