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Ainda existe espaço no mercado brasileiro para mais SUVs?

05/11/2021

Renault prepara a chegada do Bigster

Eles pareciam inofensivos e pertencentes a um segmento totalmente nichado até meados da década de 2010. O Ford EcoSport já demonstrara o potencial de abrangência que esse tipo de produto poderia ter em nosso mercado, mas foi só em 2015, com a chegada de Honda HR-V e Jeep Renegade, que a porteira se arrebentou de vez.

Desde então, as fabricantes só pensam e falam sobre uma coisa: SUV. E isso vale tanto para utilitários esportivos legítimos até aqueles que se disfarçaram e vêm forçosamente sendo classificados como tal.


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Seja como for, o fato é que o denominado segmento de SUVs compactos rapidamente se saturou com a chegada de Hyundai Creta, VW T-Cross, Nissan Kicks, novo Chevrolet Tracker e cia. Tudo parecia ter se acomodado, mas a Stellantis, com o Jeep Compass, mostrou que haveria (e ainda há) diversos outros caminhos a serem explorados.

E se agora o próprio Compass parece ter encontrado no Toyota Corolla Cross e no Volkswagen Taos dois rivais sedentos por clientes, em uma demarcação territorial tripla que talvez seja difícil de romper, o jeito será seguir ampliando horizontes e caçando modos de ocupar cada brecha, cada território, cada faixa de preço ainda não explorada no universo dos SUVs.

Porque, ao que tudo indica, os SUVs vão mesmo tornar carrocerias como as de hatches e sedãs cada vez mais raras. E isso vale até mesmo para as áreas mais populares do mercado. Vejamos o caso dos novos SUVs pequenos ou de entrada. 

Hatches disfarçados de SUVs populares

Quem iria prever, em 2014, que seis anos depois a indústria teria criado um segmento formado por modelos que não apenas compartilham a plataforma com hatches e sedãs compactos, mas sim herdam dos hatches toda sua estrutura, disfarçando-se de SUV através de truques visuais e um vão livre do solo maior?

Pois hoje temos Caoa Chery Tiggo 2 e 3X (derivados do Celer), Honda WR-V (cria do Fit), VW Nivus (Polo), Fiat Pulse (Argo) e até o injustiçado JAC T40, surpreendentemente pioneiro entre todos eles, para provar o quanto as fabricantes podem ser inventivas para entregar o que os consumidores querem – carros altinhos e larguinhos – investindo o mínimo possível.

Chamado tecnicamente de CUV (sigla na qual o C representa “crossover” e substitui o “sport” do SUV), esse segmento deve ganhar cada vez mais notoriedade em nosso País, ávido por carros com boa altura do solo, mas que não aceita mais comprar versões espalhafatosamente fantasiadas de aventureiras, como os extintos VW CrossFox e Fiat Idea Adventure.

Honda estuda produzir o BR-V

Ou você acha que foi por acaso que o Fiat Pulse nasceu com motor 1.3 (manual ou CVT) nas versões de entrada, ocupando a mesma faixa de preços do Argo Trekking? A ideia é que, aos poucos, os SUVs em miniatura se tornem os carros populares.

Que o diga o novo Citroën C3, que surgirá com todos os atributos de um SUV popular no princípio de 2022. VW e Toyota já preparam seus substitutos para Gol e Yaris nos mesmos moldes, como já contamos nesta outra coluna, enquanto a Renault deve desistir do Sandero, mas investir em um sucessor para o Stepway, inspirado em Nivus e Pulse, entre 2024 e 25.

SUVs de sete lugares

E há terreno para mais. Os SUVs de sete lugares também devem começar a povoar nossas ruas com mais afinco nos próximos verões, e não estou falando apenas do grandalhão Jeep Commander, um modelo de segmento D (grande), baseado em um SUV médio de cinco lugares (C), o Compass.

A Hyundai tem tudo para lançar no Brasil em breve o Creta Grand ou Alcazar, versão de sete lugares do Creta, um SUV compacto (segmento B). A própria Renault prepara para 2024 o Bigster, versão de sete lugares e aprimorada do Duster, enquanto a Honda estuda produzir no Brasil a nova geração do BR-V. Ao mesmo tempo, a Chevrolet fará mudanças profundas para tornar a Spin um concorrente mais competitivo nesse novo nicho.

SUVs cupês

Isso sem falar nas possibilidades de criar derivações cupê de SUVs pequenos (como o próprio Nivus já faz e como o Fiat Fastback fará a partir de 2022), compactos (caso da segunda geração do Honda HR-V), médios ou grandes. O solo é fértil e o limite pode ser o céu.

Gostemos ou não de SUVs, é bom nos prepararmos, porque eles seguirão ocupando cada vez mais espaço, deixando hatches e sedãs cada vez mais sufocados. Quem quiser sobreviver a essa onda terá que ser um SUV, ou pelo menos se vender como um. A exceção talvez esteja nas picapes, mas isso é tema para outra coluna. 

Leonardo Felix é jornalista especializado na área automobilística há 10 anos. Com passagens por UOL Carros, Quatro Rodas e, agora, como editor-chefe da Mobiauto, adora analisar e apurar os movimentos das fabricantes instaladas no país para antecipar tendências e futuros lançamentos.

Fonte: Automotive Business

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