Por Alzira Rodrigues
Apesar do aumento de 24,5% das exportações para a Argentina no acumulado até maio, a indústria brasileira de autopeças registra evolução nos negócios externos de apenas 4,6% no período, reflexo da queda das vendas destinadas aos Estados Unidos e México, seus dois principais parceiros após o país vizinho.
As exportações para o mercado estadunidense recuaram 6,5%, de US$ 564,9 milhões para US$ 528,2 milhões, e para o mexicano o tombo foi ainda maior, de 27,8%, de US$ 389,9 milhões para US$ 281,4 milhões.
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Apesar de haver outros fatores, o tarifaço de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, com sobretaxa de 25% sobre as autopeças, é o principal causador das referidas quedas, como explica Carlos Cavalcanti, assessor de economia do Sindipeças e Abipeças:
“Pela nossa avaliação, tem sim a ver com o tarifaço de Trump. Há outros componentes, como a desaceleração das vendas do setor automotivo nos Estados Unidos no comparativo do primeiro trimestre deste ano com o último de 2024, mas a sobretaxa de 25% não só afetou nossas vendas diretas como favoreceu fornecedores de países como maior competitividade que a nossa”.
Cavalcanti comenta que em função do Custo Brasil, países da Europa, do Leste Europeu e também da Ásia têm maior margem para compensar as sobretaxas impostas pelos Estados Unidos: “As medidas de Trump acirraram a disputa comercial no mundo e no Brasil temos custos, como o dos juros a 15% ao ano, que outros países não têm”.
Também a queda nas exportações para o México tem a ver com o tarifaço dos Estados Unidos, visto que a produção naquele país foi afetada pelas decisões de Trump. “A indústria automotiva mexicana fornece mais para outros mercados, principalmente o estadunidense, do que para consumo interno. Com a produção menor, a compra de autopeças caiu”.
Diante desse cenário, o que está salvando as exportações brasileiras é o bom momento do mercado argentino e de outros mercados menores que têm comprado mais do Brasil em função de ações do Sindipeças no exterior. As vendas para o país vizinho passaram de US$ 1 bilhão nos primeiros cinco meses do ano passado para US$ 1,29 bilhão este ano.
Exportações
Diante do aumento de apenas 4,6% nas exportações, com a venda de US$ 3,3 bilhões este ano, e de alta de 14,4% nas importações, com compras da ordem de US$ 9,5 bilhões, o déficit comercial do setor de autopeças chegou a US$ 6,17 bilhões no acumulado até maio, valor 20,5% superior ao registrado no mesmo período de 2024 (US$ 5,13 bilhões).
A China segue como principal fornecedor de autopeças para o Brasil, com venda de US$ 1,72 bilhão até maio, alta de 21,5% no comparativo interanual.
Reflexo da invasão de carros chineses no mercado brasileiro, esse quadro não deve mudar a curto prazo em função da decisão das montadoras chinesas de montarem carro no Brasil a partir de unidades SKD e CKD, caso da BYD que inaugura fábrica em Camaçari na semana que vem.
Na avaliação de Cavalcanti, o tarifaço de Trump foi decisivo na estratégia chinesa de buscar novos mercados e os fabricantes de lá decidiram eleger o Brasil como “bola da vez”.
“Pelas nossas contas, são dez marcas chinesas candidatas a produzir aqui. A questão é saber se há espaço para todos e o quanto isso vai refletir em uma verdadeira guerra de preços internamente. Certo é que as montadoras aqui instaladas já estão oferecendo produtos com preços mais competitivos, o que em última instância é positivo para o consumidor”, avalia Cavalcanti.
Fonte: AutoIndústria – Foto: Divulgação