Por Karin Fuchs
Para muitos, as grandes oportunidades profissionais estão nas metrópoles. Entretanto, Thiago Gaudêncio, headhunter e sócio da Wide Executive Search, uma boutique de recrutamento executivo focada em posições de alta e média gestão, discorda que isso seja uma verdade absoluta. “Excelentes vagas e carreiras podem ser conquistadas em cidades menores, mas, são poucos os que se abrem a essas possibilidades, o que desencadeia, nessas regiões, uma maior dificuldade em atrair mão de obra qualificada e, com isso, expandir seu potencial econômico”, afirmou.
Questionado sobre como os varejistas de autopeças fora dos grandes centros podem atrair profissionais, Gaudêncio disse que a atração está diretamente relacionada a fatores que sejam fortalezas das cidades menores. “Por exemplo, a qualidade de vida, custo de vida menor, maior segurança e menor tempo para se deslocar de um lugar ao outro. Ou seja, tudo que permeia isso, uma vida mais tranquila, no sentido de menos estresse”.
Para se valerem dessas vantagens, Gaudêncio explicou que as empresas devem ofertar um projeto pautado nessas questões para as pessoas que estão dispostas a contratar. “Claro que, quando se fala de uma atividade como de vendedor, a gente olha muito claro para a remuneração variável. Não é incomum as organizações que têm vendedores trabalhando de uma forma bastante propositiva, o que acho bastante benéfico de oferecer, talvez, de uma forma um pouco mais “agressiva”, para que a gente possa levar as pessoas de um grande centro para lá, sem desequilibrar a questão da política salarial da organização”, acrescentou.
Ele disse também que vê de forma bastante interessante essas empresas que têm um plano de carreira. “Ou seja, olhando para esses vendedores como potenciais líderes e executivos e proporcionando para eles esse desenvolvimento do capital humano, seja através de programas de treinamento, ou programas junto com entidades como o Senai, por exemplo, que está bastante presente nas cidades do interior. Firmar parcerias, de repente, até com cooperativas de crédito, falando de como investir e como se preparar para o futuro. Acho que olhar para essa jornada do colaborador e fazê-lo mais protagonista da sua carreira, dando mais subsídio, tem tudo a ver com a proposta da cidade do interior, de olharmos mais para as pessoas e para essa qualidade de vida”.
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Está pronto para a mudança?
Para os vendedores tomarem uma decisão, Gaudêncio colocou algumas questões a serem analisadas. “A gente sempre recomenda que, antes de qualquer mudança, o executivo, minimamente, vá até a cidade com a sua família, que ele está se propondo mudar. Especialmente, no caso de ter mulher e filhos. Por quê? Porque o executivo, o vendedor, a pessoa que vai trabalhar, ele, evidentemente, vai focar a sua avaliação na empresa. E, provavelmente, esse vai ser o primeiro ponto de decisão dele. No caso de a pessoa ser casada, outros membros da família que também vão sentir esse impacto. Por isso, também é importante avaliar a escola, a segurança, onde vai morar, o bairro, a loja. Se é longe, perto, avaliar possibilidades de moradia”.
Outro ponto colocado por ele é a questão de logística no âmbito pessoal. “Dependendo da região, do Estado, da localização, é importante avaliar como é que chega nesse lugar. Se é difícil, fácil, tem aeroporto perto, dá para ir de carro, ou tem que ir de avião, tudo isso tem um impacto. Às vezes, a proposta de trabalho pode ser muito boa, mas a pessoa acaba se esquecendo do resto. Esse ponto é importante, justamente, para que não venha uma frustração no meio do caminho. Por fim, eu diria também que, mais do que avaliar somente a oportunidade, é preciso avaliar a cidade, a região, e a empresa (se é uma empresa legal, tem investimento nas pessoas, se conseguirá desenvolver). Esses pontos devem ser considerados com bastante cautela, para que, no fim do dia, seja um movimento positivo”, ressaltou.
Qualidade de vida
Outro atrativo das cidades menores que pode impactar na decisão de mudança é a qualidade vida por elas proporcionada. “Eu diria que isso é obrigatório, e tem que ser levado em conta, pois precisa ser vantajoso, se não, ficará muito difícil a pessoa topar sair de um grande centro. No entanto, no interior, você tem muito menos gente disputando as posições, o que é uma ótima vantagem. No geral, é preciso se pautar muito nessas questões da movimentação, olhando para a remuneração e para a qualidade de vida. Um dos fatores mais determinantes, e que mais pesa no momento de o executivo escolher se movimentar para uma cidade fora dos grandes centros, é a oferta de benefícios e planos de carreira na jornada no colaborador, o que mostra que a empresa não tem somente um discurso bonito, mas um esforço genuíno em fazer disso uma realidade”, afirmou.
Flexibilidade de horário
Muito debatido nos dias de hoje, a flexibilidade de horário dos trabalhadores, em especial no comércio, tem causado muita polêmica. Gaudêncio acredita que essa flexibilidade tem a ver com o trabalho híbrido, algo que acaba sendo mais difícil quando falamos sobre vendedores do mercado automotivo. “Então, o que acredito que possa ser feito é, de repente, a empresa criar um canal de venda online onde esse vendedor possa auxiliar nesse projeto de maneira remota, de forma que também tenha tempo da sua jornada de casa. Isso pode ser uma alternativa para empresas que atuam no interior, mesmo que muitas pessoas dessas regiões ainda prefiram estar presencialmente nas empresas por não enfrentarem grandes empecilhos de locomoção, como vemos, por exemplo, em São Paulo”, finalizou.