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Sem regras do Mover, montadoras de veículos cogitam revisar investimentos no país

Fabricantes expõem insatisfação com o atraso na criação das regras da política industrial sancionada em junho do ano passado

09/04/2025

Por Bruno de Oliveira

Até que demorou para as montadoras de veículos instaladas no país apresentarem os primeiros reflexos do atraso das regras do programa Mover em suas operações locais.

Na terça-feira, 8, o atual presidente da Anfavea, Marcio de Lima Leite, afirmou que as fabricantes estão revendo os seus investimentos anunciados para a região por causa da ausência de regulamentação.

O que representa um certo baque para o setor e, também, para o Governo Federal – vale lembrar que os investimentos conjuntos anunciados na esteira do Mover, R$ 65 bilhões, motivaram efusivos festejos nas fábricas e em Brasília (DF).

Montadoras voltam a reclamar da previsibilidade

O programa Mover foi sancionado como política industrial em junho do ano passado com promessa de criação de suas regras nos meses seguintes, o que não ocorreu e incomoda as fabricantes.

“Não temos os números, mas as montadoras já estão revendo os seus investimentos no região. Falta previsibilidade”, disse o presidente da Anfavea durante divulgação de balanço do setor.

Ainda que a entidade tenha vindo a público pela primeira vez para reclamar a falta de regulamentação, não informou, contudo, o que estaria atrasando o processo.

“Está nas mãos da Fazenda”, se limitou a dizer o presidente da Anfavea em sua última coletiva de imprensa à frente da entidade.

Não está claro, contudo, se falta consenso entre as fabricantes de veículos sobre pontos da regulamentação, como critérios para concessão do IPI Verde ou temas ligados à reciclagem dos modelos produzidos no país.

O fato é que a reclamação das montadoras representa um primeiro entreveiro entre fabricantes e governo, que viveram período de lua de mel à época do anúncio dos investimentos, em 2024.

A relação está longe de estar abalada em suas estruturas, a julgar pelo tom do discurso da Anfavea a respeito dos temas que lhe incomodam. A parceria ainda é amistosa.

Mas não há como negar que cresce a lista de entraves cujas resoluções passam pela caneta do poder público.

Se soma a ela, além da falta de regulamentação do Mover, outros assuntos correlatos aos investimentos, ou à falta deles.

Ociosidade das fábricas mexicanas preocupam

Um exemplo disso é uma eventual capacidade ociosa que poderá surgir nas indústrias automotivas de mercados afetados pelo tarifaço de Donald Trump, como o México.

A lógica da Anfavea é a seguinte: uma vez que o México venha a perder volume de produção em suas fábricas por causa do protecionismo dos Estados Unidos, as matrizes das montadoras terão de ocupá-la de alguma forma.

Isso porque o México, assim como Coreia do Sul, Japão e China e outros afetados pelo tarifaço, são vistos como países onde a produção de veículos é mais competitiva do que a realizada na América do Sul, em termos fiscais e de custo.

“O bolso [das montadoras] é um só. O acionista vai destinar os investimentos para onde é mais viável o retorno”, disse o presidente da Anfavea, expondo um temor de que os investimentos anunciados para o Brasil migrem para outros lados.

Passa a figurar também na lista de imbróglios um pedido que estaria sendo negociando pelos corredores da capital federal.

Redução do imposto para CKD é visto como ameaça

Sem mencionar quem estaria por trás de tais conversas na surdina, o presidente da Anfavea revelou que interlocutores pedem a redução do imposto de importação de partes e peças para produção CKD realizada no país.

Fontes ligadas à indústria ouvidas pela reportagem disseram, em off, que o pedido partiu da montadora BYD em reunião na Câmara de Comércio Exterior (Camex).

A fabricante tem planos de iniciar produção em Camaçari (BA) por meio de kits de peças importadas da China antes de produzir veículos com conteúdo local.

A reportagem procurou a fabricante e aguarda um posicionamento a respeito do tema.

“Essa medida, se passar, vai afetar a produção de veículos nacional, ameaçando fuga de investimentos e redução do emprego”, disse Leite. O clima é quente.

Fonte: Automotive Business

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