Por Karin Fuchs
A TCP Partners, boutique de investimentos, gestão e fusões & aquisições, realizou um estudo que contempla vários dados sobre o setor de transportes terrestres, a partir de várias fontes, entre elas, o IBGE, Rodobens e a Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Entre as constatações, são cerca de 134 mil empresas de todos os portes neste setor, juntas elas empregam cerca de 1,1 milhão de pessoas e 59,3% das empresas têm mais de 20 anos. De acordo com dados do IBGE, em 2020, a receita líquida do setor foi de aproximadamente R$ 268 bilhões, um crescimento de 0,6% em relação ao ano de 2019. Com a retomada da economia em 2021, estima-se que a receita líquida foi
R$ 307 bilhões, um aumento de 14,5% em relação a 2020. De 2019 a 2023, a taxa de crescimento médio anual será de 10,1%, influenciada pelos setores do agronegócio, mineração, construção e e-commerce.
Para este ano, a estimativa é de um crescimento entre 1% e 1,5%, enquanto analistas do setor financeiro preveem um crescimento de apenas 0,1% para o PIB. Os principais impulsionadores do setor de transportes são o agronegócio, e-commerce, construção civil e a mineração.
Dinâmica do setor e custos
Ricardo Jacomassi, sócio e economista-chefe da TCP Partners, analisa que pela dinâmica do setor, o seu crescimento neste ano será praticamente o dobro do PIB Nacional. “Esse crescimento maior é por conta da safra recorde que teremos neste ano, em torno de 310 milhões de toneladas, e pela dinâmica do transporte de entregas expressas, teremos um crescimento bastante robusto para este ano. Isso acaba se refletindo no crescimento do PIB do Transporte”.
Em 2021, o PIB dos Transportes cresceu 6,7%, superando em dois pontos percentuais do PIB, que cresceu 4,7%. O setor de transportes tem uma relação direta com a dinâmica da economia. No primeiro ano da pandemia (2020), o PIB de Transportes teve queda de 8,4% enquanto o PIB caiu 3,9%.
Ele acrescenta que o baixo crescimento do PIB Nacional traz impactos para o setor. “Isso faz com que o transportador fique receoso se haverá carga para transportar. O baixo crescimento da economia é um ponto importante e os custos são desafiantes para o setor. O custo de capital de giro para a operação está entre 15% e 20%, dependendo da qualidade da empresa. Há um ano e meio, esse custo estava em torno de 10% a 12%”.
Outro desafio que ele coloca é o preço das peças. “Mesmo agora normalizando, houve um impacto forte no preço, entre 20% e 25%, dependendo da peça”, diz. Além do preço do combustível. “Há uma insegurança sobre como serão praticados os preços pela Petrobras. Ainda é muito cedo para inferir alguma sugestão para onde vai a política de preço, mas é um assunto que está na mesa dos transportadores”, comenta Ricardo.
Pesa também a mudança de motorização. “Como o setor consome muito combustível fóssil e o governo atual está inclinando algumas políticas para isso, a gente vê uma aderência para mudanças de motorização mais eficientes. Isso implica também em custo. A mudança atual de motorização (Norma Euro 6 para a Euro 7) visando as práticas ambientais e ESG pode ser um ponto de desafio para quem tem o caminhão”.
Tendências
Entre as principais tendências, Ricardo diz que, de maneira geral, há uma preocupação em relação à eficiência operacional. “Eu vejo muita necessidade de digitalização das operações. Lógico que isso é investimento, custo de capital, mas nós estamos enxergando isso como uma tendência muito forte”.
Outra tendência colocada por ele é a de fusões e aquisições. “Mesmo que em 2022 tenha tido um volume menor de transações, nós estamos com a expectativa de que nos próximos dois ou três anos teremos uma onda bastante forte de fusões e aquisições no setor, muito mais com o objetivo de diversificar o portfólio do negócio, o seu mix, e acessar outros mercados”.
Profissionalização das empresas é outro ponto que ele destaca. “Muitas empresas do setor são familiares e elas não têm feito um trabalho muito sério de profissionalização. Um ponto de tendência que eu vejo para os próximos anos é a profissionalização de empresas familiares”, afirma.
Desafios para o setor
O estudo também apontou alguns desafios para o setor de transportes terrestres. São eles:
– Segurança no transporte: Um dos principais problemas causados por acidentes e roubo de carga é o elevado prejuízo econômico, que afeta toda a cadeia de suprimentos.
– Infraestrutura das estradas: O transporte de cargas no Brasil é feito na maior parte através das rodovias. Em 2021, o modal rodoviário foi responsável por 60% do movimento de cargas, seguido pelo ferroviário, com 20%, e aquaviário com 14%. A falta de conservação das estradas constitui um dos principais desafios da logística e tem impacto tanto na conservação da frota como no atendimento dos prazos de entrega.
– Custos operacionais elevados: A alta carga tributária brasileira que incide sobre os serviços de frete, gastos com combustíveis, seguros de carga e manutenção dos veículos, consomem uma fatia significativa dos lucros das empresas de logística. Em 2021, a carga tributária foi de 33,90% do PIB.
– Renovação da frota: Desde 2014, a renovação da frota vem desacelerando, a taxa média da renovação desde 2011 a 2021 foi de 7,1%. Segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito, há mais de 3,5 milhões de caminhões em circulação no Brasil. Do total, 26% foram feitos há mais de 30 anos, ou seja, são 910 mil veículos nessas condições.
Renovação da frota
Em especial sobre a renovação da frota, Ricardo tem know how a respeito do tema, por ter sido economista-chefe do Sindipeças e ter desenvolvido estudos junto ao grupo de fabricantes de peças para veículos pesados. “Esse assunto foi iniciado com mais ênfase entre 2011 e 2012. A evolução do plano atual começou lá atrás e eu acredito que é muito necessário ter um plano de renovação da frota, mas ao mesmo tempo, a gente tem os desafios que é a precificação e a inserção do caminhoneiro que está fora do sistema de transporte. Ele precisa se profissionalizar para acessar estas plataformas”.
Para ele, são vários desafios e até educacional para o programa de renovação. “Mas eu vejo que é uma primeira etapa, pois a frota atual é poluente, a motorização é muita antiga, além dos acidentes. Uma frota mais nova significa redução de custo com o diesel e com manutenção. Tem vários componentes importantes para a renovação da frota. Eu sou um entusiasta deste assunto, pois como a nossa frota está envelhecendo, é importante a gente ter um programa que nos dê um norte”, conclui.
Par conhecer o estudo completo da TCP Partners, acesse: http://tcp-partners.com/pt/http-tcp-partners-com-wp-content-uploads-2022-10-estudo-setorial-de-transportes-terrestres_2022-compactado-pdf/
Fonte: Balcão Automotivo