Por Soraia Abreu Pedrozo
Prestes a completar um mês no cargo de presidente executivo da Anip Rodrigo Navarro já participou de três rodadas de conversas com o governo federal, sendo que a última, na semana passada, foi com o vice-presidente da República e ministro do MDIC, Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. O objetivo foi pleitear que o Planalto negocie com Donald Trump, presidente estadunidense, a postergação do início da sobretaxação de 50% aos produtos brasileiros, anunciada para 1º de agosto.
A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos passou a integrar grupo de trabalho para fornecer todo tipo de informação que o governo requerer a fim de que tenha mais munição para negociar com o governo estadunidense. O pedido encabeçado por Navarro é de que, se não for possível rever a decisão, que ao menos ela demore sessenta, noventa ou mais dias para vigorar, para que dê tempo à indústria de pneumáticos discutir alternativas e, até, eventualmente, redirecionar seus produtos para outros destinos.
“O principal ponto é que este é um jogo em que todos perdem. A medida claramente tem questões que transcendem a natureza comercial, uma vez que há mais de dez anos os Estados Unidos são superavitários com relação ao Brasil”, afirmou Navarro em entrevista à Agência AutoData. “Buscamos, portanto, a possibilidade de obter solução baseada no diálogo e em dados, principalmente, para mostrar que o impacto não será somente para o Brasil.”
Ele citou que o tarifaço pode gerar desabastecimento e inflação no mercado estadunidense ao criar cenário de instabilidade e insegurança, o que é ruim para todos. Ao longo do ano passado, ele recordou, as fabricantes instaladas no Brasil exportaram 9 milhões 831 pneus, 20% do volume produzido, “e isto equivale a uma fábrica de médio a grande porte de pneus de passeio e de carga”.
Deste total 33%, ou 3,2 milhões de unidades, foram embarcadas para os Estados Unidos, o maior mercado externo do setor. Em segundo lugar ficou a Argentina, com 21% ou 2,1 milhões de pneus e, em terceiro, o México, com 17% ou 1,6 milhão.
Para este ano a tendência permanece: de janeiro a junho foram exportados 5,5 milhões de pneus, 22% do total produzido: 35,3% foram enviados para os Estados Unidos, ou 1,9 milhão de unidades, a Argentina comprou 24,6%, ou 1,3 milhão, e o México 15,3%, ou 841 mil unidades.
“São destinos importantes e quantidades relevantes e, certamente, um dos canais que as indústrias associadas à Anip têm para escoar a produção dada a dificuldade do mercado interno, com esta competição muitas vezes injusta com relação à importação. Temos um associado que montou operação para atender especificamente os Estados Unidos.”

A significativa quantidade de pneus exportada ao México também representa impacto indireto porque o país embarca boa parte de sua produção de veículos para os Estados Unidos. Recentemente os mexicanos elevaram o imposto de importação para 35%, ou seja: já existe uma barreira.
No Brasil, a tarifa é de 25% e o setor pleiteia que este porcentual seja mantido: “Se estas medidas não tivessem sido adotadas a situação poderia estar pior”. Em 2019 quase 70% do mercado de reposição era atendido por produtos nacionais e, o restante, por importados. Hoje 54% vêm de outros países e 46% são fabricados localmente.
Governo sinalizou que está aberto a negociar
De acordo com Navarro o governo federal sinalizou que mantém-se aberto à negociação com a Casa Branca, e que aguarda a resposta das manifestações que foram enviadas. Caso as tentativas do Brasil não sejam bem sucedidas o dirigente vê reflexos imediatos em projetos que foram pensados tendo os Estados Unidos como principal alvo no ritmo de linhas de produção, o que pode desencadear alta no desemprego – hoje o setor emprega 32 mil pessoas –, e até mesmo o risco de fechamento de fábricas.
“Não é possível desviar a produção de forma instantânea, pois há a necessidade de homologação do produto para comercializá-lo em cada localidade. Isto pode fazer parte dos planos das empresas no médio e longo prazo. Mas, no curto prazo, o objetivo é evitar que essa sobretaxação se consolide.”
No Brasil existem 21 unidades produtivas de pneus, pertencentes a onze companhias, em sete estados, a maior parte delas em São Paulo, nove, ao todo. Não à toa responde por 52,7% das exportações de janeiro a junho, sendo que em 2024 a fatia foi de 49,4%.
Na sequência a Bahia, que concentra três unidades, é responsável por participação de 21,9% no primeiro semestre, que no ano passado inteiro foi de 24,3%. Também contribuem com as exportações fábricas no Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
A Anip também reuniu-se com os governos estaduais de São Paulo e Bahia a fim de pedir reforço na interlocução com o governo federal.
Fonte: AutoData